Velejar era uma atividade que o espanhol Enrique Lopez de Vega adorava fazer. Em uma das muitas viagens que realizou na vida, ele teve a chance de aportar em Vitória. Há 30 anos, o encantamento imediato que teve com a capital capixaba levou o então economista e empresário a deixar a cidade de Barcelona, e também a abrir mão da paixão que tinha por corridas de moto, para se mudar de vez para o Espírito Santo.
Aqui, Enrique instalou-se em Vitória, na Praia do Canto, onde abriu um estabelecimento de sucesso e cultivou amizades. Uma das mais duradouras foi com a arquiteta Roberta Guariento e também com a família dela. Coube a ela ter o triste dever de cuidar dos trâmites da perda do amigo próximo, com quem teve por várias vezes a oportunidade de saborear as paellas e churrascos preparados por ele e faziam de Enrique um chefe de cozinha respeitado no Estado. O espanhol faleceu em casa, no Bairro Consolação, aos 68 anos, em decorrência de uma embolia pulmonar após uma complicação cirúrgica.
"Enrique foi uma pessoa sensacional. Éramos amigos de longa data e há 30 anos mantínhamos uma amizade saudável. Era amável. Era fácil gostar dele. Ele sempre falava que amava Vitória, que se apaixonou pela cidade em uma viagem feita há mais de três décadas. Tive o privilégio de conhecê-lo e de estabelecer uma ótima relação, assim como minha família. Pude aproveitar a qualidade única da paella que ele fazia. Infelizmente, ele sofreu uma embolia pulmonar nesta quarta-feira (17) enquanto se recuperava de uma cirurgia recente. Minha família e eu realizamos os trâmites no cartório e os do sepultamento", disse a arquiteta, salientando que o amigo espanhol passou por uma cirurgia no intestino há duas semanas.
Ao deixar a Espanha, Enrique vendeu a parte que tinha na empresa Indecasa, especializada na fabricação de móveis e ambientes de alto padrão, e com o valor arrecadado instalou-se na Praia do Canto. No bairro, ele abriu a Cafeteria Barcelona. Por anos, o catalão manteve-se à frente do estabelecimento, porém a forte ligação com seu país de origem o levava à paella prato típico da Espanha, à base de arroz, carnes e legumes.
A habilidade no preparo de paellas o levou a mudar de ramo e Enrique especializou-se em servir o prato em eventos corporativos, aniversários, cerimônias de casamento, sendo conhecido em Vitória, Guarapari e Vila Velha, entre outros locais do Estado.
"Por muito tempo o Enrique manteve o café na Praia do Canto, mas há dez anos ele se mudou para Consolação, montou uma pequena cozinha e se especializou em paella. Ele cuidava de tudo, era rigoroso com a qualidade dos produtos, dos mariscos, e fazia todo o preparo. Vê-lo preparando o prato encantava os clientes. Ele fez muito sucesso nesses anos tocando o negócio", contou a amiga arquiteta.
O encantamento pela capital capixaba era tanto que o espanhol batizou a empresa com o nome da cidade: Paella de Vitória. Segundo a amiga, Enrique era feliz da forma que vivia. Não tinha filhos, nem esposa.
Para Roberta e quem mais pode degustar as iguarias feitas pelas mãos de Enrique, a ausência de familiares na despedida não é suficiente para que a perda do amigo apague o legado por ele deixado. "Quem pode conhecê-lo e teve a oportunidade de provar os pratos dele, certamente se lembrará do Enrique. Ele era discreto, de fala calma e adorava que falassem da paella dele. Perdi um grande amigo, mas ficaram as boas memórias".
Na página que o paelleiro mantinha em uma rede social, amigos, clientes e até pessoas que aprenderam com ele a elaborar uma autêntica paella espanhola despediram-se desse capixaba que nasceu no outro lado do Atlântico, pois era assim que o próprio se considerava.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, Enrique deixou de atender em domicílio e passou a ofertar os pratos sob encomenda e por delivery. Nos últimos dias, suas paellas receberam muitos elogios de clientes nas redes sociais, que pediram o tradicional prato espanhol para o Dia dos Namorados.
Após liberar o corpo do amigo, Roberta cuidou dos trâmites legais e o espanhol foi sepultado, na tarde desta quarta-feira (17), no Cemitério Jardim da Paz, na Serra, com uma despedida rápida e discreta.
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