A defesa do policial militar Igor Moreira da Silva, acusado de matar o estudante Jean Pierre Otero Lazzarini, 27 anos, em 25 de dezembro de 2017, decidiu não recorrer contra a sentença que levou o militar a Júri Popular. Ainda não há data agendada para o julgamento.
Segundo o advogado Marcos Antonio de Oliveira Farizel, o PM está preso há mais de um ano e possíveis recursos prolongariam ainda mais o tempo dele em uma unidade prisional provisória. "Não vou recorrer. Queremos que agendem o júri o mais rápido possível para que a Justiça seja feita. Queremos logo uma solução, uma vez que o Igor está preso há mais de um ano e no sistema provisório", destacou.
A chamada decisão de pronúncia - que envia o réu para o banco dos réus - é do juiz Eneas José Ferreira Miranda, da 4ª Vara Criminal de Vila Velha. O estudante foi morto no dia 25 de dezembro de 2017 com três tiros nas costas. O militar, preso em agosto do ano passado, continua detido no Quartel do Comando Geral da PM, em Maruípe, Vitória.
No dia do crime, Igor se apresentou à delegacia e disse ter feito os disparos contra Jean, pois este estaria portando arma e feito menção de sacar o objeto da cintura. O PM entregou uma pistola calibre 380 com numeração adulterada que teria sido apreendida com Jean.
Sete meses depois, Igor foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de meio que impossibilitou a defesa da vítima e fraude processual. As investigações do caso foram concluídas em julho do ano passado pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Vila Velha e enviadas à Justiça, que aceitou a denúncia proposta pelo Ministério Público Estadual.
A mãe do militar, a professora aposentada Tania Maria Moreira, torce para a absolvição no dia do julgamento. "Dói muito ouvir as pessoas falarem sobre o meu filho como se ele fosse um assassino. Ele não saiu de casa para matar ninguém. Agiu como um policial para impedir que outras pessoas fosse vítimas e jamais imaginou que o outro fosse reagir", conta, em meio a lágrimas.
Igor é seu único filho. Desde que ele foi preso ela passa a semana contando os minutos para ir ao presídio do Quartel, visitá-lo. "Ele poderia ter ido embora, e se tivesse agido assim não teríamos passando por tanto sofrimento, mas ele sempre falou que era policial 24 horas. Na cabeça dele, se não agisse como policial naquele momento, seria contrário a tudo o que a ele foi ensinado", desabafa.
A expectativa de Tânia é de que o julgamento ocorra o mais rápido possível. "Espero justiça, que ele seja absolvido. Sou professora, criei o meu filho com o maior carinho, confiando na Justiça, me vejo em uma situação tão difícil. Ninguém espera isto para o filho, ter que visitá-lo na prisão. Não foi uma briga, não teve intuito de matar", conta, emocionada.
Na avaliação de Tânia, as duas famílias foram afetadas pela morte de Jean Pierre Otero Lazzarini. "Eu entendo a dor da outra mãe. Nesta tragédia só tivemos perdedores. Mas é muito difícil ver meu filho sendo tratado como um assassino", relata.
Uma prima do policial, Luana Oliveira, assinala que há pelo menos seis testemunhas que foram prestar depoimento. "Todas elas afirmaram que o Jean estava com uma arma de fogo na festa. Tem ainda laudo que comprava a vítima tinha feito uso de drogas e que tinha um triturador de drogas no carro", conta.
Ela acrescenta que, o mais difícil para a família, é a ausência de provas que sustentam a denúncia. "Em nenhuma das audiências alguém acusou meu primo de fraude processual, nem ter implantado uma arma na vítima, não tem nenhuma testemunha em juízo ou prova disso que sustentem essas denúncias. Ignoraram os primeiros policiais civis que estiveram na cena do crime e que apontaram legítima defesa. Ignoraram seis testemunhas que viram o Jean armado", assinala Luana. Ela garante que toda a família estará no julgamento.
A mãe de Jean, Simone Otero Lazarini, clama por justiça. "Meu filho queria viver, mas está morto. Foi friamente assassinado com três disparos pelas costas. Uma morte que desestruturou toda a minha família. É uma dor sem fim", relata, em lágrimas.
Ela torce para que o julgamento ocorra o mais rápido possível. "Tenho fé que a justiça será feita, e que a pessoa que matou meu filho seja condenada. Mas sei que nada irá apagar a dor em meu coração", diz Simone.
Jean Pierre foi morto na manhã de segunda-feira, em uma confraternização no bairro Araçás, em Vila Velha. De acordo com um morador, que não quis ser identificado, a festividade é tradição no bairro. Após a ceia, é comum os moradores se reunirem na praça, com bebidas e caixas de som.
Era por volta de 7h quando o universitário, que estava, de acordo com a versão do policial, com uma arma na cintura, foi abordado por um PM que não estava fardado. De acordo o policial, Jean Pierre teria reagido a uma abordagem e, por isso o PM teria atirado três vezes contra o jovem.
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