Com o aumento dos casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, e diante da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sentido da autonomia dos Estados e municípios para adotar medidas de isolamento social, surge a dúvida do que exatamente este isolamento significa e de quais seriam as diferenças entre os termos que vêm sendo utilizados, como "quarentena", "lockdown" e "distanciamento social".
Para explicá-los, a médica infectologista Rubia Miossi fala em três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado e bloqueio total, ou lockdown em inglês, que vem sendo chamado popularmente de quarentena.
Para que aconteça o distanciamento seletivo, a especialista afirma que é preciso haver número de testes suficientes para verificar o máximo de pessoas com sintomas. "Sabemos que ainda não temos essa disponibilidade", disse.
Outro aspecto a ser considerado é que a casa onde estas pessoas estejam seja adequada, por exemplo com quartos separados. "Não é a realidade social brasileira, já que há muitas residências pequenas com muitas pessoas. A situação brasileira complica a aplicação deste tipo de distanciamento, que também já foi chamado de isolamento vertical. O nome mais adequado é distanciamento social seletivo", recomendou.
Também é necessário que as pessoas sigam à risca. "As pessoas têm muita dificuldade de cumprir isso, então acaba sendo um mecanismo muito frágil para controlar a doença. O Reino Unido, por exemplo, adotou por um tempo e não deu certo, explodiu o número de casos", relatou.
Também pressupõe o cumprimento. "Este método é mais efetivo, já que reduz a circulação de pessoas e consequentemente o contato e o contágio. O distanciamento social ampliado diminui a velocidade da propagação da doença. O maior problema desta modalidade é o fator econômico, que vem sendo tão debatido", explicou.
Apesar de mais extremo, o bloqueio total não se apresenta como melhor opção em curto prazo, segundo a especialista Rubia Miossi. Além da situação econômica, que é bastante atingida, os primeiros resultados do lockdown aparecem a partir da terceira semana de aplicação. "As pessoas adoecem e acabam contaminando quem está com elas no domicílio", relatou.
A proposta de bloqueio funcionaria adequadamente caso partisse de um distanciamento ampliado em que o número de casos confirmados da Covid-19 já tivesse esgotado o sistema de saúde. "Neste caso o bloqueio funcionaria, porque as pessoas já estariam em casa mesmo", ressaltou a médica.
De acordo com Miossi, o mais importante é saber que nenhum dos três conceitos precisa seguir a sequência para ser aplicado. Existem lugares que, por exemplo, não necessitam de lockdown, que tenham sistema de saúde muito bem equipado "Acredito que nenhum país tenha essa condição, acabou que todos acabaram correndo atrás do prejuízo depois", opinou.
Na visão da médica, não é apenas uma autoridade que define a medida mais eficaz a ser tomada, mas devem ser levadas em consideração as várias áreas de conhecimento. "Não é uma decisão que o governador toma sozinho, ele deve ser assessorado por experts de várias áreas. Só conseguimos entrar na fase atual sem esgotamento do sistema porque temos feito o distanciamento ampliado há três semanas. É agora que vamos ver mais casos graves e o sistema de saúde vai começar a se esgotar", disse.
Para ela, o distanciamento ampliado ainda é o método necessário e a sociedade precisa estar consciente de que não daria certo aplicar o distanciamento seletivo por enquanto. "A não ser nos municípios em que menos de 50% das vagas ocupadas. Mais do que isso já não dá. Este é o momento de cumprir as medidas orientadas pelos agentes de saúde, não importando a opinião pessoal de cada um. Devem ser ouvidos os especialistas, devemos obedecer, mesmo discordando", pontuou por fim.
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