Ainda inconformada com o vice-campeonato de 2019 (especialmente pela perda de 0,20 décimos por conta de penalizações), a Mocidade Unida da Glória (MUG) investe em um enredo que resgata as lendas indígenas capixabas para conquistar o seu oitavo título do Grupo Especial do Carnaval de Vitória.
A agremiação de Vila Velha promete um desfile de impacto, apostando na ausência de brilho excessivo, uma das características da escola. As alegorias - em número de 4, com a adição de dois tripés - vêm com um acabamento mais cru e rústico, com valorização, principalmente, da pintura e de esculturas criadas por profissionais da Festa de Parintins.
Com um orçamento previsto de R$ 1,5 milhões, a MUG traz o enredo Oby: O Imaculado Santuário das Lendas. Em pauta, a necessidade de mostrar o índio enquanto dono e soberano da terra, exaltando sua cultura e crenças.
Oby (verde, em Tupinambá) transforma um Espírito Santo ainda intocado (dos tempos de Barreira Verde) em um grande paraíso fantasioso. Quem apresenta a história é um náufrago holandês que passa a transitar entre as lendas, vivenciando histórias que, mais tarde, foram parar nos livros de escritores capixabas.
O desfile terá cinco setores, em que se destacam a origem dos montes Mestre Alvaro e Moxuara, que é a lenda do Pássaro de Fogo, a ave cúmplice da paixão proibida entre dois índios de tribos rivais. Haverá, também, a tribo cintilante, uma aldeia Aimoré escondida na floresta de Santa Teresa.
Tema do setor mais esperado do desfile da MUG, o canibalismo tribal, uma prática que virou lenda nos quatro cantos do mundo, vai explorar os boatos sobre os índios que comiam gente. A Comissão de Frente promete vir de Índios Botocudos e o abre-alas trará uma espécie de "Santuário Antropofágico". A escola de samba de Vila Velha será a terceira a desfilar no Sambão do Povo na noite de sábado, 15 de fevereiro
Presidente da Mocidade Unida da Glória desde 1986, Robertinho da MUG relembra o início da agremiação, ainda na década de 1970, desfilando como Bloco do Calção Vermelho. "Brincávamos nas ruas de Vila Velha. Era um grupo de amigos remadores do Álvares Cabral, Saldanha da Gama e Náutico Brasil. Depois, outros colegadas do Glória Futebol Clube resolveram participar da festa", relata, com nostalgia.
Nos anos 1980, já escola de samba, a MUG participava dos desfiles da Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vila Velha. "Era uma disputa bacana com a Arco-Íris, Unidos da Vila e Unidos de Marilândia. Depois de um tricampeonato, decidimos participar da competição com as coirmãs de Vitória, em 1985", detalha.
Com sete títulos do Grupo Especial do Carnaval Capixaba, a Mocidade Unida da Glória - uma das agremiações de maior torcida no Estado - ressalta seu momento de esplendor e de tristeza com a mesma devoção. "Nosso maior desfile foi em 2006, quando esbanjamos luxo e qualidade técnica com um enredo sobre o café. Mesmo assim, terminamos como vice-campeões. Um ano depois, aconteceu o nosso momento mais triste, o rebaixamento para o Grupo de Acesso", lamenta.
Um problema técnico com uma alegoria fez com que a MUG estourasse o tempo de desfile, perdendo pontos cruciais. "O carro alegórico quebrou a direção e fizemos das tripas coração para ele continuar. Quase morri tentando recolocá-lo na avenida. Sofri um acidente grave. Foi um momento de muita dor. Entramos na concentração campeãs e saímos da dispersão rebaixados", relembra.
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