> >
Tragédia em Linhares: pastor tem prisão decretada

Tragédia em Linhares: pastor tem prisão decretada

Ele foi levado para a delegacia às 6h da manhã; de lá, saiu algemado, fez exames no SML e foi encaminhado para a Penitenciária Regional de Linhares

Publicado em 28 de abril de 2018 às 09:56

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
George algemado sendo levado para o SML de Linhares; rostos dos policiais foram borrados a pedido dos investigadores. (Brunela Alves | Gazeta Online)

O pastor Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, pai do menino Joaquim, 3 anos, e padrasto de Kauã, 6 — mortos carbonizados durante incêndio na casa em que moravam, em Linhares — foi preso na manhã deste sábado (28), após a Justiça expedir um mandado de prisão provisória, válido por 30 dias.

O Gazeta Online teve acesso com exclusividade a informações de alguns pontos destacados por autoridades que conduzem a investigação, entre eles a acusação de que George teria alterado a cena dentro do imóvel incendiado. [ Veja matéria completa ]

O pastor, que é conhecido como George Alves, foi levado para a 16ª Delegacia Regional de Linhares por volta das 6 horas deste sábado (28) em uma viatura policial descaracterizada. Quase três horas depois, por volta das 8h40, ele saiu algemado e foi encaminhado ao Serviço Médico Legal da cidade, onde passou por exames.

VEJA VÍDEO

 

Um médico legista foi acionado somente para atender George, uma vez que o SML de Linhares não funciona aos fins de semana. Às 9 horas, a viatura chegou à unidade para exame do pastor. De lá, às 9h40, George foi encaminhado à Penitenciária Regional de Linhares.

Chegada de pastor ao SML de Linhares; o rosto do policial foi borrado a pedido dos investigadores. (Brunela Alves | Gazeta Online)

[ Os rostos dos policiais estão borrados nesta publicação a pedido dos investigadores ]

NOTA DA POLÍCIA CIVIL

Acionada pela reportagem desde a manhã deste sábado (28), às 11h30 a assessoria da Polícia Civil emitiu uma nota sobre a prisão do pastor. Veja na íntegra:

"A Polícia Civil informa que equipes da Delegacia de Infrações Penais e Outros (Dipo) e da Delegacia de Crimes Contra a Vida de Linhares cumpriram, na manhã deste sábado (28), o mandado de prisão temporária, com o prazo de 30 dias, contra Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos. Ele estava em um hotel do município quando foi detido.

A prisão foi solicitada, na noite desta sexta-feira (27), pelo responsável pelas investigações do incêndio que vitimou dois irmãos, de 3 e 6 anos, ocorrido no último dia 21. O Ministério Público, pela Promotoria de Justiça, que acompanha o caso, se manifestou favorável ao pedido e a Justiça acatou.

A custódia cautelar do investigado foi requerida para preservar o bom andamento das investigações. George será encaminhado a exame de lesões corporais e levado a Penitenciária Regional de Linhares (PRL)"

PERÍCIA NA CASA COM LUMINOL

A terceira perícia realizada nesta sexta-feira (27) na casa onde os irmãos Kauã e Joaquim morreram carbonizados após um incêndio em Linhares durou três horas e 40 minutos. Desta vez, os peritos utilizaram uma substância chamada luminol, que é um produto usado pela polícia para detectar vestígios de sangue. A notícia desta terceira análise no imóvel foi dada em primeira mão pelo Gazeta Online.

Iniciados às 16h50, os trabalhos dos peritos foram encerrados às 20h30 desta sexta-feira (27). Novas perícias no local não foram descartas pelos profissionais.

Dois peritos saíram do imóvel por volta das 17h50 em uma viatura da Polícia Civil. Os dois retornaram dez minutos depois com mais materiais nas mãos para a continuidade da perícia. (Samira Ferreira)

MOVIMENTAÇÃO NA CASA

A reportagem do Gazeta Online esteve na frente do imóvel durante todo o trabalho dos policiais, e acompanhou a chegada dos delegados Romel Pio Júnior, que comanda a investigação, e André Jareta, que é chefe da 16ª Delegacia Regional de Linhares. Os dois ficaram na residência das 16h35 às 20 horas.

Promotores do Ministério Público acompanharam os trabalhos dos peritos. (Samira Ferreira)

Dois promotores do Ministério Público da cidade também estiveram na residência. Eles chegaram por volta das 16h50. A promotora do caso, Raquel Tannenbaum, e o promotor Bruno Freitas chegaram a sair da casa por volta de 18h40, mas retornaram ao imóvel às 19h05, onde continuaram acompanhando os trabalhos dos peritos.

À imprensa que aguardava do lado de fora da casa, Freitas disse que "o Ministério Público é o destinatário do final do inquérito policial. Somos nós que propomos a ação penal caso haja algum crime. A presença do Ministério Público é nesse sentido. Nós somos fiscais externos da atividade policial".

