Mais da metade das mulheres brasileiras vítimas de violência se calou após sofrer a agressão. Segundo pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 52% das vítimas não falaram sobre o caso nem mesmo para familiares ou amigos.
Mais alarmante ainda é o fato de que apenas uma em cada 10 procurou uma delegacia especializada. Para Cláudia Dematté, delegada-chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, os casos ainda são muito subnotificados, mas as denúncias crescem a cada ano. A violência contra a mulher sempre existiu em nossa sociedade e é fruto dessa sociedade machista e patriarcal, aponta.
Ela explica que, antes da Lei Maria da Penha, que é de 2006, o número de denúncias era menor ainda. A maioria dos crimes contra a mulher era considerada de menor potencial ofensivo. Na delegacia, apenas se lavrava um termo circunstanciado e o agressor, na Justiça, só pagava uma cesta básica. Isso desencorajava muito, lembra.
Com a lei, criou-se um mecanismo mais eficaz de proteção à mulher, segundo a delegada. Infelizmente, 12 anos depois, muitas ainda sofrem em silêncio.
Pelo contato frequente que tem com vítimas de violência, a professora da Ufes e procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele acredita que, no Estado, o quadro de subnotificação de queixas seja semelhante ao do país.
Catarina conta que já ouviu vários relatos de vítimas que, ao serem orientadas a procurar uma delegacia, optam por não fazer denúncia, mesmo quando informadas que vão ser acompanhadas e ter assistência.
MEDO
Elas nos procuram só para contar, mas não querem denunciar. Muitas têm medo de delatar o agressor. E esse é um número lamentavelmente alto, afirma a professora, que coordena na Ufes o projeto Direito pró-gênero. Ela estima que no Estado, para cada mulher agredida que denuncia, há uma que não apresenta queixa por medo.
A delegada Claudia Dematté sustenta que os motivos são diversos para não denunciar. Muitas têm vergonha de serem julgadas pelos familiares e amigos. Há ainda as que não denunciam porque têm ligação afetiva com o agressor, ou têm filhos com ele, e não querem que sofram com a prisão do pai, afirma.
A delegada pontua ainda os casos em que as vítimas são dependentes financeiramente do agressor, ou seja, são sustentadas por eles. Tudo isso dificulta. Mas nossa orientação é de que elas não se calem, que denunciem na primeira violência sofrida, diz.
Catarina Gazele também avalia que dependência econômica e falta de apoio familiar são fatores que inibem denúncias. Ainda há mães que falam para as filhas agredidas: volte para casa, faça uma janta gostosa e fique por lá. A rede de apoio à mulher precisa ser permanentemente fortalecida.
Outro ponto crítico, na avaliação da professora, é que a violência está tão naturalizada que muitas não reconhecem xingamentos, pressão psicológica e outros atos como agressão. Elas não têm noção de que estão sendo vítimas e não denunciam, conclui.
ONDE DENUNCIAR
Delegacias especializadas
Cariacica
(27) 3136-3118. BR 262, km 3, bairro Vera Cruz, Cariacica.
Serra
(27) 3328-7217
Rua Sebastião Rodrigues Miranda, 49, bairro Boa Vista II, Serra.
Viana
(27) 3255-1171
Avenida Levino Chacon, 149, Centro, Viana.
Vila Velha
(27) 3388-2481. Rua Luciano das Neves, 430, Prainha, Vila Velha.
Vitória
(27) 3137-9115. Av. Nossa Senhora da Penha, 2270, Santa Luzia, Vitória.
Plantão 24 horas
(27) 3323-4045. Rua Hermes Curry Carneiro, 350 - Ilha de Santa Maria, Vitória.
Interior
Também há delegacias especializadas em Aracruz, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guarapari, Linhares, Nova Venécia, São Mateus e Venda Nova do Imigrante.
Telefone
Em caso de emergência, ligue 190. Também é possível acionar a Central de Atendimento à Mulher no número 180.
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