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Polícia investiga grupo de vendedores de MMS na Serra

Polícia investiga grupo de vendedores de MMS na Serra

Após denúncia do Gazeta Online, Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) vai apurar comercialização de falso remédio para autismo

Publicado em 29 de maio de 2019 às 00:17

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Kit de MMS, que promete curar o autismo, adquirido pela reportagem de A Gazeta. (Marcelo Prest)

Após o Gazeta Online denunciar a venda de um falso remédio composto de dióxido de cloro para o tratamento e cura do autismo por um grupo de moradores da Serra, a Polícia Civil do Estado instaurou uma investigação sobre o caso. A apuração ficará a cargo da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Segundo a polícia, quem vende produto proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode ser condenado a até 15 anos de prisão.

"Toda vez que eu atribuo uma propriedade terapêutica a alguma substância eu estou equiparando a um medicamento. E o medicamento para ser comercializado precisa do registro na Anvisa. O artigo do código penal estipula uma pena para qualquer comercialização de medicamento sem registro na Anvisa (de 10 a 15 anos de prisão)", explicou delegado Brenno Andrade.

O dióxido de cloro é uma substância química presente na composição de alvejantes que se tornou conhecido na internet como MMS, sigla em inglês para "solução mineral milagrosa", e estava sendo comercializado pelo morador da Serra Jorge Gonçalves e outros administradores em grupos privados no Facebook e no WhatsApp. Jorge vendia o produto com a ajuda de seu filho Ângelo para diversos Estados no país.

A solução chamada de "kit de desparasitação" era enviada pelos Correios e vendida com valores a partir de R$ 90. A reportagem do Gazeta Online foi aceita em um dos grupos do Facebook que contém mais de 4 mil participantes e em outro do WhatsApp, chamado de "Desparasitação 14" e com mais de 200 membros, ambos criados por Jorge, que se identificava nas redes como Jorge Terapias.

(Reprodução)
Após reportagem, Jorge Gonçalves anunciou em grupo no Facebook que deixaria a venda de MMS. Em outro grupo, no WhatsApp, participantes se revoltaram com o fim da comercialização. (Reprodução)

Nos grupos, a todo momento uma moderadora do Paraná indicava o número de telefone de Jorge para que os participantes pudessem comprar o falso remédio. A reportagem fez contato com ele e se passou por um irmão de autista em busca de informações e com interesse na compra do produto. Jorge explicou que seria possível enviá-lo pelos Correios ou entregar pessoalmente o kit - composto por seis frascos, nenhum deles com rótulo indicando composição dos produtos - em sua residência na Serra. A reportagem foi ao encontro de Jorge e comprou das mãos dele o kit pelo valor de R$ 94,00 na manhã da última segunda-feira.

Momento em que a reportagem esteve na Serra para a entrega do MMS. (Reprodução)

RECOMENDAÇÃO

Em contato por telefone com Jorge Gonçalves antes de comprar o MMS, a reportagem ouviu do vendedor uma recomendação inusitada para que o tratamento de autismo desse certo. Na ligação, que foi gravada, ele afirmou que o uso do kit de desparasitação deveria começar durante a lua nova e a lua cheia.

TÓXICO

Segundo especialistas, o MMS não possui efeito medicinal e pode trazer sérios riscos para a saúde. Ele é obtido pela junção do clorito de sódio, usado para branquear produtos e descolorir papel, e também por ácido clorídrico, usado na obtenção de corantes e no polimento de metais. Ou seja, é uma substância altamente tóxica para o organismo humano e pode provocar lesões graves no esôfago, quando ingerido pela boca, e para o intestino, quando aplicado no ânus da pessoa via enema.

Nos grupos, eles afirmam que o que é expelido durante o tratamento via anal são os vermes, o que mostra o sucesso do tratamento, entretanto, o gastroenterologista Felipe Bertollo Ferreira explica que trata-se de partes da parede intestinal. “Quando você introduz qualquer coisa na mucosa intestinal pode trazer lesões. Isso que é expelido são fragmentos pequenos da parede intestinal.”

ENTENDA

Origem nos Estados Unidos

O MMS foi criado pelo americano Jim Humble ex-membro da cientologia - grupo religioso dos Estados Unidos que afirmam que a mistura poderia curar diversos tipos de doenças, como hepatite, diabetes, esclerose múltipla, doenças infecciosas, tosse, gripe, resfriados, malária autismo e até câncer e Aids.

No Brasil

Pais de crianças com autismo estão comprando a substância com a promessa de cura do transtorno que, segundo os médicos, não existe. Eles estão dando aos filhos uma solução vendida como medicamento, mas que, na verdade, não passa de uma substância química que é equivalente a água sanitária.

Na Serra

O  descobriu que um morador da Serra e seu filho vendem o produto e enviam pelo correio para diversos Estados no país. O “kit de desparasitação” é vendido a partir de R$ 90.

Investigação

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Após denúncia feita pelo Gazeta Online, a Polícia Civil anunciou que irá investigar o caso.

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