Por volta das 19h20 desta sexta, peritos colocaram esse pano preto em um dos cômodos da casa incendiada, em Linhares. O pano é para evitar que até a luz do poste, por exemplo, atrapalhe os trabalhos da equipe durante o uso do luminol. (Brunela Alves)

Raquel Tannenbaum reforçou que esteve no local para fiscalizar e acompanhar as investigações. "O Ministério Público está desde a fase embrionária junto da polícia". Nenhum dos dois promotores quis comentar sobre o trabalho da perícia.

VEJA VÍDEO

 

PERÍCIA NOS CORPOS

Também publicado com exclusividade pelo Gazeta Online, outra perícia será feita na próxima semana para analisar os corpos carbonizados

'PEQUENA QUEIMADURA'

George Alves, pai dos irmãos Joaquim e Kauã, com o pé enfaixado. (Reprodução | Facebook)

Mais cedo, o Gazeta Online publicou com exclusividade o resultado do laudo de uma perícia feita no pastor George Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã. A análise mostra que o pastor tem uma pequena bolha de queimadura no pé, do tamanho de uma moeda. 

Um outro detalhe da investigação, também obtido com exclusividade pelo Gazeta Online, mostra que a polícia confirma que o pastor George Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, estava dentro de casa na hora que o fogo começou. Desde o dia da tragédia, o pastor afirma que fez de tudo para salvar as crianças, mas não conseguiu. A hipótese de as crianças estarem sozinhas em casa quando o incêndio começou era um dos pontos investigados pela polícia. Portanto, a conclusão é tratada como um avanço importante na apuração do caso.

ENTENDA O PODER DO LUMINOL

O luminol é uma substância química capaz de identificar os mínimos vestígios de sangue em praticamente qualquer tipo de superfície, mesmo as lisas como os azulejos.

(Divulgação)

Trata-se de um produto químico especial capaz de fazer aparecer traços de sangue até então invisíveis a olho nu, se tornando um grande aliado dos investigadores. O processo começa pelo reconhecimento do local a ser investigado. O luminol então é aplicado com borrifadores especiais nas possíveis áreas onde pode haver resquícios sanguíneos. A reação acontece quando as moléculas do luminol entram em contato com o sangue. As partículas de ferro existentes na hemoglobina (uma proteína do sangue) se acendem gerando uma intensa luz azul que pode ser vista em um local escuro ou no momento em que se apaga a luz do ambiente.

Assim que a substância se mistura à hemoglobina, bastam apenas 5 (cinco) segundos para a luz radiante se tornar visível. A sua utilização é muito importante, pois a partir das manchas de sangue pode-se sugerir uma dinâmica do que teria acontecido e assim solucionar um caso.

Com a substância os pesquisadores conseguem detectar até traços de DNA. 

VIZINHA NARRA O QUE VIU

Uma vizinha que mora em frente à casa onde dois irmãos morreram carbonizados, no Centro de Linhares, Norte do Estado, narrou ao Gazeta Online os momentos de terror que vivenciou na madrugada do último sábado (21), dia da tragédia. Kauã, de 6 anos, e Joaquim, de 3, morreram abraçados e carbonizados.

A aposentada Carmem Bolsanello lembra que acordou de madrugada, por volta de 3 horas, com o barulho do alarme de segurança da casa dela. "Quando ouvi um barulho muito alto, acordei e imediatamente liguei para a empresa de segurança que administra os alarmes. Fui informada que estava acontecendo um incêndio em frente à minha casa e fui ver o que era", disse.  

De acordo com a vizinha, naquele momento, ela viu o pastor Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, mais conhecido como George Alves, desesperado e chorando do lado de fora da casa.

"Assim que abri a porta de casa, vi que o pastor estava desesperado gritando e chorando no meio da rua. Ele estava sendo segurado por bombeiros e policiais. Ouvi que ele pediu a Deus para socorrer as crianças. Ficava andando de um lado para o outro da rua", lembrou.

COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

George Alves com o filho Joaquim, 3 anos, e o enteado Kauã, de 6 anos. (Facebook | @GeorgeAlvesHair)

A aposentada também contou que, na casa onde os pastores estavam morando há cerca de um mês, via as crianças brincando na varanda e que, de vez em quando, via os cultos que eram realizados na área externa da residência.

"Via os meninos brincando de skate e bola na varanda. Até falei com meu neto que ele poderia fazer amizade com eles. Lembro de que às vezes não via ninguém na casa, mas de vez em quando eles faziam culto na varanda", comentou.

CASO "COMPLEXO"

O caso do incêndio que matou dois irmãos carbonizados em Linhares, região Norte do Espírito Santo, é tratado pela polícia como "complexo". Ao Gazeta Online, fontes da Polícia Civil afirmaram que atribuem à complexidade o aprofundamento das investigações. Tudo que é colhido, sejam provas testemunhais ou materiais, é mantido sob sigilo.

