No discurso de gestores, a educação é sempre alçada à condição de área prioritária de qualquer administração. Mas, na prática, o país tem demonstrado que pouco tem sido feito para que, de fato, sejam superados déficits educacionais. Prova disso é o resultado do Brasil na mais recente edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), com dados de 2018, cujo desempenho em Matemática, Literatura e Ciências foi pífio. Falha na formação e desvalorização dos professores contribuem para esse quadro.
Esse não é um problema atual, já que o país sofre com a estagnação nos indicadores de educação há quase uma década. Ano a ano, nas avaliações educacionais, as falhas de aprendizagem são evidenciadas. Em um país que pouco lê, a dificuldade de interpretação afeta o desempenho não apenas em Língua Portuguesa, mas também nas outras áreas.
O Pisa é aplicado de forma amostral a alunos na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. Por ser uma avaliação internacional, é inevitável a comparação do Brasil com outros locais.
Enquanto os alunos mal avaliados estão com performance semelhante aqui ou nos países ricos, os melhores estudantes brasileiros equivalem-se apenas ao nível intermediário da média dos 37 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo aponta Claudia Petri, especialista em Educação do Itaú Social.
Para ela, o Brasil tem problemas bem claros que levam a esse distanciamento na aprendizagem entre alunos brasileiros e os de outras nacionalidades. Entre eles estão as brechas na formação inicial de professores, colocando na sala de aula muitos ainda despreparados para a prática do ensino.
Claudia menciona que existe até um conceito de que a formação continuada, que deveria ser um avanço à qualificação dos professores, acaba sendo uma espécie de "supletivo" da formação inicial e serve para suprir lacunas deixadas pela graduação.
Outra dificuldade, específica da área de Matemática, tem relação com o currículo de Pedagogia, uma vez que são os profissionais formados nesse curso que vão dar aula nas séries iniciais. Contudo, explica a especialista em Educação, falta embasamento ao pedagogo para a docência dessa disciplina e grande parte dos estudantes passa de ano sem o conhecimento adequado.
A baixa valorização profissional também favorece o desempenho ruim. Com baixos salários e sem infraestrutura apropriada nas escolas para dar aulas, muitos professores sentem-se desmotivados. "Em Singapura (um dos países melhor avaliados), por exemplo, investe-se muito na valorização do professor porque é ele a figura central na relação ensino-aprendizagem", observa Claudia Petri.
Além de atuar nessas duas frentes - formação e valorização - Claudia Petri acredita que outras iniciativas também vão contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e, por consequência, da aprendizagem. Na sua opinião, é importante que o país coloque em prática a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A especialista em Educação ainda ressalta a importância de Estados e municípios estabelecerem um regime de colaboração entre si. "Quando existe essa parceria, há um salto na qualidade do ensino", assegura.
Por fim, Claudia Petri lembra que, em 2020, haverá eleições municipais e os futuros gestores têm de colocar a Educação na pauta, fazer uma análise desses dados e definir o que podem fazer, efetivamente, para mudar a realidade de sua cidade. Pauta que também deve estar na ordem do dia daqueles que já estão no poder.
"Sou otimista e, para mim, há um caminho que deve ser trilhado, com políticas públicas focadas na aprendizagem, e que poderá trazer melhores resultados em futuras avaliações educacionais", finaliza.
A qualidade dos cursos de licenciatura é primordial para garantir uma boa formação inicial aos futuros professores. O Ministério da Educação (MEC) precisa ser efetivo, tanto no controle da oferta de cursos bem estruturados, quanto na avaliação do desempenho das instituições de ensino e seus estudantes.
Existe um piso nacional de educação, ainda aquém de outros países, mas que estabeleceu um mínimo que deve ser pago aos professores, conforme a jornada de trabalho. O problema é que, em muitos municípios e Estados, até mesmo o piso é desrespeitado. Além disso, é preciso oferecer melhores condições de trabalho ao educador.
A BNCC da educação básica deve ser colocada em prática efetivamente, ajudando a equiparar a formação dos alunos em todo o país. O documento voltado para a educação infantil e o ensino fundamental precisa entrar em vigor totalmente em 2020. Já o do ensino médio o prazo vai até 2022.
Estados e municípios precisam ser parceiros no processo de ensino-aprendizagem, sobretudo porque grande parte da educação básica pode ser oferecida tanto por um quanto por outro ente. No Estado, o Pacto pela Aprendizagem no Espírito Santo (Paes) é um exemplo de ação conjunta para fortalecer a aprendizagem das crianças desde a educação infantil até as séries finais do ensino fundamental.
Os gestores devem priorizar a Educação, não apenas no discurso, mas em políticas públicas efetivas para mudar os indicadores negativos. Os dados devem servir de base para análise e preparação de ações que contribuam para a melhoria do ensino.
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