Esta entrevista foi publicada originalmente em 27/09/2020. Com a morte de Cariê Lindenberg, nesta terça-feira, 06/04, destacamos novamente essa conversa que ele teve com o jornalista Abdo Chequer naquela ocasião, a respeito das transformações do jornalismo e A GAZETA.
Desde a profissionalização de A Gazeta, nos anos 1960, o jornal buscou se tornar um veículo de alta confiabilidade pública, esmerando-se em divulgar apenas informações que sejam exatamente correspondentes à verdade. A postura foi defendida pelo presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta, Cariê Lindenberg, que presenciou a maior parte das transformações de A Gazeta, reafirmando, em todas elas, o carro-chefe entre os valores da empresa: No jornalismo, não cabe favor. Nem favor a favor e nem favor contra, conforme define, na entrevista que concedeu ao jornalista Abdo Chequer, em setembro de 2020. Confira:
Como foi chegar à decisão de interromper a circulação diária de A Gazeta impressa e ficar com a edição de fim de semana?
Assim como quando nasceu a televisão esperava-se prejuízo para rádios, hoje se espera o mesmo para os jornais em papel por causa do noticiário online. Não acho que se deve enfrentar o que é feito para aprimorar o que já existe. O online não é diário, é instantâneo. É mais rápido, mais eficiente. E, certamente, grande parte da população já está mais habituada com a leitura na internet do que no papel.
Como espera que seja a edição de fim de semana?
A edição de fim de semana tem que ser algo arrevistado, que tenha conteúdos mais profundos, adequados às pessoas que querem pensar e discutir assuntos de importância nacional e internacional, sem, contudo, omitir os fatos mais importantes da semana que passou.
Que momentos marcantes ficaram na memória nesses anos de A Gazeta?
Não devo omitir que vim para A Gazeta presumindo que seria um tipo de sinecura que meu pai e meu tio estavam me dando. Só que, muito pelo contrário, me fascinei pelo jornalismo e pela convivência com jornalistas de forma que fui só aí, aos 30 e poucos anos, me encontrar e ter mais alegria de trabalhar e de viver. Talvez isso até justifica o fato de eu não ter escolhido a política e nem o fórum para debater: eu não gosto de briga, eu gosto de discussão. Na Gazeta, acabei vendo, logo no início, que eu tinha algo a fazer.
É difícil pensar em fatos marcantes, foram tantos. Prefiro falar da postura que A Gazeta teve a vida inteira, e que se aprimorou cada vez mais, no sentido de se tornar um veículo de alta confiabilidade pública, porque ela se esmera em evitar divulgar coisas que não sejam exatamente correspondentes à verdade. Uma vez, um político que seria entrevistado pediu por uma repórter específica. Eu fiquei curioso a respeito do motivo, e ele explicou que ela era uma das poucas que diz exatamente aquilo que a gente fala. Esse é um primoroso trabalho que tem que ser feito: assumir, na realidade, com exatidão, aquilo que o entrevistado está informando, seja ele quem for.
Nesse momento de mudanças, é o tipo de coisa que não pode mudar?
Parto do pressuposto que, no jornalismo, não cabe favor. Nem favor a favor e nem favor contra. O jornalismo tem que ser isento, tem que ser a transparência do que ocorre com a sociedade a que ele serve.
Qual é o futuro da Gazeta? O que espera?
O futuro da Gazeta é alvissareiro porque, certamente, sua transparência e sua credibilidade vão se ampliar através do online. Teremos mais leitores do que temos hoje com o papel, então a tendência é ampliar o âmbito de pessoas que se servem da Gazeta para saber as notícias do Espírito Santo.
Posso entender que o senhor está confiante?
Estou plenamente confiante. Evidentemente que não é simples para mim, porque pessoas mais velhas, como eu, são viciadas em jornal. Vou sentir uma falta enorme dele. Mas já estou aprendendo como faço para acessar o online. A imprensa escrita vai se transformar toda, aos poucos, na digital. É inexorável, vai acontecer no mundo todo, mais cedo com uns e mais tarde com outros. Somos uma empresa que resolveu, conscientemente, antecipar o que muitos outros ainda estão por fazer. E também resolvemos nos igualar aos tantos outros que já o fizeram. Foi bom, é bom e será bom.
(Com a colaboração de Marina Moregula)
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