Índios das tribos Guarani e Tupiniquim bloquearam trechos das rodovias ES 010 e da ES 257, em Aracruz, no Norte do Estado, nesta quinta-feira (31). Membros das aldeias da cidade protestaram contra a municipalização da saúde indígena e a transferência da demarcação de terras para o Ministério da Agricultura, em detrimento da Fundação Nacional do Índio (Funai). As vias foram liberadas por volta das 14h20.
As manifestações em terras capixabas fazem parte de uma mobilização nacional convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), batizada de Sangue indígena, nenhuma gota a mais!, que prevê cerca de 30 atos semelhantes a esse no Brasil e no mundo. Para a entidade, as mudanças anunciadas pelo Governo Federal representam um retrocesso.
Apoiador técnico da saúde indígena, Lindomar José de Almeida Silva, que trabalha no atendimento em Aracruz, explicou que as tribos da região contam hoje com assistência básica nas próprias aldeias, feita por profissionais que passaram por um treinamento específico. E, apenas se houver necessidade de exames ou atendimentos especializados, os índios são levados a hospitais da cidade.
Atualmente, estes deslocamentos são realizados pela Secretária Especial de Saúde Indígena (Sesai), mas a mudança alteraria essa logística. Se for concretizada, o município seria responsável por esse trajeto, mas a gente sabe que eles não fariam e jogariam a responsabilidade para o âmbito federal. O custo, então, ficaria por conta dos índios, que também não teriam como contar com o serviço de tradutor, elucidou Lindomar.
A municipalização da saúde prevê que os povos indígenas passem a ser atendidos nos centros de saúde, como os demais cidadãos. O tratamento igualitário, porém, não acontece, segundo o cacique guarani Nelson. Muitos de nós sofremos preconceito e vários membros, principalmente os mais velhos, não falam português. Ou seja, não conseguiríamos ser atendidos, explicou, revoltado.
A possível recusa foi ratificada pelo cacique tupiniquim Pedro. Nós somos tratados de modo diferente no município, embora também paguemos impostos e compremos coisas por lá, disse. Se eles mudarem o atendimento da saúde e a demarcação das nossas terras, seria uma perda muito grande, inclusive de autonomia. Nós lutamos por esses direitos, afirmou.
De acordo com o cacique Nelson, o protesto esteve previsto para encerrar as 14h desta quinta-feira (31). Como se trata de uma manifestação em âmbito federal e em estradas estaduais, a Prefeitura de Aracruz afirmou que não pode fazer nada a respeito das consequências dos atos para a cidade.
A reportagem do Gazeta Online também tentou contato com o DER-ES sobre os possíveis reflexos e medidas adotadas por causa das manifestações na região, mas até o momento dessa publicação não havia recebido resposta.
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