Sonhar com os pés firmes no chão e ter muita força de vontade fez com que Ozeilto Barbosa Oliveira, porteiro de um colégio particular de Jardim da Penha, Vitória, passasse para uma faculdade particular de Enfermagem. Ele tem 43 anos e, até 2016, toda sua escolaridade se resumia a até a 4ª série do ensino fundamental.
Ozeilto lembra que sentia vergonha quando o questionavam sobre seu nível de escolaridade. Por isso, entrou no Educação Para Jovens e Adultos (EJA), concluindo os ensinos fundamental e médio. Com isso, um de seus sonhos foi alcançado. Então, ele passou a correr atrás de outro.
Quando eu terminei, quis a faculdade. Eu já tinha vontade antes de trabalhar com enfermagem, mas isso despertou mesmo por eu trabalhar dentro de um colégio, tendo colegas me incentivando, lembra ele, que trabalha no Darwin.
No ano passado, ele ganhou uma bolsa para o pré-vestibular da escola e a rotina ficou apertada. Trabalhava como porteiro da escola das 6h às 15h, e, em seguida, ia para casa lanchar e ver os três filhos e os dois netos. Às 18h20, estava de volta à unidade, onde estudava até às 22h40. Depois da aula, chegava em casa por volta das 23h20 e, às 4h50 do dia seguinte, já estava de pé para a rotina recomeçar.
Nesse tempo, minha maior dificuldade era acordar cedo. Mas eu sempre coloquei a força de vontade na frente de tudo, conta.
AJUDA
Durante todo esse tempo, ele contou com a ajuda valiosa dos alunos do colégio que estudavam com ele. Eles tinham muita paciência para me ensinar. Eu tinha bastante dificuldade em absorver tudo aquilo e me ajudavam com muito carinho, diz o porteiro.
Na semana passada, saiu a aprovação de Ozeilto em Enfermagem. Ele passou pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) e começa o ensino superior no segundo semestre deste ano. Essa realização é uma coisa inexplicável. Mas foi uma felicidade imensa, a realização de um sonho, diz.
ENTREVISTA
O porteiro Ozeilto Barbosa Oliveira, 43 anos, conta como foi a trajetória até passar no vestibular.
Quando você resolveu voltar a estudar?
Eu tinha vergonha quando as pessoas perguntavam a minha escolaridade. Em 2016 entrei no Educação para Jovens e Adultos (EJA) e completei o ensino fundamental e médio. Quando terminei, quis fazer faculdade porque tinha o sonho de trabalhar com enfermagem. Então, ganhei uma bolsa de 100% no colégio onde sou porteiro e comecei a fazer pés-vestibular.
Qual foi a sua maior dificuldade nesse caminho?
Acordar cedo. Mas eu sempre coloquei a força de vontade na frente de tudo isso, por isso, eu conseguia acordar e fazer tudo que fiz.
Em algum momento você pensou em desistir?
Não. Nunca.
Por quê?
Eu creio que a pessoa tem um sonho, ela tem que correr atrás. Tem que ter em mente que vai ter barreiras, mas também alguns alívios. Todo meu trajeto foi com pé no chão.
O que você sentiu quando soube que tinha passado no vestibular?
É inexplicável. Mas foi uma felicidade imensa. Realização de um sonho.
Como vai ser daqui pra frente?
Vou continuar trabalhando como porteiro, na escola que eu amo e que fiz familiares e à noite, a partir do segundo semestre farei faculdade. Mesmo com dificuldade, eu vou estar em dois ambientes que faz parte do meu sonho.
Qual é o seu conselho pra quem pensa em desistir de um sonho?
Ter um sonho é correr atrás, vencer barreiras e obstáculos. Para essas pessoas eu falo que não desista. Seja insistente, tenha força de vontade. E, para as pessoas que acham que não têm oportunidade, eu digo que isso não é o fim. Sempre no fundo do poço há um luz, o recomeço de tudo.
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