O tipo de vírus encontrado nos exames de algumas das vítimas do surto de infecção intestinal em creche particular da Praia da Costa, em Vila Velha, é considerado comum em ambientes fechados e com aglomeração como cruzeiros, creches e hospitais. O norovírus, no entanto, é bastante infeccioso e resistente, como explicou o virologista Tulio Machado Fumian, pesquisador do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental da Fiocruz, em entrevista na Rádio CBN Vitória (92,5 FM) nesta terça-feira (7).
Em 2009, análises feitas pelo Laboratório Central do Estado da Bahia (Lacen) mostraram a presença de norovírus em amostras de fezes de passageiros de um navio, que provocou mal-estar digestivo em mais de 350 pessoas quando passavam por Salvador em janeiro daquele mês. De acordo com matéria publicada na época pelo Correio 24 Horas, foram analisadas amostras de apenas dois passageiros e em ambas foram encontradas o norovírus. Nas amostras de água e de alimentos procedentes do navio, também analisadas no Lacen, nada foi encontrado. Foram feitos testes para vírus e bactéria.
Na creche
Segundo informações divulgadas pelas secretarias municipal e estadual de Saúde, pelo menos 11 das 37 vítimas que apresentaram a diarreia aguda no caso da creche Praia Baby foram contaminadas pelo norovírus; nove foram infectadas pela bactéria Escherichia coli, sendo que duas delas pelo tipo mais grave. Ainda não se sabe se essas vítimas foram infectadas pelos dois agentes causadores ao mesmo tempo (vírus e bactéria).
Para o diretor geral do Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo, Rodrigo Rodrigues, a hipótese mais provável é de que a contaminação, tanto pelo vírus quanto pela bactéria, tenha entrado na creche com alguma pessoa contaminada, mas que não apresentava sintomas. Rodrigo afirma que o vírus não é muito comum no Brasil e que pode ser transmitido pelo ar ou por alimentos e água contaminados.
ESTÁVEL NO MEIO AMBIENTE
De acordo com Tulio, o norovírus é bem estável no meio ambiente e um vírus bastante infeccioso, que se dissemina muito rápido. A infecção inicial pode ser pelo consumo de água e alimento manipulados por uma pessoa infectada. Como a transmissão é muito facilitada, esses alimentos servem como fonte primária em infecção. "Principalmente nas crianças acontece a transmissão pessoa-pessoa. O vírus é excretado pelas fezes", disse.
Tulio ainda detalhou que uma pessoa pode chegar a transmitir o vírus para milhares de pessoas e que o norovírus, apesar de estável no meio ambiente, não se multiplica. "Estudos apontam que esse vírus é resistente até cinco dias, mas depende do local em que ele se encontra. Quando mais frio é o local, o vírus fica mais estável", detalhou. O virologista destaca que, mesmo após a resolução dos sintomas, a pessoa infectada não deve retomar a rotina normal de estudos e trabalho, por exemplo.
"As pessoas, em geral, continuam excretando o vírus em até três a cinco dias. Por isso é importante não voltar ao trabalho assim que acabar os sintomas. A pessoa continua excretando o vírus e deve ficar afastada por um período de tempo, principalmente se for alguém que fica na cozinha", falou.
DESIDRATAÇÃO
Uma das maiores preocupações que deve ser notada pela vítima do norovírus é a desidratação, principalmente quando se trata de crianças e idosos. A desidratação é o que pode fazer com que o caso evolua para grave.
"Principalmente crianças e idosos precisam se hidratar e repousar bem. Com as crianças, é importante sim ir ao médico para fazer reidratação oral e intravenosa", explicou o virologista.
COMO SE PREVINIR?
Somente o álcool em gel que carregamos na bolsa ou deixamos na mesa de trabalho não resolve. Tulio frisa que é importante lavar as mãos com frequência para se proteger do norovírus.
LIMPAR AMBIENTE COM ÁGUA SANITÁRIA
Quando acontecer um surto explosivo com a presença de vômito ou diarreia, é importante limpar o ambiente com água sanitária ou alguma solução com cloro ativo. Só álcool, também não resolve.
"O ideal é descontaminar tudo e afastar as pessoas contaminadas, manter a criança longe da creche para evitar que o surto aumente e infecte outras pessoas", disse.
NÃO EXISTE VACINA
Ao contrário do rotavírus, ainda não existe uma vacina para o norovírus mas Tulio explica que instituições estudam a possibilidade de imunização. "Este é um vírus muito difícil de controlar, até em países altamente desenvolvidos. Acontece muito nos Estados Unidos. O futuro é uma vacina mesmo", finalizou.
Quanto a possibilidade de causar morte, Tulio explica que são casos raros e isolados porque esta é uma doença autolimitada. Mortes podem acontecer em locais sem acesso a saúde, como na África, por exemplo.
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