As ondas fortes que atingiram o litoral do Estado nos últimos dias, em razão da ressaca do mar, levaram embora parte de um muro de contenção e do calçamento de uma rua em Meaípe, Guarapari, a faixa de areia na Curva da Jurema, em Vitória, e até trecho da rodovia ES 060. Junto, a ressaca carregou também o dinheiro público: pelo menos R$ 5,7 milhões foram gastos nos últimos oito anos para manter de pé estruturas à beira-mar.
No caso mais emblemático, um carro caiu no buraco aberto no acostamento da ES 060, na região de Meaípe, nesta segunda (22). O motorista se salvou por pouco (veja entrevista). Outro veículo ficou pendurado.
A erosão é um problema antigo no local, há registros de mais de 20 anos atrás. Nesta mesma área da pista, em 2016, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER) realizou obras de contenção e correção de erosões provocadas pelas ondas entre Anchieta e Guarapari. Na época, o órgão afirmou que a intervenção, que consistiu em colocar rochas de maneira compacta (conhecido como enrocamento) e refazer o pavimento, custou R$ 3 milhões.
Em 2018, reportagem de A GAZETA que percorreu o litoral do Estado mostrando estragos provocados pela erosão marítima apontou que já havia problemas nessa mesma região. Parte da ciclovia, que passava ao lado do acostamento, já tinha rachaduras e estava isolada.
No trecho, que é próximo a falésias, as ondas batem diretamente nas pedras colocadas pelo DER. No ano passado, especialistas já diziam que a solução era paliativa. Os oceanógrafos ouvidos ontem pela reportagem afirmam que a única solução definitiva para o problema seria mudar a rodovia de lugar.
TRECHO DA ES 060 TEM PROBLEMAS HÁ MAIS DE 20 ANOS
O trecho da Rodovia ES 060 que foi palco de um acidente que poderia ter terminado em tragédia, ontem, já tem um longo histórico de problemas. Há pelo menos 22 anos, A GAZETA já publicava imagens e reportagens sobre os estragos causados pelo fenômeno.
Em 22 de agosto de 1997, foi publicada no jornal uma nota dizendo que parte da pista da do quilômetro 61,5 da ES 060, em Meaípe, corria o risco de desabar devido à erosão no barranco. Questionado sobre qual é o quilômetro exato em que houve destruição da mesma rodovia nesta semana, o Departamento de Estradas e Rodagem do Espírito Santo (DER-ES), responsável pelo trecho, não soube precisar.
O trecho é sensível à ação dos ventos, das chuvas e do mar (...). A erosão já oferece perigo para os veículos, diz reportagem da época.
Na ocasião, o órgão foi comunicado pela Secretaria Municipal de Transportes para que providenciasse a recuperação do trecho da rodovia em erosão que, inclusive, tinha deixado exposta uma tubulação de água.
VITÓRIA
Outro ponto que sofreu com a ressaca do mar no final de semana foi a Curva da Jurema, em Vitória. A última grande obra feita no local foi em 2011 e custou R$ 2 milhões. Segundo a prefeitura, a cada ano depois disso, o mar tomou, em média, 2,6 metros da faixa de areia.
Desde então, são feitas manutenções paliativas para tentar reduzir o impacto da erosão aos banhistas e donos de quiosques da praia. No último verão, caminhões da prefeitura fizeram o remanejamento da areia da parte norte da praia da Curva da Jurema, onde se formam bancos de areia naturalmente, para a parte sul, que sofre com as erosões.
O município não soube informar quanto é gasto com essas ações de manutenção, pois afirma que elas estão incluídas no orçamento de custeio da pasta de Meio Ambiente. A nova obra de engordamento deve custar cerca de R$ 3 milhões.
Em junho deste ano, houve a abertura de um edital de licitação para uma nova obra de engordamento artificial da praia. O objetivo será aumentar a faixa de areia até que ela fique com 40 metros de largura. Serão retirados 50 mil metros cúbicos de areia de jazidas marinhas, que serão colocados na Curva da Jurema. A promessa é que seja entregue pronta até o verão.
