Já no início de 2020, notícias de uma doença misteriosa, que havia infectado pelo menos oito pessoas em Minas Gerais, tomavam conta dos jornais. O caso evoluiu, e com ele a descoberta de que a doença misteriosa, na verdade, era uma intoxicação causada pela substância dietilenoglicol, usada no processo de resfriamento na fabricação de cerveja.
Após análises do Ministério da Agricultura, o composto, que é tóxico, foi encontrado na água usada na produção da cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer. O consumo da bebida seria a principal causa que já levou três pessoas à morte e outras 17 até o hospital. Para te ajudar a entender o caso, A Gazeta preparou um guia do que se sabe até agora sobre essa contaminação na cerveja e qual a relação dela com o Espírito Santo.
No dia 30 de dezembro, o capixaba Luiz Felippe Teles Ribeiro, 37 anos, que mora em Belo Horizonte, foi internado na capital mineira com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas. No dia seguinte, o sogro dele, Paschoal Demartini Filho, 55 anos, também deu entrada no hospital com os mesmos sintomas, mas em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Ele morreu uma semana depois.
Até o dia 7 de janeiro, seis novos casos, com sintomas similares, foram notificados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A partir daí a Secretaria de Saúde de Minas Gerais iniciou uma investigação para apurar que tipo de doença estava causando os sintomas nos pacientes.
Além da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, a Polícia Civil do Estado também iniciou um processo de investigação. Ao tomar conhecimento de que as primeiras vítimas, o capixaba Luiz Felippe e o sogro dele, começaram a passar mal após ingerir a cerveja artesanal Belorizontina, da cervejaria Backer, a polícia recolheu as garrafas para perícia.
O laudo da Polícia Civil revelou a presença de dietilenoglicol nas amostras recolhidas na casa do capixaba e também nos lotes L1-1348 e L2-1348, que estavam lacrados na cervejaria. A substância é altamente tóxica e utilizada durante o processo de resfriamento na fabricação de cerveja.
Em coletiva nesta quarta-feira (15), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), anunciou que a água usada para produção da cerveja Belorizontina estava contaminada. Durante análises, foi verificada a contaminação de dietilenoglicol em diversos tanques da cervejaria Backer.
A Polícia Civil de Minas Gerais ainda não sabe dizer como a contaminação aconteceu. A investigação trabalha com todas as hipóteses, incluindo erro no processo de produção e sabotagem de um ex-funcionário.
Na manhã desta quinta-feira (15), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais havia registrado três mortes e 17 pessoas internadas com a suspeita de contaminação pela substância dietilenoglicol. Uma delas é o capixaba Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 37 anos, que mora em Belo Horizonte. Ele está internado em estado grave. Até o momento, todos os casos se concentram em Minas Gerais.
Além dos lotes contaminados em Minas Gerais, a Polícia Civil identificou, nesta segunda-feira (13), a presença de dietilenoglicol em um lote da cerveja de rótulo "Capixaba", também produzida pela Backer. O lote estava dentro da fábrica. Segundo a própria cervejaria, a Capixaba é produzida no mesmo tanque que a Belorizontina e possui a mesma fórmula, porém tem rótulo diferente e é vendida no Espírito Santo.
O Ministério da Agricultura encontrou um lote contaminado da cerveja Capixaba em um supermercado da Grande Vitória. O lote número 1348 foi identificado após análises das notas fiscais recolhidas em todos os estabelecimentos que vendiam cervejas da Backer. A bebida, porém, já havia sido recolhida pelo supermercado, que faz parte da rede Carone.
Até o momento nenhum caso de contaminação foi registrado fora de Minas Gerais. Mesmo assim, para evitar que alguma cerveja contaminada seja vendida no Espírito Santo, a Secretaria de Estado de Saúde solicitou que as vigilâncias municipais percorram os estabelecimentos do Estado e recolham garrafas dos lotes em que foi identificada a contaminação. A venda da marca Backer já havia sido suspensa por alguns supermercados na Grande Vitória dias antes da decisão.
Até o momento, foi identificada a presença de dietilenoglicol em sete lotes da cerveja, seis do rótulo Belorizontina e um da Capixaba. Os lotes são: L2-1354, L2-1348, L2-1248 (Capixaba), L2-1197, L2-1604, L2-1455, L2-1464.
Em entrevista na manhã desta terça-feira (14), a diretora de marketing da cervejaria Backer, Paula Lebbos, pediu que as pessoas não bebam a Belorizontina, qualquer que seja o lote. O pedido também vale para a cerveja Capixaba, que é produzida no mesmo tanque e possui a mesma fórmula, porém tem rótulos diferentes e é vendida no Espírito Santo.
Após o laudo da Polícia Civil identificar a presença da substância em lotes da cerveja Belorizontina, o Ministério da Agricultura decidiu fechar a cervejaria Backer por tempo indeterminado. O Ministério também determinou que todas as cervejas da marca sejam recolhidas e que seja suspensa a venda dos produtos. A medida é válida para qualquer rótulo da cerveja em todo o Brasil.
A Secretaria de Saúde de Pompéu (MG), a cerca de 170 quilômetros de Belo Horizonte, informou nesta terça-feira (14) que uma mulher internada em um hospital da cidade com sintomas da síndrome neufroneural que a Polícia Civil atribui ao consumo da cerveja pilsen Belorizontina, da Backer , morreu no dia 28 dezembro.
A secretaria municipal trata o caso como mais uma ocorrência de intoxicação de consumidores da cerveja pela substância tóxica o dietilenoglicol, utilizada em sistemas de refrigeração devido a suas propriedades anticongelantes. Porém, o caso ainda não é investigado pela Polícia Civil.
A cervejaria Backer, fabricante da Belorizontina e também da Capixaba, alega que não usa a substância dietilenoglicol em nenhuma etapa do processo de fabricação. A empresa garantiu que está colaborando com a investigação da Polícia Civil e dando assistência as famílias das pessoas internadas. Confira a nota completa:
Nesse momento, a Backer mantém o foco nos pacientes e em seus familiares. A empresa prestará o suporte necessário, mesmo antes de qualquer conclusão sobre o episódio. Desde já se coloca à disposição para o que eles precisarem. A cervejaria informa que continua colaborando, sem restrições, com as investigações. A empresa segue apurando internamente o que poderia ter ocorrido com os lotes de cerveja apontados pela Polícia. A Backer adianta que, na semana passada, solicitou uma perícia independente e aguarda os resultados. Reitera que, em seu processo produtivo, utiliza, exclusivamente, o agente monoetilenoglicol.
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