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Adolescente é morto em ação da PM e ônibus acaba incendiado em Linhares

Adolescente é morto em ação da PM e ônibus acaba incendiado em Linhares

Caso aconteceu na última segunda-feira (29), no bairro Aviso; segundo a polícia, Stanley de Oliveira Moraes estava com uma submetralhadora

Publicado em 30 de julho de 2024 às 10:32

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A tarde e noite de segunda-feira (29) foram marcadas por violência na região do Residencial Rio Doce, no bairro Aviso, em Linhares, no Norte do Espírito Santo. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, um adolescente de 16 anos, que estaria armado, foi morto pelos agentes com um tiro. A vítima foi identificada como Stanley de Oliveira Moraes. Um homem de 28 anos, três adolescentes, entre 16 e 17 anos, e uma criança, de 11, ainda foram levados para a delegacia. Depois disso, houve manifestação no local e até um ônibus foi incendiado (veja acima).

De acordo com a PM, tudo começou com a denúncia de que uma motocicleta que havia sido roubada no bairro Novo Horizonte, na mesma cidade, estava sendo utilizada por suspeitos envolvidos com o tráfico no Residencial Rio Doce. Segundo o major Herbethy, do 5º Batalhão da Polícia Militar, o responsável por esse roubo é Matheus dos Santos Cerqueira Barbosa, de 28 anos — que acabou preso durante a ação de segunda-feira. 

Segundo a denúncia, o veículo estaria guardado em uma casa. Conforme o relato no boletim, os militares foram até o local e, quando chegaram ao lado do muro da residência, ouviram uma conversa de pessoas sobre armas e drogas.

Um policial disse ter visto Stanley com uma submetralhadora de calibre 9mm. Ainda segundo o boletim de ocorrência, o rapaz teria apontado o armamento em direção ao militar, que disparou. O adolescente foi atingido no abdômen e socorrido por uma equipe do Corpo de Bombeiros, mas não resistiu.

Stanley faleceu após ser baleado por um policial em Linhares em Linhares
Stanley de Oliveira Moraes morreu após ser baleado por um policial em Linhares. (Redes Sociais)

A descrição do boletim de ocorrência ainda diz que foram apreendidas drogas, uma balança de precisão e a submetralhadora, além da motocicleta. Cinco pessoas foram levadas para a delegacia, incluindo uma criança de 11 anos. 

A moto recuperada e o material apreendido pela PM durante a ação em Linhares
A moto recuperada e o material apreendido pela PM durante a ação em Linhares. (Divulgação | PM)

Protesto

Horas depois, ocorreu um protesto na região. Segundo a PM, encapuzados incendiaram um ônibus e interromperam a passagem de veículos na ES 248 com objetos ocupando a pista. Logo que os policiais chegaram ao local, o grupo foi dispersado.

Foi necessário trabalho do Corpo de Bombeiros para conter as chamas. Não houve registro de pessoas feridas durante a ocorrência e o trânsito foi liberado ainda à noite.

Família dá outra versão

Uma prima de Stanley, que preferiu não se identificar, conversou com a repórter Viviane Maciel, da TV Gazeta Norte, e deu uma versão diferente da contada pela PM. 

“Ele estava soltando pipa. O Stanley não era traficante, não tinha envolvimento com nada. Ele não tem passagem na polícia. Mataram o menino na maior crueldade. Falaram que ele era vagabundo, mas não era. Como a mãe do menino vai ficar agora?”, indagou.

Ela continuou: “Stanley era um menino tranquilo, ia para a roça trabalhar. Ajudava a mãe em casa. Não deixaram ela ver o filho. Acho isso errado. Espero que tenha justiça. O policial tem que ser preso por matar um inocente”.

O que dizem testemunhas

Moradores do Residencial Rio Doce, que também não quiseram se identificar, deram uma versão semelhante a da prima de Stanley, em entrevista para a TV Gazeta

“A polícia chegou e realmente tinha arma ali, mas eles jogaram para outro canto. Eles pularam o muro. A polícia pediu para eles colocarem a mão na parede, eles já estavam rendidos. Um deles, que tomou o tiro e faleceu, estava com alguma coisa na mão, uma lata de linha. Foi quando ele jogou (a lata) que o policial atirou nele. O que estou falando é o relato de pessoas que estavam do lado do menino e viram o que aconteceu. Nisso, o policial deu o tiro. Eles deixaram o menino de cara para o chão. Ele não foi socorrido imediatamente”, afirmou um morador.

