Uma das escolas mais tradicionais do carnaval capixaba, a Novo Império vive um incômodo jejum de 30 anos sem título. A última vitória veio em 1989, com o enredo "Acorda Brasil", obra-prima de Fernando Monteiro que fazia uma azeitada crítica à situação econômica do Brasil na época, um país marcado pela instabilidade do governo José Sarney.
Apostando na mesma fórmula, a denúncia social, a agremiação de Caratoíra - que possui seis campeonatos no Grupo Especial - levará para o Sambão do Povo no próximo sábado (15) o enredo "O Be-a-Bá dos Guris: Uma Lição para Todos", criado para celebrar os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
"Será um carnaval lúdico, em que vamos levar para a avenida uma reflexão sobre a realidade da criança no país. Nosso enfoque é mostrar seus sonhos, os desafios na luta contra o analfabetismo infantil e, em alguns casos, a situação de abandono que muitos passam nas grandes cidades. Será um desfile marcado pela contestação", assinala Petterson Alves, carnavalesco capixaba com passagens por agremiações cariocas (entre outros trabalhos, coordenou o desfile da Acadêmicos do Sossego, em 2018).
Alves é o responsável pelo carnaval da "família imperiana" em 2020 e espera repetir o bom desempenho dos últimos desfiles."Ficamos com a terceira colocação em 2019. Saímos da avenida muito aplaudidos e campeões morais. Perdemos o título por apenas um décimo", ressalta.
Com um investimento de cerca de R$ 800 mil, a Novo Império - que contará com 1.600 componentes, divididos em 19 alas - pretende apresentar um desfile marcado pela grandiosidade de seus quatro carros alegóricos. "As alegorias serão todas construídas por profissionais que trabalham na Festa de Parintins", assinala Petterson, reafirmando que o desfile terá um forte impacto visual.
"Nossos maiores destaques serão o abre-elas, em que vamos retratar os horrores da noite, com crianças abandonadas, em um clima bem sombrio, e a comissão de frente". Alves tentou fazer mistério sobre o quesito, mas, gradualmente, foi "entregando o ouro".
"Será uma metáfora à infância roubada, com os seus direitos de sonhar, brincar e ser feliz. Teremos vários elementos cenográficos que se transformam na avenida. A comissão de frente trará muitas surpresas", despista.
A Novo Império dividirá o seu desfile em cinco setores, sempre sob a perspectiva da criança. O primeiro deles retratará o caos urbano, marcado por um mundo sem sonhos. O segundo, pretende assinalar os direitos básicos, especialmente o de nascer (não foi revelado se o aborto será explorado neste setor). Os outros pretendem focar nas delícias do mundo infantil (especialmente as guloseimas), as brincadeiras de rua e o direito a uma educação de qualidade.
Agremiação que conta com uma das maiores torcidas do carnaval de Vitória, a história da Novo Império se confunde com as suas as inúmeras conquistas. Criada na década de 1950, com o nome de Império da Vila, a escola desfilava na Princesa Isabel e tinha como grande "adversária" a Unidos da Piedade. As duas, diga-se de passagem, são consideradas "símbolos" da folia capixaba.
"A força da nossa comunidade sempre foi um diferencial. A Novo Império nasceu da união de um grupo de estivadores com os imigrantes que vieram do Nordeste e começaram a ocupar os morros ao redor da grande Santo Antônio", conta Carlos Fabian de Carvalho, diretor de carnaval da escola.
Questionado sobre o desfile mais impactante da azul, branco e rosa de Caratoíra, Fabian não se faz de rogado. "Conquistamos um tricampeonato de 1987 a 1989, o que ressaltou a força da nossa comunidade. 'Magia da Noite' (1988), porém, é inesquecível. Conseguimos unir o luxo e o samba no pé. Um desfile tecnicamente perfeito", ressalta o dirigente.
Dentre as apresentações de destaque, ainda de acordo com Fabian, estão "Bodas de Aranã", vice-campeã em 2008, e "Mulher", enredo terceiro colocado em 2019. "Foi um carnaval de resgate após muitos anos de crise estrutural", suspira, com orgulho.
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