Em setembro de 1998, A GAZETA noticiava a primeira cirurgia bariátrica por videolaparoscopia no Espírito Santo. A técnica foi uma das maiores evoluções tecnológicas da medicina e transformou o modo de fazer a cirurgia de redução de estômago a chamada bariátrica porque é menos invasiva.
O médico Antelmo Sasso foi responsável por operar os dois primeiros pacientes do Brasil no hospital Santa Mônica, em Vila Velha. Foi a primeira da América do Sul. Era um procedimento novo, que não envolvia mexer no estômago ou no intestino. A gente colocava um aparelho para regular a entrada de alimento no estômago. As cirurgias que eram feitas na década de 1990 atuavam na redução com o desvio do estômago, que hoje chamamos de bypass gástrico ou gastroplastia com desvio intestinal, disse Sasso.
A servidora pública federal Jandira Merotto, 63, foi uma das duas pessoas operadas por Sasso no Estado. Pesava 152 quilos. Sofria de hipertensão grave, estava muito pesada e cansada. Fiz a cirurgia utilizando a técnica da banda gástrica e consegui emagrecer 60 quilos em um ano. Estou mantendo o peso de 88 quilos. Se me sinto melhor? Voltei a viver!, confessou.
TIPOS
De acordo com Sasso, os tipos de cirurgia se baseiam na restrição da absorção de alimentos ou do tamanho do estômago. A videolaparoscopia é um dos tipos de cirurgia bariátrica, assim como a abordagem aberta, a robótica e atualmente a que pode ser feita por endoscopia.
Em relação aos procedimentos cirúrgicos, podemos destacar: os restritivos, quando se restringe a capacidade de comer ou reduzindo o tamanho do estômago; as disabsortivas, quando há uma disfunção ou desvio do intestino, e mista, que é a mistura dos dois procedimentos. Na cirurgia convencional, por laparotomia, corta-se de 10 a 15 centímetros do abdômen. Na cirurgia por videolaparoscopia, o corte é bem menor: de 0,5 por 1,2 centímetros, afirmou.
A cirurgia bariátrica por videolaparoscopia é feita através de cânulas e câmeras de vídeo, que são inseridas em locais específicos na região abdominal do paciente. As imagens são transmitidas na televisão ou no monitor cirúrgico, dando à equipe médica a condição de realizar a cirurgia.
Temos qualidade de equipamentos e de imagens. É tudo muito bem monitorado. A nova tecnologia trouxe um padrão mais perto do ideal, frisou Sasso.
Outra vantagem é o tempo para o paciente receber alta. O paciente receba alta em até 2 dias. Na cirurgia convencional, a alta pode ser dada em até 4 dias. Em uma semana a pessoa pode voltar a dirigir e ir para o trabalho, ressaltou.
REQUISITOS
Os pacientes que são submetidos à cirurgia bariátrica geralmente têm obesidade mórbida e índice de massa corpórea (IMC) acima de 30.
Esse foi o caso da editora de conteúdo audiovisual Weara Batista, 36, que fez a cirurgia bariátrica por videolaparoscopia em 2015 depois de tentar emagrecer pelo modo convencional e não conseguir.
Cheguei a pesar 96 Kg. Meu índice de massa corporal estava em 35. Alguns médicos não quiseram me operar, mas estava decidida, afirmou.
A inspiração veio da mãe, que a ajudava com informações. Na sala de cirurgia deu um medinho, mas fui até o fim, disse.
Para o médico cirurgião João Alípio Noé, os procedimentos são importantíssimos e devem ser cumpridos integralmente. Primeiro o paciente faz uma consulta com o cirurgião e o endocrinologista. Depois é realizada uma reunião informativa com a família. O terceiro passo é agendar uma consulta com o psicólogo e em casos específicos, se necessário, o paciente poderá ser encaminhado para o psiquiatra, ressaltou.
De acordo com Alípio, também devem ser feitas consultas com nutricionista, fisioterapeuta, além de realização de um exame pré-operatório.
