O Espírito Santo perdeu, na manhã deste sábado (09), um dos maiores nomes no ramo de exportação de café do país. O empresário Jônice Tristão, 90 anos, morreu em casa, por volta das 6 horas, de causas naturais. Os locais do enterro e do velório não foram divulgados pela família para evitar aglomerações.
Formado em Direito, Jônice era presidente do Conselho de Administração das Empresas Tristão, conglomerado que atua há 85 anos nas áreas de comercialização, armazenagem, industrialização e exportação de café.
O empresário também é o responsável pela fundação, em 1971, da Realcafé Solúvel do Brasil e do Café Cafuso, que atualmente estão sob o comando de um dos seus filhos, Sérgio Giestas Tristão.
Além de Sérgio, Jônice era pai de Patrícia, Ronaldo e Ricardo, já falecido. Os filhos são fruto de um casamento de 66 anos com Ilza Tristão. Ele deixa ainda 12 netos e uma bisneta.
"Como empresário, meu pai deixou um legado na economia capixaba. Mas, para nossa família, perdemos um pai amoroso, marido e um avô espetacular", descreveu, muito emocionado, o filho Ronaldo Tristão.
Em fevereiro de 2020, Jônice comemorou com a família e mais 300 convidados a chegada dos 90 anos. "A alma não envelhece. Pena que o corpo não acompanha. Mas mesmo sem o mesmo vigor físico da juventude, eu tenho asas na mente", disse o empresário durante a celebração. Na ocasião, um vídeo foi produzido para homenagear a vitalidade e o legado de Jônice Tristão. Veja abaixo:
A representatividade de Jônice no Espírito Santo é materializada no sucesso do Grupo Tristão. O início dessa trajetória se deu em 1935, quando o pai de Jônice, José Ribeiro Tristão, abriu a Casa Misael, em Afonso Cláudio. A lojinha simples vendia de arroz a bomba de gasolina.
José viu no café a moeda de troca de produtos e o filho, Jônice, vislumbrou a exportação como forma de ampliar o negócio, ainda em 1960. Foi quando fundou a Tristão Companhia de Comércio Exterior e a Triscafé de Armazéns Gerais.
O negócio cresceu de tal forma que, em 1978, o empresário criava a Tristão United Kingdom, com sede em Londres. Três anos depois, a Tristão Tranding Inc, em Nova York. Foi o maior exportador brasileiro de café pelos 10 anos seguintes.
Em entrevista para A Gazeta em 2015, Jônice disse que tudo que alcançou foi a partir de metas. "Eu nunca sonhei em ser grande, sempre sonhei por passos. Queria abrir a exportação e, no primeiro ano, ficamos entre os 12 melhores colocados em Vitória. Coloquei uma meta: 'no ano seguinte quero ficar entre os cinco'", lembrou, na ocasião.
O olhar para oportunidades de Jônice sempre foi aguçado, tanto que, em 1985, inaugurou a Pousada Pedra Azul, uma unidade hoteleira, transformando-se no precursor da afirmação turística de montanha do Espírito Santo.
O empresário também atuou na política como senador da República, representando o Espírito Santo entre 1991 e 1999. Na época, era suplente do candidato eleito Élcio Álvares, que foi nomeado Ministro da Indústria e Comércio do governo Itamar Franco.
Durante a carreira empresarial como um dos maiores exportadores de café do país, recebeu inúmeras e importantes condecorações e homenagens em âmbito estadual, nacional e internacional, como:
No final da manhã deste sábado (09), os familiares de Jônice Tristão enviaram uma nota à imprensa. Confira na íntegra:
"É com muito pesar que informamos o falecimento do empresário Jônice Tristão, que nos deixou na madrugada deste sábado.
Empresário revolucionário e inspirador, enxergando além do seu tempo marcou a história do café no Espírito Santo e do Brasil. Uma verdadeira referência em liderança e inteligência, Jônice deixa um legado empresarial que perpetuará em nossas histórias.
Ele se despede de sua querida família, sua esposa, Ilza, seus filhos, Ronaldo, Sérgio, Ricardo (em memória) e Patrícia, seus netos e bisnetos, e todos os outros familiares e amigos, que sempre estiveram perto nos momentos mais importantes."
Ainda pela manhã, o governador Renato Casagrande se manifestou nas redes sociais lamentando a morte do empresário Jônice Tristão. Segundo a assessoria de comunicação do governo, foi decretado luto de três dias.
O grupo Tristão nasceu como uma loja, a Casa Misael, em Afonso Cláudio, que vendia de tudo, era um secos e molhados. Com altos e baixos das entressafras, José Ribeiro Tristão começou a vender, anotar e receber em sacas de café, transformando-o em moeda de troca.
Em 1955, Jônice Tristão voltaria do Rio de Janeiro, onde viveu 12 anos, para ajudar o pai na loja. A Casa Misael já tinha filiais em Santa Teresa, Itaguaçu e Laranja da Terra.
Em abril de 1960, Tristão ingressa no desafio da exportação, fazendo pelo Porto de Vitória, para Le Havre, na França, sua primeira remessa de 250 sacas de café. Na época, Jônice Tristão assumia o comando da empresa
Com mercado nos Estados Unidos, França, Grécia, Líbano e Argentina, a Tristão se torna a maior exportadora de café pelo Porto de Vitória em 1965. Em 1978, a empresa assume a liderança nacional, posição que ocupa até 1988.
A Tristão abre sua primeira filial no Rio de Janeiro. Dalí, a empresa abriu unidades em Santos, Paraná, São Paulo e sul de Minas, com objetivo de comprar café direto do produtor.
Entre 1962 e 1967, em função da queda do preço do café, metade dos cafezais capixabas foi destruída. Em 1971, a Tristão, com incentivo fiscal do governo do Estado, constrói a Real Café Solúvel do Brasil, e aposta no incentivo ao café conilon no período, se produzia 100 mil sacas dessa variedade no Estado.
Em 1974, a Tristão cria a Cafuso, marca local de café torrado e moído. Na mesma época, começam as diversificações, com investimento até no negócio do abacaxi e de melhoramento de suínos. Entre 1978 e 79, o grupo abre escritórios para negócios do café em Londres e Nova York. Em 1985, o grupo chega ao ramo da hotelaria e abre a Pousada Pedra Azul.
Em 1988, Jônice Tristão entrega o controle das empresas a seus filhos. Ronaldo e Ricardo foram cuidar dos negócios em Londres e Nova York e Sérgio assumiu o controle das exportações brasileiras. Ricardo, porém, faleceu em 2017 de infarto.
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