Quem depende da venda de algum produto na praia para pagar as contas no final do mês viu a pandemia do novo coronavírus arrancar essa renda de uma hora para outra. Se R$ 1 mil já eram bem-vindos antes, imagina agora?! Autônomo, Joel Araújo Lima, que vive essa dura realidade, achou essa quantia enquanto andava pelas ruas de Vitória, na última terça-feira (14). Um alívio? Só se for para a dona do dinheiro, que o recebeu de volta, depois de uma busca persistente dele.
A missão de encontrá-la começou logo depois que ele achou uma necessaire branca com documentos, cartões, chaves e um valor alto em dinheiro vivo. Era por volta de 10h e eu estava voltando da barbearia de um colega meu, subindo a escadaria de Santo Antônio. No topo eu encontrei essa bolsinha, com tudo dentro, contou Joel.
Quando se deu conta da quantia que tinha na bolsa, parou de mexer e foi para a casa. Chegando lá, ele contou o que tinha encontrado para a esposa Roseane, que o questionou sobre o que ele iria fazer. A resposta foi categórica: Vou procurar um telefone e entregar de volta para a dona.
O que ele não sabia é que o telefone celular de Fátima Oliveira Neves havia sido levado por dois bandidos que a assaltaram no dia anterior momento no qual a necessaire também foi perdida. Depois de incontáveis ligações não completadas, ele adicionou o número em um aplicativo de mensagem e descobriu qual era a aparência da dona do telefone.
Observando os cupons fiscais jogados na bolsinha, ele identificou uma padaria, mas, por lá, ninguém a conhecia. O segurança do estabelecimento deu a ideia de perguntar por ela na Unidade de Saúde de Santo Antônio, onde Joel recebeu a ajuda da equipe de funcionários.
Em uma busca pelo nome completo de Fátima, a equipe nada encontrou. Quando jogaram alguns outros dados no sistema, encontraram o cadastro de uma das filhas. No telefone do cadastro, porém, ninguém atendia em outro assalto, dias antes, a jovem também havia perdido o celular.
Por meio dos dados do ticket alimentação, eles descobriram o nome da empresa, pesquisaram um meio de contato na internet e conseguiram falar com um funcionário que, finalmente, conhecia Fátima. Quando eu consegui falar com o chefe dela, já era por volta das 12h do dia seguinte, da quarta-feira (15), lembrou Joel.
Apreensiva, no outro lado da história, sem saber de nada disso, a cuidadora Fátima não acreditou quando recebeu a notícia. O meu chefe é muito brincalhão, achei que era uma brincadeira. Depois vi que era verdade e caiu a ficha. Eu simplesmente travei. Fiquei sem palavras, comentou.
Para recuperar os pertences, uma outra filha de Fátima fez o intermédio e encontrou Joel ainda naquela tarde. Ela me agradeceu muito e quis me dar uma gratificação. Só aceitei depois de muita insistência. Eu tinha R$ 20 no bolso quando encontrei a bolsinha, mas se quisesse dinheiro, e não fosse honesto, poderia não ter devolvido. A honestidade é que valeu. Fiquei com um sentimento de gratidão, revelou o autônomo.
Entre as pessoas que colaboraram para esse encontro está a assistente administrativa Sheila Braz, que trabalha na Unidade de Saúde de Santo Antônio. O que ele fez virou assunto. A gente ficou muito surpreso, porque deu trabalho para ele. Ele poderia ter desistido, falado que tentou devolver e que não conseguiu, ponderou.
Quando os funcionários do local souberam da situação financeira de Joel, eles se organizaram e juntaram doações. Como estávamos maravilhados pela atitude e soubemos que ele tinha uma filha de cinco anos, espalhamos a história para quem não estava na hora e começamos a juntar alimentos, contou Sheila.
A comida arrecadada durante os últimos dias renderam mais de quatro caixas e contou até com um ovo de páscoa. A entrega aconteceu de surpresa na tarde de sexta-feira (17) e terminou com outro bom exemplo. De acordo com ela, Joel pediu autorização para dar parte das doações a outras duas pessoas que estavam precisando. O pedido, claro, foi atendido.
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