VIDA NOVA
Há três meses o consultor de vendas Werrison Batista, 37, passou por todos esses procedimentos. Segui todas as recomendações e meus exames me deram respaldo para eu operar. Pesava 126 quilos. Meu índice de massa corporal estava em 36. Não comia na hora certa, não dormia direito por casa da obesidade que atrapalhava a minha respiração. Não fazia atividade física, a minha taxa de glicose estava alta, tentei emagrecer por três meses, sem sucesso. Fiz a cirurgia por uma questão de saúde e não me arrependo. Só penso por que não fiz antes, contou.
Hoje, Werrison vive uma vida bem diferente: alimentação melhor, atividade física e acompanhamento com profissionais de diversas especialidades. Foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida, ressaltou.
AUTOESTIMA
A bibliotecária Anelize Nunes, 41, fez a cirurgia em 2017. Ela chegou a pesar 110 quilos. Após o procedimento, ela perdeu 30 quilos. A decisão de operar não foi fácil. Mas a minha limitação física para calçar um tênis, as roupas que não se ajustavam ao meu corpo e o colesterol alto, me levaram a buscar ajuda médica. Hoje, tenho um caminho de equilíbrio, disse. Ela se sente uma nova pessoa. Estou com um probleminha no meu tornozelo, mas assim que melhorar, voltarei a caminhar e fazer atividade física.
O comerciário Luciano Feriane, 43, operou há 9 meses. Estava acima do peso, com dores nos joelhos, nas costas, tive pressão alta, fui pré-diabético e estava sem autoestima. Não conseguia emagrecer da maneira tradicional. Todos esses motivos contribuíram para eu procurar um médico e decidir fazer a cirurgia para redução de peso e viver uma vida melhor, confessa.
Ele contou que ouviu falar da cirurgia durante uma conversa entre amigos. Tomei coragem, fui à consulta médica, fiz os exames e em 30 dias estava tudo resolvido e com a cirurgia marcada pelo plano de saúde, destacou.
O melhor de tudo isso é ouvir meu filho dizer: Pai, você está um gato!. E não é que me sinto muito mais bonito hoje?, afirma. A experiência de Luciano acabou por incentivar a própria esposa, que vendo o esforço dele, decidiu fazer dieta e conseguiu emagrecer. Ela perdeu 15 quilos. (O autor é residente em jornalismo. Texto sob supervisão de Daniella Zanotti)
CIRURGIAS QUASE TRIPLICAM EM 6 ANOS
No ano passado, quando a cirurgia foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), a rede pública realizou 10.307 cirurgias bariátricas em todo o país. No Espírito Santo, por mês, são 12 atendimentos cirúrgicos pela rede pública de saúde. De 2012 a 2017 o número quase triplicou, passando de 260 para 624.
Para o Ministério da Saúde, a cirurgia bariátrica é o último recurso para quem luta contra a obesidade. São direcionados para o procedimento os pacientes que fizeram o tratamento clínico, mas não responderam bem.
Ou seja, o paciente que foi orientado a mudar seus hábitos alimentares, fez dieta, consultou o psicólogo, praticou atividade física, tomou medicamentos, mas não conseguiu reduzir peso.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o paciente que desejar fazer a cirurgia, deve iniciar o tratamento normalmente pelo posto de saúde. Se o médico entender, que ele precisará ser submetido à cirurgia o paciente será encaminhado para um especialista, que analisará a situação dele e o orientará sobre os procedimentos.
No setor privado, o número de atendimentos tem aumentado a cada ano. Em 2012, foram 72 mil cirurgias, em 2013, 80 mil e, em 2014, 88 mil e em 2015 93,5 mil cirurgias.
Dados do Mapa Assistencial da Agência Nacional de Saúde (ANS), afirmam que cerca de 100 mil pessoas fizeram a cirurgia nos últimos dois anos. Em 2016, foram feitas 50.443 cirurgias. Em 2017, a demanda diminuiu, chegando a 48.299 atendimentos. A queda pode estar relacionada justamente com a incorporação do procedimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) que foi estabelecida em uma portaria do Ministério da Saúde no início do ano passado.
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