Os passageiros do Sistema Transcol poderão dispor de novos transportes para circular pela Grande Vitória. No planejamento do próximo governo está prevista a criação de um serviço de aluguel de bicicletas na saída dos terminais de ônibus. Táxis e transporte por aplicativo também poderão ser integrados aos ônibus. É o chamado Last Mile (última milha, na tradução do inglês), sistema já implementado em outros países e que começa a se popularizar no Brasil.
No caso das bicicletas, a proposta é que os usuários do Transcol que moram nas proximidades de terminais a distância ainda não foi definida, mas deve ser por volta de um quilômetro possam usá-las para fazer o primeiro e o último trecho do seu trajeto, contribuindo para melhorar a mobilidade na região.
É o que afirma Tyago Hoffmann, membro da equipe de transição e futuro secretário de Governo na gestão de Renato Casagrande, governador eleito. A ideia é que funcione com um aluguel de longa duração. A pessoa chega ao terminal, saindo do trabalho, pode alugar uma bicicleta e vai até sua casa. A bicicleta fica por lá e a pessoa, no dia seguinte, retorna com ela para o terminal. Serão trajetos pequenos, mas que ajudam na mobilidade, aponta.
Tyago afirma que estudos serão realizados para implantação do Last Mile, mas um aspecto é certo: haverá bilhete único para integração dos ônibus às bicicletas compartilhadas, assim como para as outras modalidades de transporte. O futuro secretário esclarece, no entanto, que bilhete único não significa mesmo valor de tarifa. O custo para quem fizer o trajeto só de bicicleta, por exemplo, possivelmente vai ser menor.
A integração de modais é citada por especialistas como uma das estratégias para melhorar a mobilidade. Na Grande Vitória, há apenas o sistema Transcol e que, ainda assim, não contempla as linhas municipais da Capital e de Vila Velha.
AQUAVIÁRIO
No plano de governo de Casagrande, há perspectiva de fazer a integração física e tarifária entre todos os modais, incluindo ônibus municipais, BRT e aquaviário por meio do bilhete único.
Sobre a retomada do aquaviário, Tyago ressalta que o estudo realizado na gestão anterior, há cerca de cinco anos, precisa ser revisado, uma vez que muito tempo se passou e as condições para implantação, inclusive financeiras, mudaram. Mas desde aquela época já estava previsto um sistema integrado ao Transcol e essa ideia permanece com força, assegura.
Ainda em mobilidade, outro investimento programado é viabilizar a implantação do BRT ou BRS, modelos que priorizam o transporte coletivo de passageiros com faixas exclusivas para ônibus.
Tyago Hoffman explica que, para tanto, é necessário concluir obras e realizar outras intervenções para deixar a Região Metropolitana preparada, como, por exemplo, finalizar a Avenida Leitão da Silva e executar o projeto do Portal do Príncipe, em Vitória, e alterar o acesso da Avenida João Palácio, em Eurico Salles, na Serra, para a BR 101 e vice-versa.
São obras acessórias que precisam ser feitas antes da implantação do sistema em si, sob pena de que, se não estiverem concluídas, podem piorar a mobilidade. Vamos tocar todos esses projetos para preparar a Região Metropolitana para o BRT e BRS ou outro projeto similiar que, daqui a dois, três anos, pode se apresentar mais moderno, finaliza.
PROJETOS DE MOBILIDADE
Last Mile
Integração
A proposta é criar uma infraestrutura de transporte secundária para acesso dos usuários ao Sistema Transcol. Entre as opções estão o aluguel de bicicletas para pequenos trajetos e, ainda, a utilização de táxis e transporte por aplicativos. Todos os modais poderão ser integrados ao Transcol por meio de bilhete único.
Aquaviário
Estudos
A retomada do serviço na baía de Vitória depende da atualização de estudos que foram feitos na gestão anterior de Renato Casagrande. A proposta é que, com a volta do aquaviário, o transporte também seja integrado ao Transcol.
Faixas exclusivas
Obras
Antes de implantar o BRT ou BRS, serão necessárias obras na Grande Vitória a fim de preparar a região para receber o novo modelo para tráfego exclusivo de ônibus. O BRT é mais complexo, uma vez que os ônibus usam tecnologia embarcada para, por exemplo, possibilitarem a abertura do semáforo quando estiverem se aproximando. Já o BRS é o modelo adotado em Vitória e conhecido como Linha Verde.
