Cheio de mistérios e angústia por parte dos familiares, o desaparecimento do perito criminal aposentado Celso Marvila Lima, de 64 anos, completou três meses nesta quinta-feira (3). Apesar de as investigações terem contado com cães farejadores, uso de retroescavadeiras, além de resultarem na prisão de duas pessoas, o paradeiro do policial ainda é desconhecido.
O perito está desaparecido desde o dia 3 de agosto, quando a Mitsubishi L200 4x4 em que estava foi localizada por populares em Xuri, Vila Velha, completamente destruída. Após ser abandonado, o veículo foi incendiado em uma estrada de chão na região. Desde então, Marvila não foi mais visto.
Além de ter feito parte do quadro da Polícia Civil capixaba por 42 anos, se aposentando em 2020, Celso Marvila Lima é presidente do Jockey Clube do Espírito Santo, localizado em Itaparica, Vila Velha. Relatos de funcionários apontam que ele era querido no local, além de frequentador assíduo do centro hípico.
"Ele é uma pessoa muito querida, nunca ficamos sabendo de nada contra ele. Estamos aflitos com a falta de notícias e respostas", relatou um dos funcionários, que preferiu não se identificar na época.
Ainda segundo testemunhas, Marvila passou o dia inteiro no Jockey Clube antes de desaparecer. "Quando fui embora, depois das 18h, o carro dele continuava no estacionamento e o vi andando pelo espaço. Pelas imagens do veículo queimado, parece ser a mesma caminhonete", afirma.
O veículo em que o perito estava foi encontrado por populares, em chamas, na noite do dia 3 de agosto. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram até o local, em uma estrada de chão, por volta das 20h. Segundo apuração da TV Gazeta, uma pessoa próxima de Marvila falou com ele pela última vez perto de 18h. Após isso, ninguém mais conseguiu fazer contato com o perito aposentado.
No interior do automóvel queimado, a perícia da Polícia Civil encontrou um celular bastante avariado. No entanto, até o momento, não foi informado se o aparelho pertencia ao aposentado nem se foi possível recuperar algum material que ajudasse nas investigações.
Para encontrar o policial aposentado, a Polícia Civil deflagou uma operação no dia 1º de setembro, dentro do Jockey Clube. Com apoio do Corpo de Bombeiros, a polícia fez buscas com cães farejadores e uma retroescavadeira, equipes vasculharam a região, porém Marvila não foi localizado.
Durante a ação, um policial militar reformado foi preso em flagrante por tráfico de drogas. Policiais estiveram na casa do soldado Lucas dos Santos Lage, de 35 anos, para cumprimento de mandados de busca e apreensão relacionados à investigação do desaparecimento do perito – inclusive, o carro dele, um Audi, foi apreendido na operação. No entanto, como foram encontradas drogas no imóvel, Lucas acabou detido, autuado por tráfico e encaminhado ao presídio.
No documento da audiência de custódia que manteve o policial militar preso, a juíza Raquel de Almeida Valinho destacou que "há investigações em curso em desfavor de Lucas, por suposto envolvimento" no caso do perito Celso Marvila, "razão pela qual entende por necessária a custódia cautelar, nesse momento".
Procurada por A Gazeta, a defesa do policial disse à época que Lucas dos Santos Lage nega envolvimento com tráfico de drogas, e informou que a droga apreendida na casa dele era somente para uso pessoal.
Questionada sobre o possível envolvimento do militar com as investigações relacionadas ao caso do perito aposentado, a defesa negou "qualquer participação com relação ao homicídio" de Celso Marvila Lima, informou, em nota. Disse ainda que outras informações estão impossibilitadas de serem divulgadas, tendo em vista as investigações ocorrem sob o segredo de justiça.
Por fim, o advogado disse que declara total confiança nas instituições envolvidas e ao final das investigações a inocência do militar será comprovada.
A Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) destacou, em nota, que não consta registro de Lucas atualmente no sistema prisional do Espírito Santo.
Menos de um mês depois, houve uma nova operação no bairro Jockey de Itaparica, em Vila Velha, no dia 28 de setembro. Um dos gerentes do Jockey Clube, identificado como Milton Candido da Silva Filho, de 40 anos, foi preso durante a ação, em um imóvel que fica no terreno onde foram realizadas as buscas.
Na época, a juíza Raquel de Almeida Valinho, que determinou pela prisão preventiva do suspeito, informou que a prisão em flagrante dele "se deu em decorrência de investigação policial anterior a respeito de crime de homicídio contra um perito criminal da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo, bem como de cumprimento de mandado de busca e apreensão".
Responsável pela defesa de Milton Candido da Silva Filho, o advogado João Gualberto afirmou à época que a prisão do cliente – vista como "excessiva" pelo profissional – não tem relação com o desaparecimento do perito Celso Marvila Lima. De acordo com a Sejus, o suspeito continua preso no Centro de Detencão Provisória de Vila Velha.
"Essa desvinculação precisa ser feita. Esse caso precisa ser investigado, pois trata-se de uma pessoa desaparecida, mas está sob sigilo e não vou me manifestar. A ocorrência do meu cliente não tem vinculação. A defesa dele vai ser feita no processo para defender os interesses dele", disse.
Após quase duas semanas sem se manifestarem, os familiares do perito falaram pela primeira vez sobre o caso durante uma reportagem da TV Gazeta, gravada no mês de agosto. Em entrevista exclusiva ao repórter André Falcão, eles narraram que vivem um pesadelo em meio à angústia da espera cheia de incertezas.
"É muito triste, um desespero, uma aflição. Parece que a ficha ainda não caiu. É horrível, horroroso", desabafou a filha. Sem ter notícias sobre o que aconteceu com o pai, o filho também desabafou: "Não tem vestígio de nada. Tenho que tomar remédio para dormir", afirmou.
Em nota enviada à reportagem, a Polícia Civil afirmou que as apurações e diligências sobre o desaparecimento da vítima estão em andamento e ela ainda não foi localizada. Após 90 dias, a dúvida permanece: onde está Celso Marvila?
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