MEAÍPE
Um muro de arrimo construído há menos de dois anos na Praia de Meaípe foi outra vítima da ressaca. Parte dele ficou destruído por conta da força das ondas.
Segundo a Prefeitura de Guarapari, as obras do primeiro e segundo trecho do muro custaram, juntas, R$ 726 mil e foram finalizada no fim do ano passado. A terceira parte do muro, que vai custar R$ 465 mil, já teve a ordem de serviço assinada, mas as obras ainda não começaram.
Em um dos locais mais afetados, uma parte do muro de contenção da calçada caiu, um enorme buraco foi formado e invadiu parte da rua. Moradores e comerciantes afirmam que, a cada nova tempestade, os estragos ficam piores.
Já em Vila Velha, a ressaca dos últimos dias resultou em imagens impressionantes na praia de Ponta da Fruta. As ondas bateram nas paredes das casas. O município diz que a Defesa Civil não recebeu nenhum acionamento da região.
A prefeitura informou, ainda, que desde 2018 fez várias intervenções no local, entre limpezas e obras pontuais. A Prefeitura de Vila Velha, no entanto, não disse quanto custaram as intervenções.
QUEIXA DE ABANDONO EM PONTA DA FRUTA
A região de Ponta da Fruta, em Vila Velha, sofre com o avanço do mar há anos, algo que tem piorado com a ressaca do mar. A força da água tem destruído tudo que está pela frente, são vidros quebrados, portas e telhados. As paredes de algumas casas e comércios desabaram e há rachaduras por toda parte.
O problema já persiste há 10 anos e moradores e comerciantes se sentem abandonados pelo poder público. O corretor de seguros Enéas Rosalvo, de 54 anos, diz que desta vez a água está atingindo as casas desde sexta-feira (19).
A prefeitura está fazendo ações paliativas, como corte de árvores e limpeza, mas os problemas estão longe de serem resolvidos dessa forma. Precisamos de uma solução, é impossível dormir tranquilo sabendo que a água pode invadir a minha casa a qualquer hora, desabafa.
Teve gente que já até mudou de uma casa para outra. O pescador Joselias Viana, de 61 anos, conta que a casa anterior foi quase toda destruída e, atualmente, vive em um barraco. Na nova casa, sacos de areia foram colocados na tentativa de conter a força do mar, mas não teve jeito.
No ano passado coloquei um monte de sacos de areia, mas não conteve como deveria o avanço da água. Inclusive, a cobertura desta casa desabou, lamenta o pescador, que vive sozinho na região.
PREJUÍZO
Essa não é a primeira vez que os comerciantes têm prejuízo pelo avanço do mar. Roque Bravim, de 62 anos, possui um restaurante e uma pousada que ficam de frente para o mar. Ele disse que somente neste ano gastou R$ 20 mil com a reconstrução da área externa.
Há cerca de 10 anos estamos tendo problema, já gastei muito dinheiro para manter o restaurante aberto, da última vez precisei reconstruir a varanda. A água avança, quebra um monte de coisas e o problema nunca é resolvido pelo poder público. Até quando vamos ter que viver dessa forma?, enfatizou.
Ele acrescentou que o turismo reduziu na região com os problemas de erosão. Eles estão se afastando, a região está destruída. Antes, as pessoas fechavam pacote nos apartamentos, hoje o turista não tem procurado nem uma diária, acrescentou.
PREFEITURA
A Prefeitura de Vila Velha, por meio de nota, informou que está monitorando e acompanhando toda a orla do município. Quando a maré recuar, após a ressaca, e não houver perigo para operações no local, equipes das secretarias de Obras (Semob) e de Serviços Urbanos (Semsu) irão desenvolver ações que já foram desenvolvidas no ano passado.
A Prefeitura de Vila Velha realizou em 2018 diversas ações de limpeza e de infraestrutura em Ponta da Fruta, local de maior incidência do processo de erosão no litoral do município. Em outubro, a rampa utilizada por pescadores e moradores da Praia Rasa foi restaurada pela Secretaria de Obras da Prefeitura, disse.
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