Maior população carcerária no país, os negros também são as principais vítimas da violência. No Espírito Santo, a cor da pele ainda determina quem vai morrer. Estudos apontam que, em 2016, havia quatro vezes e meia mais mortes de negros do que de pessoas de outra cor ou raça no Estado. Por aqui, os indicadores de homicídios têm reduzido (37,2%, em 10 anos), inclusive entre negros, mas revelam também aspectos da enorme desigualdade racial.
Os dados são do Atlas da Violência, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e foram apresentados ontem. Lula Rocha, coordenador do Círculo Palmarino (movimento negro), divulgou nota em que ressalta o problema.
A diminuição da taxa de mortes de pessoas não negras é mais do que o dobro das negras. Isso nos coloca em 1º lugar na morte de negras e negros do Sudeste. Para ele, é fundamental o combate ao racismo.
Professor da Ufes, Antônio Carlos Moraes faz uma contextualização histórica, em que indica que a escravidão ainda não foi superada, e destaca: cometer um ato de violência contra uma pessoa de pele negra não gera constrangimento. Em sua opinião, a redução de índices no Espírito Santo não é significativa.
O estudo compara dados de uma década, entre 2006 e 2016, mas ressalta o período a partir de 2011, quando o Espírito Santo implementou o programa Estado Presente, que promovia ações sociais em bairros com alto índice de violência. Nesses cinco anos, o Estado passou do 2º lugar para o 19º no ranking de homicídios do país.
GREVE
Mas esse indicador pode sofrer um revés, já que, no ano passado, o Espírito Santo enfrentou a greve da Polícia Militar. Enquanto em 2016 foram 1.181 homicídios, em 2017 subiu para 1.405, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Outro dado do Atlas da Violência demonstra que, mesmo registrando índices altos, o Espírito Santo também teve redução nas mortes de jovens e mulheres.
No caso de feminicídios, o Estado se destaca como o que apresentou a maior queda (43,2%). Contudo, a taxa em 2016, de 5,2 por 100 mil habitantes, se mostrou superior à do país (4,5). Entre os que estavam na faixa de 15 a 29 anos, houve 71,5 mortes a cada 100 mil, naquele ano, enquanto a taxa nacional era de 65,5.
O secretário estadual da Segurança, coronel Nylton Rodrigues, reconhece que os números não são para comemorar mas, em sua opinião, indicam que o Estado está no caminho para a redução da criminalidade. Ele avalia que investimentos feitos no sistema carcerário, nas polícias e em ações como o programa Ocupação Social contribuem para a melhoria dos indicadores.
O coronel Nylton também acredita que, apesar de 2017 não ter sido um bom ano, 2018 vai recolocar o Espírito Santo no cenário de queda. A sua expectativa se baseia nos números dos primeiros meses que, segundo ele, são os menores registrados desde o início da série histórica, em 2001.
ESPÍRITO SANTO TEM TAXA PIOR QUE O BRASIL
Os dados do Atlas da Violência colocam todo o país em um sinal de alerta: o Brasil atingiu, pela primeira vez, a taxa de 30 assassinatos por 100 mil habitantes, indicador que é 30 vezes maior que o da Europa. O Espírito Santo, nesse cenário, está ainda pior, embora tenha registrado queda nos últimos anos. A taxa aqui é de 32.
Em 2016, o Brasil atingiu a marca histórica de 62.517 homicídios, segundo informações do Ministério da Saúde coletadas para o estudo. Apenas nos últimos 10 anos, 553 mil pessoas tiveram mortes violentas no país.
Outro indicador preocupante é o de mortes violentas indeterminadas, ou seja, não se sabe como a pessoa morreu. No Brasil, houve um crescimento de 12,3% nesse tipo de ocorrência, enquanto no Espírito Santo esse indicador disparou, com crescimento de 172%. Em 2016, 240 pessoas morreram de forma violenta, mas não foi possível detectar a causa.
O secretário estadual da Segurança, coronel Nylton Rodrigues, disse que esse é um tema que deverá ser discutido com a área da Saúde, mas ressaltou também o investimento que o Estado vai fazer este ano em perícia criminal: R$ 35 milhões que, segundo ele, deverão contribuir para a resolutividade de crimes.
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