A situação relatada por médicos em Jardim América não é exclusividade do bairro. Postos de saúde em Cariacica estão entre os piores da Grande Vitória. É o que aponta relatório do sindicato da categoria, após blitz no município. Tem até puxadinho para atender de maneira improvisada a população.
Conforme os dados da fiscalização do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes), o Pronto-Atendimento (PA) de Alto Lage e a unidade de Vila Graúna têm problemas devido à alta demanda e ao reduzido quantitativo de profissionais. Já Nova Canaã e Nova Rosa da Penha I e II estão com a infraestrutura deficitária, enquanto Santa Luzia é um puxadinho cedido pela igreja do bairro, por iniciativa do próprios moradores.
São unidades onde ano após ano a gente passa, faz a fiscalização e nada muda, ressalta Otto Baptista, presidente do Simes.
Mas, segundo ele, o problema não é restrito a Cariacica. Pelas blitze que a entidade promove é possível afirmar que 70% das unidades de saúde apresentam problemas. Otto Baptista diz que apenas em Vitória há infraestrutura adequada para os profissionais e pacientes.
De Norte a Sul do Estado, as unidades estão comprometidas em um ou vários itens. Algumas delas são extremamente caóticas, com falta de material básico, estrutura depredada e também com carência de mão de obra. Há gabinetes odontológicos comprometidos e falta até mesmo o mínimo para a coleta de um preventivo ou assistência à gestante, afirma.
Para Otto Baptista, falta gestão e, principalmente, o mesmo empenho na fiscalização das unidades públicas se comparadas às particulares. Não olham para o próprio umbigo. Nos consultórios, a fiscalização é ferrenha, inflexível e cada vez com mais exigências, enquanto seu próprio serviço está em completo abandono, compara.
PRECARIEDADE
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Carlos Magno Pretti Dalapicola, diz que a precariedade no atendimento é observada desde os hospitais até as unidades básicas. Nos hospitais com pronto-socorro, a demanda é alta, faltam leitos e muitas pacientes são atendidos no corredor, como denunciado pelo jornal A GAZETA no mês passado, ao revelar os 10 anos de descaso no Hospital Antônio Bezerra de Faria, em Vila Velha.
A situação vai se perpetuando por tanto tempo que o médico vai se cansando, ficando estressado porque não consegue fazer o mínimo pelo seus pacientes, afirma Carlos Magno.
Nas unidades básicas, ele diz, a fragilidade está na falta de itens básicos, como um abaixador de língua ou aparelho para medir pressão.
Já nos PAs e UPAs, segundo o presidente do CRM, o problema maior são as agressões frequentes aos profissionais, pois são eles que estão na linha de frente das unidades de emergência e recebem toda a revolta da população quando há qualquer dificuldade no atendimento.
A violência contra médicos é uma preocupação constante, a ponto de o CRM decidir organizar uma comissão, junto com o Simes e a Associação Médica do Espírito Santo (Ames), para dar suporte a profissionais que são vítimas ou se sentem ameaçados.
SAIBA MAIS
AS UNIDADES MAIS PROBLEMÁTICAS DE CARIACICA
Alto Lage
Vila Graúna
Sofrem com a alta demanda e a quantidade reduzida de profissionais
Nova Canaã
Nova Rosa da Penha I
Nova Rosa da Penha II
Infraestrutura deficitária
Santa Luzia
Funciona em um espaço improvisado cedido pela igreja do bairro
CONFUSÃO EM POSTOS
OS CASOS
01/04/2018
Por falta de atendimento médico, populares quebraram a recepção do Pronto-Atendimento (PA) do Trevo, em Alto Lage, Cariacica. Cadeiras, computadores, pontos eletrônicos e outros equipamentos foram destruídos. Quatro pediatras deveriam estar de plantão naquela noite, porém, apenas uma médica apareceu para trabalhar. Os outros três apresentaram atestados. Durante o dia, outros médicos fizeram o mesmo.
03/05/2018
Um paciente ficou nervoso com a demora para ser atendido e ameaçou funcionários do PA da Glória, em Vila Velha. Ele foi retirado do local pela polícia à força.
15/05/2018
Uma confusão na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Infantil de Serra-Sede fez o atendimento médico ser interrompido. Isso aconteceu porque uma mãe tentou entrar no local para socorrer o filho que passava mal, mas o segurança não deixou e outros pais se revoltaram.
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