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Chuva pode ter levado mais rejeitos de minério para a foz do Rio Doce

Chuva pode ter levado mais rejeitos de minério para a foz do Rio Doce

Em 5 de novembro de 2015,  43,7 milhões de metros cúbicos (m³) de lama vazaram da barragem de Fundão, da Samarco, que fica em Mariana, município de Minas Gerais. A situação está sendo monitorada por órgãos ambientais

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 12:54

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Lama do Rio Doce se encontra com o mar em Regência, Linhares. (Divulgação)
Chuva pode ter levado mais rejeitos de minério para a foz do Rio Doce

As chuvas que causaram destruição nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo podem provocar um fantasma adormecido no leito do Rio Doce

O volume de água deve deslocar os rejeitos de mineração que alcançaram o manancial em novembro de 2015, quando 43,7 milhões de metros cúbicos (m³) de lama vazaram da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, no município mineiro de Mariana.

Um comunicado divulgado pela Fundação Renova informa que o Programa de Monitoramento Qualiquantitativo Sistemático (PMQQS) acompanha a evolução dos parâmetros de qualidade da água em 92 pontos, de Mariana, em Minas Gerais, à foz do Rio Doce, em Linhares, município do Norte do Espírito Santo.

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), atingido pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco. (Antonio Cruz/ Agência Brasil )

Entre esses pontos, estão 22 estações automáticas que transmitem dados diários, inclusive subsidiando o planejamento preventivo dos sistemas de abastecimento da bacia. As informações são armazenadas em um banco de dados e compartilhadas com os órgãos ambientais.

O biólogo marinho Hudson Pinheiro acompanha as pesquisas que indicam os efeitos de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. Segundo ele, o ecossistema, as pessoas e as comunidades banhadas pela área atingida estão contaminadas.

"As pessoas estão com altos índices de metal pesado no sangue. O que acontece é que, quando o rio está vazio, os sedimentos tendem a decantar, a se alojarem no fundo. Com a cheia, eles vão se soltar e ser conduzidos para a foz, para o mar. Resta saber, através dos monitoramentos, o que vai acontecer", explicou o biólogo.

A Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh-ES) e o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) confirmaram que em períodos de cheia há aumento da correnteza e, por consequência, ocorre o revolvimento do leito do rio. O fenômeno natural pode gerar contaminantes na coluna da água.

Lama de rejeitos no Rio Doce, em 2015: municípios capixabas foram atingidos. ( Carlos Alberto Silva)

"Nesses momentos de cheia, a diluição dos contaminantes também é elevada. O revolvimento dos rejeitos no fundo do rio durante cheias não provoca necessariamente a limpeza do rio, pois os rejeitos podem simplesmente se deslocar de uma região para outra."

MONITORAMENTO

Para Hudson Pinheiro, o tempo será o principal aliado. Na avaliação dele, são necessárias políticas públicas que promovam a criação de unidades de conservação ambiental, evitem a construção de novas barragens e previnam novos acidentes.

"Existem algumas literaturas que apontam que esse tipo de impacto vai demorar até 150 anos para ser remediado. Vamos  acompanhar isso. A cada época de cheia, provavelmente, vai ter o aumento dos índices de metais pesados e contaminação da água."

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), atingido pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco. (Antonio Cruz/ Agência Brasil )

A Rede Rio Doce Mar, que apoia ações reparatórias relacionadas ao impacto que o rompimento da barragem de Fundão causou na biodiversidade aquática, também faz o monitoramento de diversos pontos ao longo da bacia do Rio Doce no Espírito Santo.

As análises acontecem a partir do acordo de cooperação técnico-científico com a Fundação Renova, responsável por gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões afetadas pelos rejeitos de minério.

Os pesquisadores coletam amostras ao longo do Rio Doce no Espírito Santo, na foz em Regência, em Linhares, na região marinha e áreas adjacentes. As equipes fazem medições dos sólidos em suspensão, coletam água e sedimento, além de material biológico.

"Iremos incorporar os resultados dessas análises em nossos futuros relatórios que entregaremos aos órgãos ambientais e à Fundação Renova, no âmbito do Acordo de Cooperação Técnico-Científica ora em desenvolvimento", diz a nota.

REJEITO EM USINA HIDRELÉTRICA

Localizada no município de Rio Doce, em Minas Gerais, a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, mais conhecida como Candonga, concentrou cerca de 15% do material que chegou ao reservatório. Por causa das chuvas, a preocupação é que os rejeitos de mineração atinjam o leito do Rio Doce e aumentem os índices de contaminação.

Em comunicado, a Fundação Renova informou que devido ao grande volume de água decorrente das chuvas, foi identificada uma ligeira inclinação na primeira de três barreiras metálicas construídas para conter o rejeito que ainda poderia chegar ao reservatório da hidrelétrica.

"Apesar de análise técnica indicar baixo risco, por precaução e prezando pela segurança, a Fundação Renova isolou a área e os acessos às margens do reservatório, seguindo o plano de evacuação e emergência elaborado para a área".

Conforme o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), do governo de Minas Gerais, ainda não houve avaliação da movimentação dos rejeitos sedimentados no reservatório da UHE Risoleta Neves.

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"O Sisema irá levantar, junto à Fundação Renova, a quantidade de rejeitos mobilizados com as chuvas, caso seja esta a fonte da turbidez. Após o diagnóstico, serão traçadas as ações necessárias à recuperação dos possíveis danos e ao controle dos impactos na fonte geradora", garantiu o órgão estadual.

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