Acionado pela reportagem, o delegado Romel Pio Júnior, que comanda a investigação, reforçou que detalhes não serão passados, mas garantiu que a Polícia Civil está buscando todas as informações necessárias para que o caso seja concluído.

George Alves e Juliana Salles em frente ao DML de Vitória. (Marcelo Prest | GZ | Arquivo)

IMAGENS DE CÂMERAS RECOLHIDAS

Três dias depois da tragédia, nesta terça-feira (24), uma equipe da Polícia Civil recolheu imagens das câmeras de segurança da rua onde as crianças moravam para ajudar nas investigações sobre as circunstâncias do incêndio e entender a cronologia dos fatos. Os detalhes sobre essa nova perícia ainda não foram divulgados.

PERÍCIAS

Segundo a Polícia Civil, uma perícia foi feita pela equipe de Linhares no dia da tragédia, ocorrida na madrugada do último sábado (21). Nesta terça (24), foi realizada a perícia da equipe de engenharia da PC que foi denominada, anteriormente, como "complementar", embora não tenham sido divulgados detalhes do que contemplou essa nova perícia.

O pastor George Alves acompanhou o trabalho dos peritos . (Raphael Verly | TV Gazeta)

CORPOS AINDA NÃO FORAM SEPULTADOS

Um pastor amigo da família contou ao Gazeta Online que as crianças foram encontradas mortas pelo Corpo de Bombeiros em um canto do quarto. "Eles estavam abraçados e isso impactou muito quem estava lá porque os dois meninos foram recolhidos em um único saco". 

Os corpos somente poderão ser identificados após resultado de exames de DNA. Os materiais genéticos foram colhidos na última segunda-feira (23). O resultado deve sair em, no máximo, 15 dias.

CIDADE DE LUTO 

Creche Chapeuzinho Vermelho, onde Joaquim Alves estudava. (TV Gazeta)

O município de Linhares amanheceu de luto, nesta segunda-feira (23), após a morte trágica dos irmãos. Nas escolas em que os pequenos Kauã, 6 anos, e Joaquim, 3 anos, estudavam o clima não poderia ser diferente: dor e tristeza.

Kauã Salles estudava o primeiro ano do ensino fundamental na Escola Marilia De Rezende Scarton Coutinho, no bairro Interlagos. Nesta segunda, no portão da unidade, a palavra "luto" simbolizava o que professores e alunos sentiam.

A professora Mara Sena leu mensagem que os amigos de Kauã escreveram. (TV Gazeta)

A professora de Kauã Salles, Mara Sena, lembra como foi entrar na sala e ver o lugar do menino vazio. “Cheguei antes que eles entrassem na sala e bateu uma tristeza. Eu como mãe, avó, imagino a dor que essa mãe está passando”, disse.

A professora leu algumas mensagens que coleguinhas de Kauã fizeram para a pastora Juliana Salles, a mãe das crianças mortas. “Querida Juliana, vou sentir muita saudade do Kauã Salles. Você foi muito legal, Kauã”, escreveram.

O clima de tristeza também na creche que o irmão mais novo, Joaquim Alves, de 3 anos frequentava. A professora Keila Augusto Ferreira Agrizzi disse que não consegue acreditar na tragédia. “Até agora nós estamos tentando acreditar porque para mim parece um pesadelo. Todos estão muito tristes”, disse.

MORTE DE OUTRO FILHO

Pastores Juliana e George com os dois filhos mortos no incêndio e a filha, que já tinham perdido antes da tragédia deste fim de semana. (Reprodução/Facebook)

O casal de pastores George Alves e Juliana Salles tiveram que lidar recentemente com a morte da filha pequena, há aproximadamente 1 ano e meio, por causa de uma enfermidade, revelou o pastor Eufrásio Marques, amigo da família. "Agora, com essa fatalidade, a gente está pedindo que o Espírito Santo possa estar nos sustentando. Nós estamos muito abalados com essa informação", afirmou Eufrásio.

'DEUS VAI RESTAURAR NOSSOS CORAÇÕES'

Exemplos de fé. Com esta frase, fiéis da Igreja Batista Vida e Paz, de Linhares, descrevem os pastores George Alves e Juliana Salles depois de perderem os filhos Joaquim e Kauã. No mesmo dia da morte dos meninos, o casal esteve na igreja e recebeu o carinho dos amigos.

Em um vídeo é possível ouvir o pastor dizendo para os membros da congregação: "Deus vai restaurar os nossos corações. Deus vai restaurar os nossos corações". As imagens foram publicadas no Facebook na noite de sábado (21). O casal recebeu abraços demorados dos fiéis que se reuniram em volta deles na parte da frente da igreja. 

VEJA FALA DO PASTOR

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais