Dezenas de pessoas participaram de uma passeata pelas ruas de Domingos Martins para lembrar os dois anos que as famílias dos integrantes do Grupo Folclórico Bergfreunde esperam por justiça. No dia 10 de setembro de 2017, um acidente na BR 101 matou onze dançarinos e deixou outros nove feridos. Eles retornavam de uma apresentação em uma cidade mineira.
Esta foi a segunda caminhada de protesto realizada por familiares e amigos das vítimas. O grupo se reuniu às 16 horas, em frente ao Hotel Imperador, e de lá percorreu as vias da cidade, passando pela Rua de Lazer e a Avenida Principal. Depois, os participantes seguiram para a praça Dr. Arthur Gerhardt, onde foram realizadas homenagens às vítimas.
CARTA ABERTA
Na praça, também foi lida uma carta aberta à comunidade e às autoridades, escrita pelos familiares das vítimas, cobrando por Justiça e pedindo mais prudência aos motoristas no trânsito. Confira o texto na íntegra:
"Nós, famílias das vítimas fatais, Grupo Folclórico Bergfreunde de Campinho e sobreviventes da tragédia que ocorreu com o grupo no dia 10 de setembro de 2017 e que vitimou fatalmente onze pessoas, viemos a público, mais uma vez, realizando essa manifestação para que o ocorrido não caia no esquecimento e para que a justiça seja feita.
Mais um ano passou e o dia 10 de setembro se apresenta novamente. Traz consigo a dor da perda, a angústia da ausência e a revolta da impunidade. Desde o dia 10 de setembro de 2017 convivemos com esses sentimentos. Onze famílias e uma cidade que tiveram suas vidas e suas rotinas repentinamente transformadas e desde então estão condenadas a conviver com a perda tão trágica dos seus.
Neste período de dois anos, tentamos viver nossas vidas, retomar nossas atividades, mas é comum nos pegarmos, distraídos, lembrando da alegria que aqueles meninos e meninas nos traziam, seja em casa ou nos palcos quando se apresentavam. Não houve um dia sequer que nossos pensamentos não nos levaram até eles.
Mas o que realmente dói é saber que fomos privados da convivência deles pela imprudência, por ações inconsequentes que põem em risco muitas vidas todos os dias nas estradas. E temos certeza que essa falta de prudência no trânsito só vai acabar quando aqueles que desrespeitam a vida ao assumirem um direção perigosa forem punidos com o rigor da lei.
Dois anos para quem perdeu um ente querido é uma eternidade. É um vida. No nosso caso, ainda temos a sensação de que fomos os únicos penalizados. Foram 11 homicídios e 09 tentativas de homicídio, mas até agora o processo pouco avançou. E é essa sensação de impunidade tem levado um pedaço de nós a cada dia que passa.
Os dias passam lentos, o tempo machuca com a dor da saudade, mas confiamos na justiça de Deus e acreditamos na chegada da justiça dos homens.
Por isso, fazemos um apelo às autoridades. Nosso grito é para que a justiça seja feita neste caso, mas também que isso possa contribuir para outras famílias não precisem passar por isso que estamos passando. Sabemos que não foi acidente e que poderia ter sido evitado de muitas formas. Não deixem que aconteça novamente.
Apelamos também aos motoristas profissionais ou não. Tenham cuidado e sejam prudentes. Vocês transportam vidas. As suas vidas, de suas famílias e de famílias alheias estão em suas mãos ao assumir a direção de um veículo."
TRAGÉDIA NA RODOVIA
Os onze integrantes do grupo folclórico que morreram estavam em um micro-ônibus que pegou fogo após bater de frente com um caminhão de bebidas no Km 450 da BR 101, em Mimoso do Sul. Todos eram integrantes do grupo de dança alemã Bergfreunde, de Domingos Martins. Eles estavam voltando de uma apresentação na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Os casais de dançarinos tinham com idades entre 17 e 42 anos.
Segundo a Polícia Rodoviária federal, 20 pessoas estavam no micro-ônibus. Delas, 11 morreram. Outras três pessoas tiveram lesões graves, duas sofreram ferimentos lesões leves e quatro saíram ilesos. O grupo era composto de jovens e fez apresentações na 23ª edição da Deutsches Fest. Eles saíram de Domingos Martins em uma sexta-feira (8).
O músico Éden Schambach Júnior, 48 anos, participou dos ensaios para a apresentação em Minas Gerais, mas não viajou com o grupo por conta de um compromisso na cidade. Na época, o músico contou à reportagem que o veículo no qual os dançarinos estavam foi alugado com recursos do Edital de Locomoção da Secretaria Estadual de Cultura (Secult).
O caminhão com chapas de granito seguia de Vitória para o Rio de Janeiro e perdeu o controle quando passava por um outro automóvel, derrubando todo o granito na pista. Em seguida, colidiu contra a lateral do micro-ônibus que, desgovernado, invadiu a contramão e bateu contra uma carreta que transportava cervejas. Ambos pegaram fogo. O Ford Ka, que seguia atrás do micro-ônibus, colidiu com os pedaços de granito espalhados na via.
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