O desentendimento entre dois produtores rurais de Linhares, na Região Norte do Espírito Santo, que terminou com a morte de Wolmar Borges, de 56 anos, poderia ter sido evitado com uma conversa, de acordo com a polícia. A motivação do crime, segundo testemunhas, foi um impasse sobre o fechamento de uma vala que fica entre duas propriedades e estava sendo usada para escoar a água do Rio Doce que, com a cheia, causou alagamentos na região.
De acordo com informações da Polícia Militar, a vítima não queria que a vala na região fosse fechada, porque a propriedade dele estava alagada e o fechamento poderia resultar em mais prejuízos. No entanto, o suspeito de cometer o crime discordava, alegando que a vala estava na sua propriedade.
A vala era necessária já que os alagamentos nas propriedades que ficam na localidade de Cacimbas, no interior do município, são constantes. Por esse motivo, produtores cobram há anos uma solução para o problema junto aos órgãos responsáveis.
Em 2013, o nível do Rio Doce subiu bastante e alagou diversas propriedades rurais. A estrada de acesso à Cacimbas foi construída em um nível mais alto que o das fazendas, formando uma espécie de barragem, o que acaba impedindo o escoamento da água em casos de enchentes.
Nesse mesmo período, a força da enchente partiu a estrada ao meio, interditando o acesso à unidade de tratamento de gás da Petrobras e às fazendas da região. Na época, outros produtores, incluindo Wolmar, precisaram retirar animais das fazendas para evitar prejuízos.
A situação foi ficando cada vez mais complicada. Por esse motivo, os agricultores pediram a construção de pontes ou galerias que ajudassem a escoar a água do Rio Doce que pudesse invadir as propriedades. Em janeiro de 2014, o Sindicato dos Produtores Rurais reforçou com a Petrobras os pedidos de melhorias durante uma reunião.
Washington Vinturini, gerente da estatal no Norte do Espírito Santo à época, chegou a dizer que um projeto seria elaborado para resolver o problema. Nós vamos elaborar um projeto de pontes com uma extensão maior, com maior altura, que permita a passagem de água sem destruir a estrada e que não traga esse impacto para nós e para a comunidade, comentou.
Os meses se passaram e nada foi feito. Em dezembro daquele ano, Wolmar voltou a contabilizar novos prejuízos por conta dos alagamentos. Um milhão e meio (de reais) mais ou menos, o financeiro de despesas de refazer tudo, cerca, plantio de pastagem, renovação de cacau, renovação de seringueira, contou em entrevista à TV Gazeta.
Anos depois, a situação não era diferente. O trecho da estrada de Cacimbas em que o asfalto cedeu durante a enchente não tinha sido refeito. No local, foi construído apenas um desvio, sem projetos de melhorias concretas.
Por cerca de três anos a região viveu períodos de seca e os alagamentos só voltaram a preocupar os produtores em janeiro deste ano, com o retorno do período de chuva forte.
Atuante na busca por soluções para esse problema, Wolmar concedeu entrevista à TV Gazeta na última quinta-feira, dia 6 de fevereiro de 2020, para falar sobre a situação. Na ocasião, o pecuarista reforçou que mesmo após tantos anos pedindo melhorias, nada foi feito. Foi feito um acordo com a Petrobras para fazer um projeto e colocar as galerias nessa área aqui. Então nós estamos esperando, já tem 7 anos com esse projeto para ser executado e está aí o que vem provocando a situação novamente, disse.
Por nota, a Petrobras informou que a rodovia que liga o Canal das Águas à Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas (UTGC) é uma rodovia municipal de Linhares/ES, cabendo à municipalidade manter as condições mínimas de trafegabilidade da via.
Segundo a estatal, as atividades de processamento de gás da Petrobras também estão sendo afetadas em razão da falta de reconstrução do trecho danificado da citada rodovia, e reforça ainda que a Petrobras segue interessada na recuperação da estrada e na expectativa de que o poder público chegue a uma solução adequada para a via.
Por outro lado, a Prefeitura de Linhares, respondeu apenas que a manutenção do trecho é de responsabilidade da Petrobras.
*Com informações de Anelice Sena e CEDOC, da TV Gazeta Norte
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