EM OUTRAS CIDADES, BRT E CICLOVIAS SÃO SOLUÇÕES
Cidades pelo mundo e pelo Brasil enfrentam cotidianamente problemas de mobilidade. Mas muitas já encontraram o caminho para reduzir engarrafamentos, horas perdidas no trânsito e melhorar a qualidade de vida. O que é comum à maioria é o investimento permanente no transporte coletivo e projetos já testados em outros locais poderiam ser adotados na Grande Vitória, como o BRT e a ampliação das ciclovias.
Curitiba, capital paranaense, é referência em mobilidade e iniciou a implementação do BRT faixa exclusiva para ônibus há 44 anos. No Espírito Santo, o projeto está parado.
Quando nenhuma capital brasileira pensava em transporte coletivo e a maioria se preparava para receber mais carros, fizemos um Plano Diretor que estabeleceu o transporte coletivo como prioridade, diz Olga Prestes, arquiteta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
Quase 50 anos depois, pesa muito o plano estar vivo até hoje. Independentemente do pensamento político que está na cidade, o processo é continuado, acrescenta o arquiteto Fabiano Losso, também do Ippuc.
Para o professor da UVV Fábio Romero, especialista em trânsito, além de Curitiba, um bom exemplo nacional é São Paulo, com os investimentos em ciclovias. E o sistema de bicicletas compartilhadas também é uma alternativa, mas não nos moldes do que vemos aqui em que as estações estão instaladas prioritariamente na orla. Assim, acabam sendo usadas mais para lazer do que em deslocamento para escola e trabalho, opina.
Romero defende também a integração dos sistemas de transporte e revela que Helsinque, capital da Finlândia, estabeleceu o ano de 2022 como prazo final para ninguém usar carro na cidade. Não que será proibido, mas haverá integração de bicicleta, ônibus, VLT e ninguém vai precisar de carro para nada.
Mas, na opinião do professor, uma medida como essa na Grande Vitória exige também mudança de cultura, muito ligada ao carro. A implantação da Linha Verde em Vitória já motivou ação na Justiça, lembra.
Professor da Faesa e da Ufes, Manoel Rodrigues também avalia que projetos como BRT, integração de modais e ampliação de ciclovias podem ser adotados na Grande Vitória para melhorar a mobilidade. Ele cita ainda o Last Mile, utilizado em um sistema de entregas por triciclos na China.
Especialistas apontam que as sugestões apresentadas não são a invenção da roda. Muitas coisas passam por soluções simples. Vemos metrópoles brasileiras em busca de recursos para bancar uma linha de metrô, por exemplo, porque não têm dinheiro para fazer por conta própria, como se fosse o suficiente para resolver a mobilidade. Fica nessa espera de recursos por anos, ao passo que um projeto como o BRT seria muito mais simples e efetivo, conclui o arquiteto Fabiano Losso.
"UMA CIDADE INTELIGENTE SE CONSTROÍ AOS POUCOS"
Para se consolidar como uma cidade inteligente que, entre outras características, investe em tecnologia para melhorar a gestão urbana, o quesito mobilidade precisa ser valorizado.
Tem que combinar aplicações que atendam a todos os usuários pedestres, ciclistas, motoristas, motociclistas. Mas é claro que uma cidade inteligente se constrói aos poucos; não dá para resolver tudo de uma vez só, aponta a professora da Ufes, Raquel Frizera.
A ideia, segundo ela, é melhorar um aspecto e ir evoluindo aos poucos, agregando mais inteligência à cidade à medida que novas soluções são implementadas.
Investir em mobilidade está relacionado à instalação de semáforos inteligentes, por exemplo, que podem auxiliar na gestão de trânsito. E também na oferta de aplicações em que o usuário pode decidir que transporte usar, a que horas e em que ponto, no caso de um pedestre; ou que vias alternativas percorrer, no caso de um motorista, exemplifica.
VILA VELHA E SEM PLANO PARA A ÁREA
Enquanto muitos municípios têm iniciativas bem-sucedidas há décadas, outros não possuem nem mesmo plano de mobilidade. É o caso de Vila Velha e Cariacica, na Grande Vitória, que estão em fase de elaboração do documento que deverá ser concluído apenas em 2019.
O plano é hoje uma exigência de lei para liberação de recursos federais para a área. Do contrário, poderia não estar na agenda do dia.
Em Vila Velha, ele havia sido contratado em 2016 mas, por falta de recursos, ficou parado. Retomado no ano passado, agora o município tenta acelerar os processos e, assim, o documento servirá como orientação para os investimentos em mobilidade até 2029.
Em Cariacica, a etapa atual é de realização de audiências públicas para discutir o plano com moradores e entidades. Questionada sobre o motivo para ainda não ter um plano, a prefeitura informou, por nota, que, antes do projeto de mobilidade, era necessário finalizar a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), que foi enviado à Câmara Municipal e aguarda aprovação.
Já em Vitória, o plano passa por atualização. A fase é de elaboração e captação de recursos. O trabalho atualizará o plano de mobilidade vigente, que é do ano de 2008. Na Capital priorizará o incentivo ao transporte público coletivo e aos meios de transporte não motorizados, a integração entre modais e o incentivo a modelos sustentáveis, informa a Secretaria de Transportes, por nota.
Na Serra, o plano de mobilidade já está inserido no PDM do município desde 2012.
PROJETOS PELO MUNDO
BRT
Cidades brasileiras
No Brasil, Curitiba foi pioneira no sistema BRT, que é um ingrediente-chave no mix de transporte urbano do Brasil. O BRT combina meios de ônibus exclusivos e segregados e gerenciamento de sinais de tráfego que podem ajudar a minimizar os atrasos, mantendo sinais verdes para os ônibus de BRT que se aproximam de um cruzamento.
Redução do tempo
O sistema resulta em redução do tempo de viagem e melhor percepção das pessoas sobre o transporte público.
Propostas
Há ainda propostas de promover meios de transporte não motorizados, com a construção de ciclovias ao longo do corredor de BRT. A integração entre o BRT e a bicicleta ocorre através da construção de bicicletários em todos os terminais de integração. Para pedestres, o projeto de implantação do BRT prevê o tratamento das calçadas ao longo do corredor.
Ciclovias
São Paulo
A cidade expandiu sua rede de ciclovias e implementou linhas BRT para tornar essa opção de mobilidade mais atraente e reduzir o congestionamento e a poluição.
Uso flexível
Em São Paulo, é permitido o uso flexível do espaço das vias, chamada de faixa de ciclismo de operação de lazer, que transforma as faixas intermediárias ou as da esquerda em ciclovias aos domingos e feriados nacionais. Essas ciclovias são separadas do tráfego geral por elementos, como cones e cavaletes, e sinais especiais são colocados.
Plano de integração
Madri
Integração é uma parte crucial do transporte público em Madri, Espanha, permitindo que os usuários façam viagens de múltiplos itinerários com maior qualidade. Eles reduzem o tempo de viagem e melhoram a qualidade do serviço. Entre as vantagens, a integração de diferentes modos e demandas de mobilidade com redução do tempo de transferência. Boa sinalização, acessibilidade e segurança.
Intercâmbios
Estão sendo planejados intercâmbios entre ônibus na área metropolitana para conectar linhas de ônibus radiais de áreas de menor densidade para modos de transporte radial de alta capacidade.
Sistema Inteligente
Verona
Em Verona, na Itália, sistema permite que o veículo se comunique sem fio com outro veículo ou com infraestrutura. Os benefícios são evidentes com melhoria no gerenciamento e mais eficiência de tráfego, menor congestionamento e emissões poluentes.
As sinergias permitem disponibilizar mais e melhor informação aos operadores e aos usuários, reduzindo simultaneamente os custos devido à possibilidade de partilhar equipamento, bases de dados e pessoal.
E-triciclo para entrega
Pequim
Em Pequim, na China, triciclos elétricos (E-triciclos) têm sido utilizados para a entrega de mercadorias. Podem ser estacionados em qualquer lugar sem necessidade de grandes espaços. Os veículos são recarregados com tomadas padrão. Aproximadamente 90% das entregas domiciliares são realizadas por e-triciclos.
Vantagens
Apresenta alta qualidade de serviço através de solução de projeto de baixa tecnologia e atende mais rapidamente a pressão da demanda de entrega em tempo real.
Fonte: Manoel Rodrigues, professor da Ufes e da Faesa
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