Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, Alícia Real Tuão, 63 anos, pega o ônibus e faz o percurso de Cachoeiro de Itapemirim a Presidente Kennedy para dar aulas. Os 80 quilômetros na estrada não incomodam mais a professora, que após 30 anos, se orgulha em contar tudo o que conquistou com a profissão.
Alícia começou a carreira dando aula em Presidente Kennedy. Depois que casou, foi morar em Cachoeiro de Itapemirim, mas não achou que seria vantagem ter um cargo lá. "Ia perder muitos benefícios, o impacto ia ser grande no salário", explicou.
É dela a maior renda da família. A professora possui duas pós-graduações e atualmente faz Mestrado aos fins de semana em São Mateus. Hoje ela consegue tirar aproximadamente 5 salários mínimos nas duas escolas onde trabalha."Sem dúvida o salário conta muito. Como eu tenho um certo tempo de trabalho, ainda tenho as vantagens", conta.
A situação de Alícia não é atípica no município do Sul do Estado. "O ônibus vem lotado. Tem gente de Cachoeiro, Marataízes. Todo mundo vem atrás do salário aqui", brinca a professora.
Quase metade do quadro de funcionários da prefeitura é de fora. Dos 354 professores que atuam em Presidente Kennedy, 166 vem de outros municípios, de acordo com a Secretaria de Educação. Há casos de profissionais vindo da capital, há 170 quilômetros do município, e até mesmo de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro.
"A gente oferece muitos incentivos. Temos um bom plano de carreira, oferecemos cursos de formação, bolsas para pós-graduação e vale alimentação no valor de R$ 900 para qualquer profissional, seja ele efetivo ou contratado. Acredito que isso estimula muito o professor", disse a secretária de Educação Fátima Agrizzi Ceccon.
Os benefícios fizeram com que Bianca Verdan, 23, trocasse a casa com a família no interior do Rio de Janeiro por uma kitnet no município capixaba há alguns meses. Sem muitas oportunidades onde nasceu, ela viu em Presidente Kennedy a chance de lecionar na área em que se formou: Educação Física.
Mas se sobram benefícios, falta infraestrutura. A reportagem visitou três escolas no município e encontrou salas pequenas, improvisadas. Alguns locais sem espaço apropriado para as aulas e materiais para os profissionais. Como é o caso de Bianca, que traz bolas e bambolês de casa para poder dar aulas de Educação Física.
Presidente Kennedy é um município com diferentes realidades. A cidade dos royalties, conhecida por oferecer benefícios ao profissionais e ter pisos salariais relativamente mais altos para professores com nível superior- o valor para pós-graduação no município é de R$ 2.539, 29. Já para Mestrado, R$ 2.946,00- é também um dos 35 municípios que paga menos de R$ 1.598,59 a um professor de nível médio, como demonstrou o levantamento inédito realizado por A Gazeta. Lá, o piso é de R$ 1.428,46 e apenas um professor, entre tantos ganhando acima do piso nacional, ainda é remunerado abaixo do valor da tabela, que não é reajustada desde 2014.
"O município realizou um estudo em junho deste ano e viu que o piso estava defasado. Já solicitamos o reajuste para equiparação do Piso Salarial Municipal ao Piso Nacional. A defasagem é de 11,91% e será corrigida em pouco tempo", justificou a Secretaria de Educação, por meio de nota.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta