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Comunidade quilombola sofre com água contaminada por metais pesados no ES

Comunidade quilombola sofre com água contaminada por metais pesados no ES

Atestado revelou alta concentração de metais pesados; problema persiste desde 2016

Publicado em 23 de março de 2019 às 16:37

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20 litros: esta é a quantidade de água diária disponível para uma família de quatro pessoas em comunidade de Linhares. (Reprodução/TV Gazeta Norte)

Há três anos, 178 famílias que moram em Degredo, no interior de

Linhares

, no

Norte

do Estado, perceberam que a água local não era boa. A comunidade tradicional quilombola, então, acionou a Fundação Cultural Palmares e pediu uma análise à Fundação Renova, responsável por reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015. O laudo saiu apenas no último mês. O resultado? Água imprópria para qualquer tipo de uso.

“Em 2016 começamos a sentir cheiro forte na água e também a sofrer com dores de estômago e diarreia. Todo mundo, como se fosse uma epidemia. Por isso, pedimos o laudo”, explicou a estudante Simony Silva. “O documento chegou agora e comprovou a contaminação com vários metais pesados. Entre eles: arsênio, chumbo, alumínio e ferro”, continuou, ressaltando que a região possui sete lagoas e um rio, todos comprometidos.

Comunidade de Degredo sofre com desabastecimento e água contaminada. (Reprodução/TV Gazeta Norte)

De acordo com os moradores, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) determinou, antes do resultado, que a Fundação Renova enviasse diariamente 15 litros de água para cada morador de Degredo – o que, segundo eles, não está sendo cumprido. “Nós recebemos apenas cinco litros por dia e por morador. Mal dá para cozinhar e matar a sede. Banho, por aqui, só com a água contaminada”, admitiu o pescador Pedro Leite.

A situação também é complicada para Francielli Borges, mãe de uma criança de apenas três anos. “Hoje, com o que eles fornecem para a gente, só consigo fazer comida e dar banho na minha filha pequena, para evitar que ela tenha algum problema de saúde. Afinal, a água que a gente tirava do poço, até agosto do ano passado, deixava as roupas amareladas e matava até as plantas que cultivávamos na horta”, revelou preocupada.

A pescadora Simone Rodrigues sofre com pontos vermelhos no corpo, em possível decorrência da água contaminada. (Reprodução/TV Gazeta Norte)

No caso da pescadora Simone Rodrigues há mais um agravante. “Sinto muita coceira e formigamento. Já sofro há mais de um mês e piora sempre que tomo banho. Eu ainda não sei o que é, estou aguardando os exames, mas tenho certeza que tem a ver com a água”, disse ela, que tem dezenas de pontos vermelhos pelo corpo. “Achava que era só eu, mas meus filhos e minha vizinha também estão assim”, acrescentou.

NO AGUARDO DE UMA SOLUÇÃO

Sofrendo há anos com desabastecimento e água contaminada, os moradores de Degredo esperam atitude dos órgãos governamentais e da própria Fundação Renova. “Queremos uma solução, porque estamos desassistidos. A descontaminação é algo a longo prazo, que já estamos conversando com o município. Enquanto isso, precisamos de mais água, do envio de caminhões-pipa. Não dá pra ficar desse jeito”, defendeu a estudante Simone de Jesus.

O OUTRO LADO

Em nota, a Prefeitura de Linhares informou que o abastecimento de água em Degredo é de responsabilidade da Fundação Renova; e que junto ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) mantém um diálogo permanente com a comunidade para resolver a situação.

Já a Fundação Renova, também por meio de nota, disse que se sensibiliza com a situação da Comunidade de Degredo, mas que todas as evidências técnicas mostram que não há nexo causal entre a qualidade da água na região e o rompimento da barragem de Fundão, já que resultados de laudos científicos evidenciaram que há diferentes formas de contaminação dos poços artesianos, com destaque para a microbiológica.

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Além disso, a Fundação Renova também informou que o atendimento realizado atualmente, com o fornecimento diário de cinco litros de água mineral por pessoa, foi assumido em caráter emergencial e temporário; e que busca, junto ao poder público, responsável pelo fornecimento adequado de água e saneamento básico à população, soluções para melhorar o abastecimento na região.

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