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Negros foram quatro vezes mais vítimas de assassinatos no Estado

Negros foram quatro vezes mais vítimas de assassinatos no Estado

Dados do Atlas da Violência mostram aspectos da desigualdade racial

Publicado em 6 de junho de 2018 às 01:53

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Policiais em cena de homicídio: mortes diminuíram em 2016 e aumentaram em 2017 . (Bernardo Coutinho)

Maior população carcerária no país, os negros também são as principais vítimas da violência. No Espírito Santo, a cor da pele ainda determina quem vai morrer. Estudos apontam que, em 2016, havia quatro vezes e meia mais mortes de negros do que de pessoas de outra cor ou raça no Estado. Por aqui, os indicadores de homicídios têm reduzido (37,2%, em 10 anos), inclusive entre negros, mas revelam também aspectos da enorme desigualdade racial.

Os dados são do Atlas da Violência, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e foram apresentados ontem. Lula Rocha, coordenador do Círculo Palmarino (movimento negro), divulgou nota em que ressalta o problema.

“A diminuição da taxa de mortes de pessoas não negras é mais do que o dobro das negras. Isso nos coloca em 1º lugar na morte de negras e negros do Sudeste”. Para ele, é fundamental o combate ao racismo.

Professor da Ufes, Antônio Carlos Moraes faz uma contextualização histórica, em que indica que a escravidão ainda não foi superada, e destaca: “cometer um ato de violência contra uma pessoa de pele negra não gera constrangimento”. Em sua opinião, a redução de índices no Espírito Santo não é significativa.

O estudo compara dados de uma década, entre 2006 e 2016, mas ressalta o período a partir de 2011, quando o Espírito Santo implementou o programa Estado Presente, que promovia ações sociais em bairros com alto índice de violência. Nesses cinco anos, o Estado passou do 2º lugar para o 19º no ranking de homicídios do país.

GREVE

Mas esse indicador pode sofrer um revés, já que, no ano passado, o Espírito Santo enfrentou a greve da Polícia Militar. Enquanto em 2016 foram 1.181 homicídios, em 2017 subiu para 1.405, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

Outro dado do Atlas da Violência demonstra que, mesmo registrando índices altos, o Espírito Santo também teve redução nas mortes de jovens e mulheres.

No caso de feminicídios, o Estado se destaca como o que apresentou a maior queda (43,2%). Contudo, a taxa em 2016, de 5,2 por 100 mil habitantes, se mostrou superior à do país (4,5). Entre os que estavam na faixa de 15 a 29 anos, houve 71,5 mortes a cada 100 mil, naquele ano, enquanto a taxa nacional era de 65,5.

O secretário estadual da Segurança, coronel Nylton Rodrigues, reconhece que os números não são para comemorar mas, em sua opinião, indicam que o Estado está no caminho para a redução da criminalidade. Ele avalia que investimentos feitos no sistema carcerário, nas polícias e em ações como o programa Ocupação Social contribuem para a melhoria dos indicadores.

O coronel Nylton também acredita que, apesar de 2017 não ter sido um bom ano, 2018 vai recolocar o Espírito Santo no cenário de queda. A sua expectativa se baseia nos números dos primeiros meses que, segundo ele, são os menores registrados desde o início da série histórica, em 2001.

ESPÍRITO SANTO TEM TAXA PIOR QUE O BRASIL 

Os dados do Atlas da Violência colocam todo o país em um sinal de alerta: o Brasil atingiu, pela primeira vez, a taxa de 30 assassinatos por 100 mil habitantes, indicador que é 30 vezes maior que o da Europa. O Espírito Santo, nesse cenário, está ainda pior, embora tenha registrado queda nos últimos anos. A taxa aqui é de 32.

Em 2016, o Brasil atingiu a marca histórica de 62.517 homicídios, segundo informações do Ministério da Saúde coletadas para o estudo. Apenas nos últimos 10 anos, 553 mil pessoas tiveram mortes violentas no país.

Outro indicador preocupante é o de mortes violentas indeterminadas, ou seja, não se sabe como a pessoa morreu. No Brasil, houve um crescimento de 12,3% nesse tipo de ocorrência, enquanto no Espírito Santo esse indicador disparou, com crescimento de 172%. Em 2016, 240 pessoas morreram de forma violenta, mas não foi possível detectar a causa.

O secretário estadual da Segurança, coronel Nylton Rodrigues, disse que esse é um tema que deverá ser discutido com a área da Saúde, mas ressaltou também o investimento que o Estado vai fazer este ano em perícia criminal: R$ 35 milhões que, segundo ele, deverão contribuir para a resolutividade de crimes. 

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