Alice passou a tarde com a família, brincou com os primos, e, após tomar banho, pediu para ir à casa da avó materna, no andar de baixo. Ela queria ficar com o pai, que estava na varanda. Foi ao descer, por volta das 20 horas do dia 9 de fevereiro, que o destino dela se cruzou com o de um adolescente, de 17 anos. Alvo dos criminosos que passavam pela rua, em Vila Velha, ele entrou na residência da família. Alice ficou no meio dos disparos e foi morta a tiros. Após o crime, que causou comoção, o menor perseguido pelos bandidos enviou mensagens para a mãe da menina pedindo perdão.
Para Amanda Guedes, mãe da menina Alice, de 3 anos, ainda é difícil lembrar dos últimos momentos com a filha viva. Ela conta que estava arrumando a cama da menina para colocá-la para dormir e pretendia fazer a mamadeira da filha em seguida, quando ouviu uma sequência de tiros.
"A gente conhece esse adolescente de ver pelo bairro. A mãe dele mora perto da casa da mãe do meu marido. Quando ele passava e via a Alice, cumprimentava, brincava. No dia do crime ele passou por nossa casa, viu meu marido e ofereceu um celular para vender. Meu marido disse que não tinha interesse. Foi quando passou um carro com quatro pessoas atirando na direção desse menor. Ele correu para dentro da nossa casa. Foi muito tiro para todos os lados. Não sei como meu marido e minha mãe também não foram atingidos. Mas Alice foi", lembra.
O adolescente foi baleado e sobreviveu. Alice não teve a mesma sorte. A menina morreu, para desespero da família. Os dias seguintes foram de dor e revolta. Amanda conta que, por diversas vezes, se perguntou por que a filha foi morta de forma tão violenta.
"Eu não entendia. Sempre fui temente a Deus. Me perguntava por que Ele tinha feito aquilo justo comigo. Por que de forma tão violenta? Mas na mesma hora senti a resposta dentro de mim. Se fosse de outra forma, o caso não teria essa repercussão. Não chamaria atenção para o problema dos tiroteios, das balas perdidas, dessa violência toda. Sem contar que eu idolatrava minha filha mais que ao próprio Deus. Mesmo entendendo o propósito disso tudo, é difícil. Teve época que cheguei a me mutilar. Era como se eu quisesse sentir uma dor física para tentar abafar a dor emocional. Me apeguei ainda mais a minha religião. É uma batalha diária", conta.
Após ser baleado, o adolescente chegou a ser hospitalizado, mas logo depois recebeu alta. Ele entrou em contato com Amanda por duas vezes, por meio de mensagens no Facebook, e pediu perdão.
A morte da pequena Alice abalou não só familiares, como também os inquilinos da família, que moravam em casas no mesmo terreno da residência onde a criança foi atingida por tiros. Todos abandonaram os imóveis por medo e por não conseguirem lidar com as lembranças da menina.
"Mudamos de lá porque não aguentávamos olhar para os lados e ver tudo que lembrava a Alice. Os inquilinos das três casas que minha família tem também pediram pra sair. Todo mundo saiu por medo e por não aguentar ficar na casa, por amor à Alice. Tudo virou de pernas para o ar. Estamos morando em um apartamento alugado. Minha mãe veio morar com a gente. Meu marido está afastado do trabalho, porque no dia do crime deu um soco na parede e quebrou os ossos dos dedos", conta.
Agora, Amanda afirma que só espera por justiça. Apesar de dois suspeitos do crime estarem presos desde o dia 20 de fevereiro, moradores da região afirmam que foram quatro criminosos que participaram do crime. Alice era neta de um sargento da Polícia Militar e a morte gerou comoção. O governador Renato Casagrande (PSB) chegou a se manifestar em nas redes sociais e garantiu que os responsáveis pelo crime não sairiam impunes.
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