Devota de Nossa Senhora da Penha, Vanusa Xavier sempre respirou os ares da fé, com fôlego de sobra para congregar em duas paróquias e praticar uma série de trabalhos voluntários. Mas de repente seu corpo físico deu sinais de que algo não estava bem. O ar começou a faltar, já não ia para os pulmões com tanta facilidade.
Logo em seguida, no fim de março, vieram o nó na garganta e o diagnóstico preocupante. As suspeitas se confirmaram: era a manifestação da Covid-19, a doença pandêmica do novo coronavírus.
Foram dias de isolamento, de incertezas, de tristeza, mas também de novenas a distância com os irmãos da Igreja e de muita reza. Até que a cura chegou, com a ajuda, faz questão de ressaltar, da Padroeira do Espírito Santo. Se as homenagens à santa na Festa da Penha já eram regadas a fervor e caminhadas ao Convento, neste ano o engajamento, mesmo que virtual, vai ter um significado ainda maior. Hipertensa, com quadro de arritmia, de problemas na tireoide e de alto colesterol, agravantes para seu quadro, Vanusa sabe que o momento agora é só de agradecimento pelo que testemunha ter sido uma bênção dos céus.
Moradora da região da Vila Rubim, no limite com o Bairro do Quadro, em Vitória, a fiel trabalha fazendo salgadinhos e teve de parar tudo de uma hora para outra, com o surgimento dos sintomas. Comecei com febre, não sentindo nem o paladar nem o olfato. Muita tosse e coriza. Logo começaram a falta de ar e as dores no corpo e na cabeça. Tudo muito forte. Também sou motorista, ando muito. Tive contato [antes de os sinais aparecerem] com pessoas que tinham acabado de chegar da Itália e de outros países, detalhou Vanusa, que pertence às paróquias de Santo Antônio e da Catedral Metropolitana, é integrante da Família Pavoniana do Brasil e presta serviços como voluntária visitando casas e hospitais .
Na hora do diagnóstico, o pensamento estava voltado para a família, a filha, Tainá, de 13 anos, e o marido, Paulo, 57. Pensei neles, porque é algo que os médicos não têm resposta para nos dar. Com o vírus, dentro desses 14 dias, ou você morre ou sobrevive. Apeguei-me totalmente à oração e à minha família. Só oração para tudo isso. Só Deus. Sei que Nossa Senhora estava comigo o tempo todo. Tudo pela fé. Passei todo o isolamento em oração, de 26 de março a 6 de abril, afirmou.
Os dias antes da confirmação da Covid-19 e os que se sucederam à identificação da doença não foram nada fáceis, com a apreensão e o distanciamento forçado da família dentro da própria casa. Fui a prontos-socorros várias vezes, mas nada passava. Com esses sintomas, os profissionais já me atendiam como suspeita. Foi onde procurei o Hospital Dr. Jayme Santos Neves (Serra), onde os exames foram feitos. Fiquei metade de uma noite e fui liberada para fazer o isolamento total em casa e acompanhada pela Secretaria da Saúde. Voltava ao hospital para monitorar os pulmões. Meu esposo e minha família também tiveram que ficar sem sair de casa, lembrou a microempreendedora.
Os amigos foram fundamentais nessa hora, ajudando espiritual e presencialmente o quanto podiam, já que pai, mãe e filha estavam em confinamento. Meus amigos faziam compras e colocavam lá fora de casa. Depois, meu esposo pegava e lavava tudo com água sanitária e detergente. Fiquei dentro de um quarto totalmente separada deles. Eles (esposo e filha) usavam os banheiros de baixo e eu, o de cima. Meu marido, que é caminhoneiro, mas roda só na Grande Vitória, antecipou as férias para cuidar de mim e de nossa filha. Continuo dentro de casa com máscaras, ainda por alguns dias e longe deles. Mas já está tudo bem. Meu esposo deixava os alimentos fora do quarto e eu pegava, emocionada. Foi difícil, recordou-se.
Mas agora todo esse relato virou testemunho de fé. Aos poucos, Vanusa se recupera. Embora avalia que ainda não esteja 100%, o pior já passou e agora é recuperar dentro do possível a rotina. Nessa história, a Virgem da Penha teve papel fundamental, reitera. E esta entrevista foi dada em homenagem à santa como retribuição por ter sido agraciada: É para Nossa Senhora da Penha. É um agradecimento a Deus e a ela.
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