Esse morador disse ainda que se sentiu ameaçado por um policial quando se aproximou do local da ocorrência. “Eu fui até o local e sorri para um policial. Ele levantou um fuzil, me perguntou por que eu estava sorrindo e falou que iria me prender. Depois disse que iria me matar. A gente morador, da cor morena, se sente coagido”, desabafou.

Outra testemunha, que também preferiu não se identificar, comentou sobre o caso. “Ele estava soltando pipa. Os policiais chegaram no muro e falaram ‘mão na cabeça e deita no chão’. O menino soltou a lata no chão, o policial deu um tiro nele. Ele não chegou perto da arma, a arma estava em uma mesa. O moleque ficou no chão, agonizando, pedindo socorro, ele colocou até a mão na bota do policial. O policial disse para esperar que o socorro estava vindo”, disse.

O que diz a PM

A corporação confirmou que o adolescente não tinha histórico policial, mas disse que ele estava na casa onde se ouviu conversas sobre armas e drogas. De acordo com o major Herberthy, o rapaz não estava empinando pipa.

Ele acrescentou que a vítima era enteada do único adulto conduzido à delegacia, que foi responsável pelo roubo da moto, executado à mão armada. Segundo ele, Matheus dos Santos Cerqueira tem passagem por tráfico de drogas na Bahia.

“A gente não entende a história de que ele estava empinando pipa. As seis pessoas (Stanley e as outras cinco pessoas conduzidas para a delegacia) estavam na casa. Ele optou em tentar atirar contra o policial e nós utilizamos os nossos meios necessários para cessar essa agressão”, declarou o major. 

Questionado sobre o atendimento médico a Stanley, após o adolescente ter sido baleado, o policial afirmou que foi feito o acionamento ao Corpo de Bombeiros, que atendeu a ocorrência dentro do tempo usual.

Ele também foi perguntado sobre a alegação do morador, de se sentir ameaçado por um policial. “Segundo os policiais que estavam no local, o que aconteceu lá foi um tumulto para tentar tirar a atenção e dificultar o trabalho da polícia. Naquele momento, a ocorrência foi muito bem feita, dentro da técnica policial”, finalizou o major. 

Sobre a condução da criança até a delegacia, Herbethy respondeu que a PM "apenas entregou a criança até a Polícia Civil. O delegado vai entender qual o envolvimento dela".

O que diz a PC

A reportagem de A Gazeta procurou a Polícia Civil para obter mais informações sobre o procedimento adotado no caso. Em nota, a corporação informou que quatro suspeitos, sendo um de 16, dois de 17 e um de 28 anos, foram conduzidos à Delegacia Regional de Linhares.

"O maior de idade foi autuado em flagrante por roubo majorado e encaminhado ao sistema prisional. O adolescente de 16 anos assinou um Boletim de Ocorrência Circunstanciado (Boc) por ato infracional análogo ao crime de roubo majorado. Após o familiar assumir o compromisso de comparecer ao Ministério Público quando solicitado, o adolescente foi reintegrado à família. Os dois adolescentes de 17 anos foram ouvidos e liberados já que a autoridade policial não identificou elementos suficientes para realizar a prisão em flagrante naquele momento", disse a corporação.

Sobre a criança de 11 anos, a PC informou que ele retornou para a família. "Foi entregue na Delegacia Regional e imediatamente reintegrada aos familiares, assim que foi identificada sua idade".

Aulas suspensas

Como consequência da situação de segunda-feira, a Prefeitura de Linhares anunciou que as aulas no Centro de Educação Infantil Municipal (CEIM) Rio Doce, no Residencial Rio Doce, foram suspensas no período matutino desta terça-feira (30).

"Priorizamos a segurança das crianças e dos profissionais de educação da unidade de ensino. E também a dos transportadores escolares que fazem a rota do residencial para levar os estudantes dali para outras unidades de ensino", afirmou a administração, em nota. As atividades escolares na unidade devem retornar durante a tarde.

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