Quando percebeu que as filhas estavam emagrecendo muito por não se alimentarem como nos anos anteriores, e o que ganhava não era suficiente para poder comprar alimentos básicos para sua sobrevivência, a venezuelana Jackeline Briceno de Rivas, de 38 anos, decidiu vir para o Espírito Santo.
Para isso, ela precisou vender o pouco que tinha, como geladeira, máquina de lavar, televisão e até a aliança de casamento. Jackeline conta que a parte mais difícil foi se separar dos familiares e, para ela, é muito triste passar o Dia das Mães sem ter a dela por perto.
Na Venezuela, Jackeline tinha uma vida tranquila, trabalhava vendendo pães artesanais nas ruas, não tinha luxos, mas era o suficiente para cobrir as necessidades básicas. Dessa forma, em agosto de 2016, Jackeline saiu de Isla de Margarita, na Venezuela, com as duas filhas, Sara Rivas, de 10, Ana Rivas, de 6, e seu marido José Rivas, de 49. O filho mais velho, Victor Rivas, 20 anos, permaneceu no país.
Com o dinheiro que obtiveram da venda dos seus pertences, a família conseguiu ir de ônibus até Roraima. Quando chegaram lá, um amigo se sensibilizou e coletou doações para que eles comprassem uma passagem de avião para o Espírito Santo. Um ano depois, o filho mais velho, que permanecia na Venezuela, se juntou à família no ES.
O Brasil sempre esteve nos planos da família desde que sentiram a crise econômica se agravar no país. A vinda deles para cá não foi tão dramática, pois já tinham amigos que moravam no Espírito Santo. Fomos orientados por amigos que viviam há algum tempo aqui e isso facilitou bastante as coisas, principalmente para se adaptar, disse Jackeline.
Este ano completará três anos que eles vieram para o Estado. A maior dificuldade para eles é conseguir uma estabilidade financeira completa para trazer os familiares que ficaram na Venezuela.
REFUGIADOS
Jackeline não é a única refugiada que vive no Espírito Santo, dados do Ministério da Justiça apontam que, até março deste ano, foram feitos 246 pedidos da condição de refugiados de diversas nacionalidades, entre elas está a Síria, Cuba e Venezuela.
Para que os refugiados não fiquem perdidos quando chegam ao Brasil, foi criado uma rede de contatos entre Núcleos de atendimentos e ONGs que atuam na questão migratória em todo o país, entre eles está o Núcleo de atendimento aos refugiados do Espírito Santo da Universidade de Vila Velha (NUARES) que existe há 15 anos e atendeu 400 migrantes ou refugiados.
De acordo a coordenadora do Núcleo, a professora Viviane Mozine Rodrigues, a primeira coisa é garantir a proteção e o direito dessas pessoas. Para isso, os alunos da Universidade acompanham todo o processo. Eles vão até a Polícia Federal para fazer a solicitação de refúgio junto com o solicitante. A partir daí, sob proteção internacional, o solicitante de refúgio tem direito a tirar o CPF e carteira de trabalho no Brasil (provisórios) até o seu caso ser analisado pelo Comitê Nacional para refugiados, disse.
O Comitê é responsável para dizer se o migrante é um refugiado ou não do ponto de vista da legislação internacional e nacional. Além disso, Viviane ressalta que, após garantir o direito à proteção, é necessário fazer a integração local, oferecendo condições para que esta pessoa se integre à sociedade de acolhimento, através da saúde, trabalho e educação.
O Núcleo tem um cuidado maior com as mulheres que são refugiadas, principalmente porque são mais vulneráveis, mais dependentes do sistema de saúde, porém são mais empreendedoras. Geralmente vêm com filhos, precisam se inserir no mercado de trabalho rapidamente para sustentar a família. E também aqui enfrentam vários problemas, tais como a violência doméstica, comentou a coordenadora.
Os refugiados sempre pensam em voltar para casa. Viviane destaca que o refugiado não está em outro país porque quer, não se trata de uma escolha e, se ele fugiu do país, foi porque algum dos seus direitos humanos estavam sendo violados. É alguém que precisa de proteção.
VENEZUELA
Nicolás Maduro foi eleito em 2013 como presidente da Venezuela e, neste período, o país já passava por uma crise econômica causada pela queda do preço do petróleo - que é a principal atividade econômica do país - no mercado internacional.
Em 2018, Maduro foi reeleito em uma eleição geral suspeita por denúncias de fraude. A legitimidade da posse foi questionada pela oposição e pela comunidade internacional, agravando ainda mais a crise no país e fazendo com que Maduro perdesse o apoio dos setores populares. Após a posse de Maduro, o líder da oposição, Juan Guiadó, se autoproclamou presidente encarregado do país com um alto apoio popular.
A autoproclamação foi reconhecida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. O futuro da Venezuela permanece incerto devido à autoproclamação do presidente Juan Guiadó em contraponto ao presidente eleito Nicolás Maduro.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta