Alérgico a mariscos, o presidente da Federação de Capoeira do Espírito Santo (Fecaes), Alcebíades Milton Cabral, o Mestre Cabral, de 60 anos, morreu após comer, sem saber, arroz com siri desfiado.
O acidente aconteceu na tarde desta segunda-feira (23) em uma corretora de planos de saúde e empréstimo consignado onde Mestre Cabral trabalhava no Centro de Vitória. Ele começou a passar mal após experimentar a comida de um colega, um corretor de 46 anos.
Na hora do almoço, ia pegar minha marmita para esquentar, mas o Cabral pegou, falou que estava cheirosa e pediu para experimentar. Deu duas garfadas e perguntou: Tem o quê, aqui? Eu respondi e então ele falou que era alérgico, disse o colega.
O corretor contou que saiu, desesperado, em busca de medicamento. Mas quando retornou ao escritório, o colega já estava desacordado. Com ajuda de colegas, eles tentaram reanimar o capoeirista com massagem cardíaca, mas não tiveram sucesso.
O Corpo de Bombeiros e o Samu foram acionados. Um irmão de Mestre Cabral, um cabo da Polícia Militar, também foi informado e acompanhou o socorro. Quando a ambulância do Samu chegou, levou o Cabral para o Hospital da Polícia Militar.
A filha dele, a bióloga Dandara Cabral, de 26 anos, disse que o pai chegou ao hospital sem vida. Meu pai sempre foi alérgico a marisco. Ele teve choque anafilático. Com certeza, não sabia que a comida tinha marisco. Em um caso desses, deveria aplicar adrenalina no organismo até ser atendido em um hospital. Infelizmente, não deu tempo, disse a filha.
Mestre Cabral era casado, deixou cinco filhos e dois netos. Dandara informou que o corpo do pai será levado às 8h desta terça-feira (24) para o Cemitério Parque da Paz, na Ponta da Fruta, em Vila Velha. O sepultamento será no mesmo dia, às 16h.
TRABALHO COM PROJETOS SOCIAIS
Familiares e mestres de capoeira que conheceram o presidente da Federação de Capoeira do Espírito Santo (Fecaes), Alcebíades Milton Cabral, o Mestre Cabral, disseram que ele contribuiu para o desenvolvimento de projetos sociais e do movimento negro capixaba.
Natural do Rio de Janeiro, Mestre Cabral se mudou para o Espírito Santo no fim da década de 1970. Atualmente, ele morava com a família no bairro Cidade Continental, na Serra, e trabalhava em uma empresa no Centro de Vitória.
Meu pai sempre teve projeto social com capoeira. Ele ajudou muita gente, atuou em muitos projetos sociais para tirar gente da rua e ajudar quem precisava. Graças a Deus, só tenho coisas boas para lembrar dele. Já recebemos muitas mensagens bonitas de apoio.
LUTA CONTRA O RACISMO
O depoimento é da filha de Mestre Cabral, a bióloga Dandara Cabral, 26 anos. Professor de capoeira Fábio Luiz Loureiro, o Mestre Fábio, conhecia Mestre Cabral desde o início da década de 1980.
Ele deixa um legado de resistência contra o racismo, preconceito e sempre teve envolvido com as causas das minorias, principalmente, dos negros. Já teve projetos sociais, trabalhou em presídios e movimentos sociais. A capoeira perdeu muito com a ida do nosso amigo Cabral, lamentou Fábio.
Cleber Alvarenga Brasil, o Mestre Nagô, ressaltou que Cabral foi um dos maiores responsáveis para a criação da Federação de Capoeira do Espírito Santo (Fecaes). Ele era bastante ativo, um dos mais antigos do Estado. Trouxe vários cursos e deu um norte muito grande aos capoeiristas do estado, disse Nagô.
Para José Walter Santos, o Mestre Walter, o Mestre Cabral teve sua história gravada e fundida com a história capixaba. Ficamos todos consternados e entristecidos com tal fatalidade, pois não perdemos apenas um homem, mas sim, um baluarte na nossa história, enfatizou.
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