Prestes a completar dois anos desde o crime bárbaro que chocou o Espírito Santo, uma homenagem é prestada à menina Thayná, morta no dia 17 de outubro de 2017, após ter desaparecido no bairro Universal, em Viana: um trecho de mais de 11 quilômetros de rodovia levará o nome da criança de 12 anos, brutalmente violentada e assassinada. O ato foi publicado nesta quarta-feira (16), na forma da lei 11.050, assinada pelo governador Renato Casagrande.
A área que recebeu o nome de Rodovia Thayná Andressa de Jesus Prado está compreendida entre Viana Sede, localizada na BR 262, e o entroncamento que dá acesso a Baía Nova, no município de Viana.
A menina Thayná foi estuprada e morta pelo acusado Ademir Lúcio Ferreira, de 56 anos, no bairro Universal, em Viana. De acordo com os autos do processo, o homem abordou a criança, que teria dito que estava procurando caixas de papelão para fazer uma mudança. Ele, então, ofereceu carona para ela em um Gol prata, afirmando que a ajudaria na busca. Ela acabou aceitando a oferta dele, sem saber que seria estuprada e assassinada.
Câmeras flagraram o momento em que ela entrou no carro de Ademir. Em seguida, a garota foi levada a um lugar ermo, no bairro Areinha, onde foi iniciada uma sequência de atos que caracterizaram abuso sexual, de modo semelhante ao que fez o criminoso dias antes, contra uma menina de 11 anos de idade, que acabou sobrevivendo.
Ademir iniciou o crime de homicídio contra Thayná ainda dentro do veículo, deixando marcas de sangue no banco traseiro do carro. Após a morte da menina, o homem escondeu o corpo em um alagado próximo a um matagal, ateando fogo para encobrir os rastros dos crimes praticados. Ele, utilizando-se de documento falso, seguiu para o Rio Grande do Sul, onde foi preso dias depois, na segunda-feira, 13 de novembro de 2017, com auxílio de policiais do Espírito Santo.
A própria mãe de Thayná, Clemilda Aparecida de Jesus, de 41 anos, foi imprescindível às investigações do caso. Ela, sozinha, correu atrás das imagens de câmeras em comércios próximos e entregou à polícia. Durante as investigações, mesmo com o apelo e protestos da mãe, não havia informações sobre o suspeito. Dentre as imagens obtidas, a de uma câmera de videomonitoramento flagrou o momento em que a menina entrou no carro cinza.
No dia 10 de novembro de 2017, uma megaoperação policial realizada em Viana, perto de uma lagoa, encontrou a ossada de uma criança do sexo feminino. Apesar de o padrasto ter reconhecido na hora o vestido como sendo de Thayná, o DNA que apontou oficialmente que o corpo era mesmo da menina só saiu no dia 4 de dezembro.
Ademir Lúcio Ferreira, acusado de matar a menina Thayná, segue preso preventivamente no complexo penitenciário de Xuri, em Vila Velha, aguardando direcionamento ao Tribunal do Júri para julgamento. A última movimentação no processo foi em 29 de outubro de 2018. A defesa dele chegou a entrar com recurso, buscando que o réu não fosse para júri popular, mas o pedido foi negado. Até o momento não há data definida para o julgamento acontecer.
Ao saber da homenagem, Clemilda, mãe da menina Thayná, expressou gratidão, sem, no entanto, esconder que para ela não existe felicidade. Eu fiquei sabendo do nome da rodovia. Mas me sinto tão desamparada, é tanta coisa que não acontece, que quando alguma coisa boa vem, nem deixa a gente feliz. Ainda aguardo a condenação daquele monstro e não tenho nem previsão de quando virá, iniciou.
Para ela, a filha continua sendo o motivo que a impede de desistir. Ela me dá forças, não me deixa fraquejar, nunca será razão para meu fracasso. E eu me apoio nisso e em Deus. Não é fácil acordar todos os dias com uma faca no coração. Acordo de madrugada e sinto vontade de acabar com o homem que levou minha filha, pensando que assim ele não mexeria mais com criança alguma. Ele me enterrou em cova viva. Fico muito agradecida de não cair no esquecimento, mas nenhuma homenagem tira a minha dor, não consigo nem voltar para minha casa, nunca mais pisei lá. Ele me deixou doente, acabou com a vida dela e com a minha, revelou.
Para Clemilda, o sentimento que fica até hoje é de revolta e o pedido que ela faz é por leis mais justas e severas para esse tipo de crime. Todo dia a gente vê isso se repetindo, é muito triste saber que isso acontece e ninguém faz nada, em pleno século XXI. Acho que a política só pensa em dinheiro e esquece o povo sofrendo. Gratificante seria saber que existe pena perpétua para esses monstros, queria que eles fossem extintos, declarou.
A gente se sente impotente, fraco. Penso que eu deveria ter cuidado mais. Lembro disso todos os dias, penso nela linda também. E essa semana, em especial, está sendo muito difícil, ainda mais completando dois anos. Hoje tive muitas recordações, lembrei da gente indo à praia juntas. É uma sensação muito ruim. Se fosse gente com dinheiro, o processo já estaria julgado e sentenciado. Por sermos da periferia, nem resposta eu tenho, expressou.
Sobre o assassino, Clemilda revela uma luta constante. É um leão por dia, ou por noite. Paro para pensar e vêm as mágoas. Ele me arrancou tudo, tirou minha filha de mim, junto com as oportunidades que ela teria. Me tirou o direito de ver Thayná se formando, se casando. Mas falar nela não me machuca, eu convivo com a dor todos os dias, finalizou.
A mãe da menina de 12 anos, à época do crime, esteve de frente com o acusado de sequestrar, estuprar e matar a criança, Ademir Lúcio Ferreira. Os dois prestaram depoimentos na CPI dos Maus-Tratos, realizada no Ministério Público do Espírito Santo, em Vitória. Durante a solenidade, o homem encobriu o rosto com as mãos e se disse inocente, ao passo que Clemilda se mostrou indignada durante o tempo em que esteve na sala.
Ele tirou tudo dela, todos os sonhos, tudo. Ele teve a coragem de estuprar, matar e colocar fogo nela. Ele não tem noção do que fez na minha vida. Ela tinha medo de um mosquito, mas não tinha medo de um ser humano. Ele é um monstro que merece sofrer. Não sei como ele convenceu minha filha a entrar naquele carro. Porque sempre conversava com minha filha, declarou Clemilda, que acrescentou: Quero saber o que ele disse para minha filha.
O Réu, à ocasião, se manifestou dizendo que não era ele no veículo no dia do crime. Se puxar um zoom da câmera veria que era uma pessoa gorda de barba e branca. Perto dele sou um negro. Não tenho nada a ver com esse caso do Bairro Universal. Os policiais roubaram minhas coisas, em Porto Alegre. A perícia fez uma perícia falsa. Estou providenciando esclarecer isso, disse Ademir.
Um ano após o crime que levou a vida da jovem Thayná, já no dia 17 de outubro do ano passado, familiares e amigos se reuniram em protesto na Avenida Expedito Garcia, em Campo Grande, no município de Cariacica.
Foram erguidos cartazes e balões em que eram pedidos respeito e justiça pelas crianças. Além da mãe de Thayná, Clemilda Aparecida de Jesus, estiveram presentes Rainy Butkovsky, pai do menino Kauã, estuprado e morto pelo padrasto, o pastor Gerogeval Alves, e Lorenzo Pazolini, que atuou como titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta