Em agosto deste ano, um casamento foi bancado e organizado dentro de um presídio de segurança máxima, em Viana, o que permitiu que lideranças das principais facções criminosas que atuam no Espírito Santo pudessem se encontrar. Durante a cerimônia os integrantes se reuniram livremente para trocar informações. Nenhum dos detentos usava uniforme de presidiário.
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Este é um dos exemplos não só do poderio, mas da influência e capacidade de articulação das organizações criminosas Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o seu braço armado, o Trem Bala, ambas ligadas ao Primeiro Comando da Capital ( PCC), cujas principais lideranças estão reclusas mas ainda continuam dando ordens e comandando suas empresas de dentro do presídio.
FORAGIDO
Um dos seus principais membros, que ainda está foragido, Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, foi um dos alvos da megaoperação nacional realizada pelo Ministério Público Estadual (MPES) em parceria com a Polícia Militar, que visa capturar os líderes de facções no país. Contra eles há vários processos que tramitam na Justiça Estadual de onde a reportagem obteve as informações.
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No último deles já são réus, com prisões decretadas no último dia 29 de novembro, 19 membros do Trem Bala, o braço armado do PCV. Dentre elas está o Marujo e a liderança maior, o fundador do PCV no Estado, Carlos Alberto Furtado da Silva, o Beto, que possui ainda outros cinco apelidos. Preso, ele comanda o Complexo da Penha, em Vitória, de dentro da Unidade Prisional Máxima II, em Viana.
Beto é descrito no processo como uma pessoa articulada, inteligente, com estratégias claras de alianças com outros detentos. Dentro do sistema prisional é tido como alguém com muito dinheiro, supostamente em nome de outras pessoas.
Lança mão de catuques - bilhetes trocados entre presos - e de cartas, de contatos com familiares que o visitam e até dos celulares que a ele chegam, mesmo dentro da prisão, para controlar com mão de ferro as lideranças a ele ligadas.
EXTREMA ORGANIZAÇÃO
Uma verdadeira empresa ou sociedade, como é descrita no processo, comandada por diretores, gerentes, responsáveis pela segurança dos pontos de preparação e venda de drogas, as conhecidas bocas de fumo, e, por fim, dos encarregados pela comercialização das drogas.
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Tudo funcionando a pleno vapor, comandado por Beto, com propósito de explorar o tráfico de drogas, contando até com diversos fornecedores de materiais ilícitos fora do estado. O curioso é que boa parte das principais lideranças, cerca de 83, estão presas.
E é de lá que saem as decisões que afetam as comunidades da Grande Vitória. Reflexos que foram sentidos ao longo do ano nas comunidades de Alagoano, Caratoíra, Piedade, Fonte Grande e Itararé, ficando apenas em alguns exemplos. Por lá a disputa de território, aliada à retirada de antigas lideranças, com homicídios, tornou a população refém. Ônibus não subiam, escolas e unidades de saúde fecharam.
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Uma das cartas constantes em processo, por exemplo, determinava a execução de um outro preso que havia acabado de deixar o sistema.
GREVE
Outro exemplo do poderio destas facções ocorreu durante a greve da Polícia Militar, em fevereiro de 2017, quando os detentos se mobilizaram para assumir o controle dos presídios. Os presos chegaram até a se rebelar com a direção do presídio quando foram informados que não poderiam trocar catuques com as lideranças, como Beto.
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Segundo informações do processo, estas lideranças levam a desordem e a intranquilidade pública à população , por meio de ações criminosas. Decidem quem vive ou morre e, juntamente a outras células criminosas (facções), agem unidos, com objetivos e metas comuns, buscando o lucro fácil do tráfico de drogas. Em suma, formam uma sociedade de grande periculosidade.
O QUE DIZ A PM
O diretor de Inteligência da Polícia Militar, Douglas Caus, confirma que as organizações criminosas denominadas de Primeiro Comando de Vitória (PCV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) têm atuado no território capixaba, mas destaca que elas estão sendo acompanhadas e monitoradas pelos órgãos de investigação.
Segundo Caus, a PM, a Polícia Civil, junto com a inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e o Ministério Público Estadual realizam com frequência levantamentos e investigações sobre estas organizações. São a partir destas informações que vão sendo traçadas as estratégias de combate a atuação destas facções e desencadeadas operações. Muitas delas resultaram na prisões de lideranças, informou.
O trabalho conta ainda com a troca de informações com o setor de inteligência prisional, da Secretaria de Justiça (Sejus), sobre os presos detidos e as informações que eles repassam para as comunidades.
De acordo com o diretor, o Estado tem feito investimentos expressivos na área de tecnologia e de qualificação profissional para melhorar o monitoramento e atuação das polícias no combate as facções e organizações criminosas.
Na avaliação de Caus, este é o caminho para combater a atuação de facções e de seus reflexos nas comunidades.
Ele informou que no último ano a Sesp tem destinado recursos para investimento em tecnologia e que a Diretoria de Inteligência da PM (Dint), em conjunto com vários batalhões e a Polícia civil tem realizado várias operações com o Ministério Público. Na última terça-feira participamos da megaoperação voltada a localizar e prender as lideranças de facções criminosas em todo o país, relatou.
Por nota, a Secretaria de Justiça (Sejus) informou que investe em equipamentos e capacitação de servidores para evitar a entrada de materiais ilícitos das unidades prisionais do Estado. Acrescenta que é monitorada a movimentação dos detentos no interior das unidades prisionais com o objetivo de evitar qualquer tipo de articulação entre os detentos.
A Sejus, por fim, ressalta que mantém o controle do sistema prisional e que a Diretoria de Inteligência da Sejus atua em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) no monitoramento das informações.
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