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Raios sem fim: entenda o que aconteceu no Espírito Santo

Raios sem fim: entenda o que aconteceu no Espírito Santo

Segundo o Inpe, a incidência de descargas atmosféricas nesta segunda foi considerada muito alta

Publicado em 6 de março de 2018 às 22:19

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(Marcelo Franco | Arte | A Gazeta)

Mais de sete mil raios foram detectados pelos equipamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) durante a noite desta segunda-feira (5). Desses, cerca de 3,9 mil atingiram o solo. Os clarões e os estrondos assustaram os capixabas. Segundo o Incaper, a "chuva de raios" aconteceu pois um sistema de baixa pressão atmosférica provocou a formação de áreas de instabilidade. Estas áreas de instabilidade formaram muitas nuvens com grande crescimento vertical, e estas por sua vez provocam pancadas de chuva acompanhadas de muitas descargas elétricas.

Segundo o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto, a incidência de descargas atmosféricas nesta segunda-feira aqui no Estado foi considerada muito alta. "Essa situação realmente pode vir a causar danos e até fatalidades, atingindo pessoas. O lado positivo é que a ocorrência maior foi no final da noite, quando a maioria das pessoas está em casa e protegidas", relatou em entrevista à Rádio CBN Vitória.

O acúmulo dessas nuvens altas, conhecidas como cumulonimbus, é comum no Estado nesta época do ano, principalmente por conta do calor e da alta umidade. Segundo o Climatempo, são esses tipos de nuvens que provocam os temporais, pois carregam muitos raios e, eventualmente, provocam chuvas de granizo.

O internauta Jairo Alves Pereira Filho, que mora na Enseada do Suá, em Vitória, fez o registro do raio na noite desta segunda-feira (05). (Jairo Alves Pereira Filho)

MAIS TEMPORAIS

Apesar de as condições que favoreceram a tempestade desta segunda-feira já estarem se dissipando, isso não significa que os capixabas estarão livres dos temporais. Segundo o Climatempo, há uma frente fria chegando ao Estado já nesta quarta-feira (7).

Segundo o instituto, a frente fria se aproxima do litoral capixaba até a noite desta quarta e permanece próxima da região até o domingo. Até lá, todo o Espírito Santo terá muitas nuvens, períodos com sol e muitas pancadas de chuva, principalmente à tarde e à noite, que podem ser fortes. Há risco de mais temporais nos próximos dias e que podem ocorrer em qualquer região do Estado.

Moradora de Guarapari registra raio cortando o céu . (Cárita Lima Volpini)

RANKING

De acordo com o Inpe, o Espírito Santo ocupa uma posição mediana em relação à quantidade de raios que atingem o país. Segundo o coordenador do Elat, é bom lembrar que o Brasil é o campeão mundial em incidência de raios.

No Estado, os municípios da região do Caparaó são os mais atingidos por descargas atmosféricas. Dores do Rio Preto, Guaçuí e Divino São Lourenço são os três municípios com o maior registro de raios por quilometro quadrado por ano (veja tabela no final da matéria). O dado leva em conta uma média dos último 15 anos.

Já no ranking brasileiro de incidência de raios, os nove primeiros lugares ficam no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Apenas um município do Rio Grande do Sul, Forquetinha, aparece na listagem, em 10º lugar.

Fotógrafo registra vídeo impressionante de raio na região da Terceira Ponte. (Sagrilo | Arquivo | 2016)

CURIOSIDADES

> Qual a diferença entre raio, trovão e relâmpago?

O trovão é o barulho após a descarga elétrica. Ela percorre o caminho da atmosfera e aquece o ar. A temperatura em volta do raio chega a dezenas de milhares de graus. Com o calor, o ar se expande rapidamente o que causa o barulho: o trovão.

"As pessoas mais antigas até falam: 'O trovão é o que dá medo, mas é o raio que é perigoso'", lembra Osmar Pinto. Ele explica que o raio, ou relâmpago, é a descarga elétrica em si. "Essa sim pode levar à morte, queima de equipamentos, etc".

Relâmpagos são todas as descargas elétricas geradas por nuvens de tempestades, que se conectam ou não ao solo. Já os raios são somente as descargas que se conectam ao solo.

Ele conta que a pessoa pode ser atingida direta ou indiretamente por um raio. "O raio pode cair a até 80 metros da pessoa e mesmo assim correntes elétricas que vêm pelo chão podem chegar até a vítima".

 

> Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?

