São 7 horas da manhã e a turma do 5º ano da Escola Municipal Padre Sérgio Banzza, em Águia Branca, aguarda em silêncio a revisão para a prova de Matemática. Essa turma é boa, brinca Anézio Roque de Souza, 60 anos, enquanto se ajeita com o apoio das muletas para começar a primeira aula do dia.
Instrumento de trabalho, as muletas revelam uma dor já cicatrizada faz tempo: uma das pernas precisou ser amputada após um câncer, antes mesmo de se tornar professor, quando tinha 20 anos. Anézio não gosta de falar muito sobre isso. Para ele, a limitação física nunca foi problema no trabalho. O que pesa mesmo é baixa remuneração né? Professor não é valorizado, diz.
Anézio é formado em pedagogia e tem duas pós-graduações. Mesmo depois de 25 anos de carreira, ele recebe aproximadamente R$ 2.200 como professor em Águia Branca.
O cansaço é perceptível, mas muitas vezes ignorado na correria do dia a dia. Faz tempo que ele não sabe o que é ter intervalo para almoço. Os 20 minutos que tem, o professor usa, de forma rigorosa, para dirigir 20 km até Pancas, onde atua como coordenador à tarde. Uma jornada dupla que permite renda um pouco maior, de cerca de R$ 4 mil no fim do mês. Se eu tivesse só um cargo eu estava passando fome. Só não tenho três cargos porque não dou conta.
O acúmulo de cargos é comum em Águia Branca, município onde todos os pisos, do nível médio ao doutorado estão abaixo dos R$ 1.598,59 estipulados por lei, segundo levantamento inédito feito por A Gazeta em todo o Estado. Lá, o menor salário é de R$ 1.296,84, pago a cinco professores com nível médio, entre eles o coordenador escolar Felipe Polez, de 26 anos.
Apesar de não ter nenhum professor com doutorado, o salário inicial para um docente com esta formação é de R$ 1.539,19, menor do que o mínimo determinado por lei para um profissional de nível médio.
As informações sobre o piso salarial dos professores em Águia Branca foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação. Elas fazem parte de um levantamento de A Gazeta que revelou que 35 municípios capixabas pagam aos profissionais de magistério menos do que R$ 1.598,59, valor mínimo determinado pela lei. A reportagem entrou em contato por e-mail e por telefone com a Prefeitura e a Secretaria de Educação, mas não teve sucesso. Foram feitas mais de 10 ligações para a Secretaria de Educação e em nenhuma delas a reportagem conseguiu falar com a secretária ou algum responsável pela pasta. Os e-mails também não foram respondidos.
No dia 3 de outubro, A Gazeta foi até o município de Águia Branca. A reportagem foi pessoalmente até a Prefeitura, mas nem o prefeito ou a secretária de Educação estavam no local. Também foi informado, por diversas vezes, a diferentes funcionários da Prefeitura sobre a necessidade de ouvir o município a respeito da defasagem dos salários. Contudo, até a publicação desta matéria, a Prefeitura ou a Secretaria de Educação não procurou A Gazeta para se posicionar e explicar porque o município não paga o piso aos professores.
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