A maior onda de incêndios florestais em sete anos tem atraído os olhares do mundo para o Brasil, mas o fenômeno, por si só, não é novo. Os biomas brasileiros, sobretudo a Amazônia, sempre sofreram com queimadas provenientes da exploração de terra. O alarmante, desta vez, é a velocidade com que a situação se agravou. Como as proporções ficaram tão grandes?
Dados e pesquisas mostram que o cenário de 2019 é atípico e sem precedentes. Veja a seguir o que já sabemos sobre os incêndios na maior floresta tropical do mundo, que também abriga a maior reserva de biodiversidade do planeta.
PANORAMA ATUAL
Há quase um mês, florestas e matas queimam nos Estados do Norte e Centro-Oeste, se estendendo pelo Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo áreas da Amazônia e do Pantanal. O fogo já atingiu a tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai.
A Amazônia é o bioma mais afetado e concentra 52,5% dos focos de queimadas de 2019, segundo os dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Cerrado é responsável por 30,1%, seguido pela Mata Atlântica, com 10,9%.
Somente nas últimas 48 horas, contadas até esta sexta-feira (23), foram registrados pelo Instituto 4.228 focos de fogo no país. Desses focos, a maior parte na região amazônica.
RECORDE
Segundo dados do Inpe, o número de incêndios detectados no Brasil entre 1º de janeiro e 22 de agosto bateu recorde e alcançou a marca de 76.720 ocorrências. A quantidade apresentou um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2018, onde foram registrados 41.404 focos. A quantidade é a maior desde 2013.
Com base apenas nos números de queimadas, Mato Grosso tem a maior quantidade registrada de incidentes este ano -14.640, o equivalente a 19,1% do total do país. A maioria dos Estados brasileiros teve alta nos focos de queimadas em relação ao mesmo período de 2018. Mato Grosso do Sul lidera, com aumento de 286%, seguido do Pará (204%) e Roraima (192%).
No Espírito Santo o número subiu de 88 registros em 2018 para 229, um incremento de 160% que coloca o Estado em 20º lugar no ranking nacional.
Ação humana contribui para queimadas
Historicamente, os períodos prolongados de seca alinhados a alterações climáticas e ao desmatamento podem gerar focos de fogo. O aumento substancial das queimadas observado este ano, no entanto, não é visto com normalidade pelos especialistas. Os tempos de seca mais severos ocorrem no mês de setembro e não houve mudanças climáticas extremas, como o El Niño, que pudessem justificar a magnitude das ocorrências registradas. Desta forma, somente causas naturais não são suficientes para explicar os incêndios neste ano e a ação humana contribui para o agravamento do cenário.
Como a Amazônia é uma floresta tropical, os incêndios mais recorrentes ocorrem quando a madeira desmatada seca e, depois, é incendiada para abrir espaço a pastagem ou agricultura. De acordo com especialistas, um incêndio natural não teria facilidade em se alastrar devido às características úmidas da vegetação.
FUMAÇA
O tamanho das queimadas ainda não é preciso, mas elas se espalham pelos Estados que compreendem a floresta na região Norte e Centro-Oeste do Brasil. Em 21 de agosto, a Nasa divulgou uma imagem de satélite mostrando uma camada cinzenta sobre vários estados brasileiros. A magnitude dos incêndios era tamanha que podiam ser vistos do espaço.
Na segunda-feira (19), o "dia virou noite" em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e no norte do Paraná. No meio da tarde, uma forte névoa escura encobriu a capital paulista, deixando a cidade no breu e acendeu o alerta dos ambientalistas.
Segundo especialistas, uma frente fria com ventos marítimos originada do Sul do Brasil trouxe uma nuvem mais baixa e carregada. Junto a isso, o corredor de fumaça proveniente das queimadas da floresta amazônica, que vem descendo pela América do Sul, potencializou a escuridão. A fumaça que vem varrendo o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil já atingiu países vizinhos como Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia.
DESMATAMENTO
Dados do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgados pelo Inpe, mostraram um aumento de mais de 40% nos alertas de desmatamento até julho. O mês passado teve também um número de alertas de perda de floresta equivalentes a 2.254,9 km², o pior referente a um mês na história. Houve um aumento de 278% em relação ao mesmo mês em 2018, quando o índice foi de 596,6 km².
O Deter capta imagens via satélite da Amazônia Legal, que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos Estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
Ainda de acordo com o sistema, de agosto de 2018 a julho deste ano, os alertas indicaram que 6,8 mil km² poderiam estar em desmate. Entretanto, o balanço oficial do desmatamento no período, que se encerrou em julho de 2019, ainda não foi divulgado pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).
Se comparado ao levantamento anterior, de agosto de 2017 a julho de 2018, os alertas sinalizaram desmate em 4,5 mil km ² e a taxa oficial ficou em 7,5 mil km² 64,8% maior. A expectativa é que os números oficiais deste ano sigam a tendência de alta em relação aos alertas.
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), indicou um aumento de 15% no total acumulado entre agosto de 2018 a julho de 2019, comparados ao registrado no ano anterior. Segundo o SAD, a área desmatada nos últimos 12 meses chegou a 5.054 km².
Somente em julho de 2019, o SAD detectou 1.287 km² de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 66% em relação a julho de 2018, quando o desmatamento somou 777 km². O Imazon utiliza para a medição o período entre agosto e julho da mesma forma que o Prodes, sistema oficial usado pelo governo federal para monitorar o desmatamento da Amazônia.
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