O especialista explica que esse é um mito muito comum, mas que não se confirma. "Esse mito teve origem com os índios e se propaga até hoje", afirma. Ele conta que o raio cai duas, três ou mais vezes em um mesmo lugar. Em locais muito altos e em regiões com grande incidência de temporais é possível que caia diversas vezes.

> Como surgem os raios?

"É um processo complexo que ainda não é totalmente compreendido", afirma Osmar. Mas ele diz que, de um modo geral, ocorre a partir do choque de partículas de gelo dentro de uma nuvem de tempestade. As nuvens de tempestade contêm tonelada de partículas de gelo que vão de alguns milímetros de comprimento a alguns centímetros.

Essas partículas colidem umas contra as outras e, por atrito, ficam carregadas eletricamente. Essas cargas vão se acumulando na nuvem até que, em determinado momento, ela dá origem a uma faísca, que gera o raio. Na maioria das vezes, o raio fica dentro da nuvem. Nessas ocasiões, as pessoas veem um clarão, mas não a descarga. Em cerca de 10% a 20% dos casos a carga sai de dentro da nuvem e atinge o solo.

> Um raio pode sair do solo em direção à nuvem (movimento inverso)?

Esse caminho inverso exite sim e é conhecido como raio ascendente. "Eles começam do chão e sobem em direção à nuvem. Esse tipo de descarga representa menos de 1% do total de raios e ocorre em pontos favoráveis, específicos, como uma torre em cima de um morro."

> Como os órgãos de monitoramento "contam" os raios?

O especialista explica que o Inpe opera diversas redes de mais de 100 sensores que são instalados em vários locais do Brasil. Quando acontece um raio, ele emite radiação eletromagnética, como uma onda de rádio. Essas ondas se propagam pelo espaço e chegam aos sensores. Os sensores captam e mandam para uma central no Inpe em São Paulo. "A partir do processamento da informação, a gente contabiliza o número, o local, o instante exato e até as características como a intensidade do raio, por exemplo", diz Osmar.

> Quais são as orientações no momento de uma tempestade de raios?

De um modo geral, se você estiver ao ar livre e perceber uma tempestade de raios deve parar imediatamente o que estiver fazendo e procurar abrigo em um carro fechado ou dentro de um imóvel. O carro é um local totalmente seguro mas, segundo o especialista, as motos são perigosas. "A moto nessas horas é extremamente perigosa. Semana passada houve no Estado de São Paulo a morte de um motociclista  no meio do temporal", conta.

Dentro de uma residência, a pessoa está protegida, mas não totalmente. É importante não entrar em contato com nada ligado à rede elétrica ou à rede telefônica, como usar um telefone com fio ou ficar encostado em uma geladeira. Osmar explica que o uso de telefones celulares não afeta a segurança, desde que o aparelho não esteja ligado ao carregador.

> Desligar os equipamentos protege contra raios?

"Protege os equipamentos, mas não faz muita diferença em relação à segurança as pessoas", explica. Normalmente, o raio cai próximo à rede elétrica e induz correntes na rede, de menor intensidade, mas com intensidade suficiente para queimar equipamentos eletrônicos.

> Espelhos e talheres atraem raios?

O especialista garante que este é mais um mito. "São mitos relacionados à época do império. Naquela época, havia espelhos grandes com estruturas metálicas que poderiam atrair, mas isso não existe mais hoje em dia", explica. Osmar garante que segurar tesouras, agulhas de crochê ou qualquer outro objeto metálico dentro de casa também não aumenta a chance de uma pessoa ser atingida por um raio. Para isso, seria necessário um objeto metálico maior, como uma pá, por exemplo.

> Para que serve o para-raio?

O equipamento instalado no topo de prédios e casas serve para criar um caminho para a descarga elétrica seguir até o solo sem causar danos ao prédio. "A ideia do para-raio é proteger a estrutura do prédio. No entanto, ele não protege os equipamentos nos apartamentos", alerta Osmar.

> O que fazer para socorrer uma pessoa atingida por raio?

O coordenador afirma que a pessoa atingida por uma descarga elétrica sofre geralmente de parada cardíaca e respiratória. Nessas horas, o mais importante é fazer massagem cardíaca e respiração boca-a-boca o mais rápido possível.

"É bom lembrar que a pessoa atingida não fica carregada eletricamente. Ela não vai dar um choque em quem a tocar. Não há perigo de correr em direção a essa pessoa e tentar ajudar. Você pode salvar a vida dela", alerta Osmar. Ele explica ainda que há vários registros de pessoas atingidas por descargas que foram salvas por quem estava próximo.

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