Existem no Espírito Santo lugares que abrigam nossa cultura, saberes populares, histórias e identidade, e que estão prontos para nos receber em um simples passeio de final de semana. Como as aldeias indígenas de Aracruz, no Noroeste do Estado. Lá, existe um lugar temático onde é possível acampar, tomar aquele banho gostoso de rio, além de conhecer novos costumes.
Passamos um dia e uma noite na Aldeia Indígena Tekoa Mirim, localizada próxima à rodovia ES 010 e ao lado do Rio Piraquê-Açu. O local tem um espaço temático com ocas feitas de palha e redes para descanso. Uma imitação da área original ocupados pelos índios construído para a gravação de um filme, em 2017, e que hoje funciona apenas para a recepção de turistas e venda de artesanatos.
A comunidade indígena da etnia guarani, que vive na região na área demarcada, onde fica esse local, é formada por cerca de 20 índios, que hoje moram em suas casas de alvenaria. Na aldeia temática, fomos recebidos pelo cacique Karaí-Peru (ou Pedro, na língua dos brancos) que nos explicou porque o local é mantido. Esse é um espaço para mostrar um pouco da nossa cultura para o Estado e escola que possuem interesse. A maioria são turistas de fora, como de Belo Horizonte (MG), afirma.
Se você quer descanso, os ventos frescos vindo do Rio Piraquê-Açu te cobrem na soneca da tarde na rede. Mas também é possível fazer pintura no corpo com tinta extraída do jenipapo e urucum, trilha, passeio de barco no rio com opção de pausa para banho, pescar ou simplesmente papear com os índios que guardam diversas histórias da origem de seu povo.
A maioria dos índios fala português carregado de sotaque, com exceção da matriarca da família do Cacique Peru, que só fala guarani. Durante a estadia da reportagem por lá, de um dia para o outro, era inevitável acompanhar os diálogos em que não entendíamos bulhufas. O uso de das redes sociais pelos indígenas superconectados é outro fato que nos chamou a atenção.
PÔR DO SOL
No dia em que estivemos lá, uma quarta-feira, o sol se despediu no horizonte com as últimas luzes irradiando no Rio Piraquê-Açu. Enquanto isso, as garças se ajeitavam nas árvores do mangue uma a uma e o branco de suas penas se misturava com verde da mata. Tudo isso faz com que a vista para o pôr do sol no local seja uma das mais lindas do Estado.
A noite chegou na companhia das estrelas, o barulho dos insetos e o canto das cigarras pareceu ganhar mais fôlego. Neste momento os mosquitos atacam, e por isso você deve ter em mãos um bom repelente. Mas fique tranquilo, pois a fumaça feita pelo Cacique Peru ao redor da aldeia ajuda a espantá-los.
Rodrigo, filho do Cacique Peru, prepara uma fogueira para assar um peixe pescado no final da tarde, coloca uma esteira de palha de bananeira no chão para o conforto da contação de histórias e a traduções de palavras guaranis.
O sono chega e o repouso é em um chalé suspenso feito de madeira e palha. Amanhece e tomamos o café preparado na aldeia e nos despedimos.
CERIMÔNIA PARA PEDIR PROTEÇÃO ÀS ALDEIAS
No início da noite, em meio às conversas para a organização do jantar na visita da reportagem na aldeia, Cacique Peru surpreendeu: nos convidou para acompanhar uma cerimônia a ser realizada na casa de oração da tribo. O objetivo era pedir a Deus proteção às comunidades indígenas de todo o país que temem a violência praticada por grileiros e madeireiros.
O cacique nos informou que naquele horário, às 20h30, diversas tribos do país estariam unidas em oração. Em sua fala de convite lamentou com expressão de tristeza a invasão de terras indígenas para a extração de madeira ocorridas no início do ano no Estado do Pará. Temos que ser respeitados, disse.
Não é comum os turistas conhecerem a casa, mas Peru fez questão de mostrar para a reportagem a importância de preservar a cultura de seu povo. Esse momento é bastante importante para nós. Essa reunião é diária, e é importante que todos saibam que queremos preservar nossa cultura, destacou.
O caminho até a casa de oração é por uma estrada de chão sem iluminação. O local é mantido pela pajé da tribo que não fala português. A casa foi feita com barro, madeira e palha, e possui duas portas. A pajé que toma conta de tudo aqui. Ela abre uma porta que fica na direção do nascer do sol para que a luz do dia entre, e a tarde abre a outra para que a luz continue a entrar quando está se pondo, explica Peru.
Um a um, os índios da tribo foram chegando, e em fogareiro a lenha no canto a pajé colocava a água para esquentar e prepara os charutos que serão utilizados na cerimônia. São cinco no total. Nos charutos é colocado fumo e ervas colhidos na área demarcada da aldeia. Fomos alertados que uma tragada mal realizada pode derrubar a pessoa e que a água quente é para limpar a boca após fumar.
O ritual, que possui duração de uma hora, se iniciou com as falas da pajé que fumava e assoprava em direção à parede. Depois desse momento, Rodrigo, filho do cacique, pegou um violão que tem as cordas em posições diferentes das convencionais e puxou os primeiros cantos. Outro índio o acompanhou com o tambor e outro com o chocalho. As mulheres, enfileiradas, entoavam cantos em uma afinação impecável.
VÁ LÁ
Passeio de barco
R$ 20 por pessoa.
O passeio pelo Rio Piraquê-Açu dura uma hora.
Pernoite na aldeia
R$ 50 por pessoa. É possível acampar em barraca, ficar na rede de uma das ocas ou no chalé com colchão. O café da manhã é incluso.
Artesanatos
O preço médio dos artesanatos e bijuterias é R$ 20. A confecção dos artes e as atividades guiadas fazem parte da renda das famílias.
Reservas para visitas
É possível visitar a aldeia temática de forma individual ou em grupo. As reservas podem ser feitas pelo telefone direto do Cacique Peru, no número: (27) 99959-6939.
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