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'Ajoelhei e pedi que não atirasse mais', diz namorada de jovem morta em sítio

'Ajoelhei e pedi que não atirasse mais', diz namorada de jovem morta em sítio

Fernanda da Silva Pereira estava no quarto período da faculdade de Direito e irmão dela é suspeito do crime. Familiares acreditam que briga pode ter sido motivada por herança

Publicado em 7 de novembro de 2022 às 06:49

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Fernanda da Silva Pereira é morta a tiros pelo próprio irmão
Fernanda da Silva Pereira é morta a tiros pelo próprio irmão. (Redes Sociais)

Uma jovem de 23 anos – identificada como Fernanda da Silva Pereira – foi morta a tiros e um tio dela – não identificado – ficou ferido durante uma discussão em um sítio na região de Jacarandá, na zona rural de Guarapari, na tarde do último sábado (5), e familiares dizem que o motivo da briga seria uma disputa por herança. Segundo a Polícia Civil, o principal suspeito do crime é o irmão dela, que não teve o nome divulgado. A namorada da vítima disse que implorou várias vezes para que o homem parasse de atirar, sem sucesso.

Fernanda da Silva Pereira chegou a ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Viana após ser baleada, mas não resistiu aos ferimentos.

Segundo a Polícia Civil, o principal suspeito do crime é o irmão mais velho de Fernanda, que segue foragido. Ainda de acordo com a corporação, o homem fugiu de carro e não há informações se ele também ficou ferido. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do suspeito.

O advogado da família explicou que a jovem foi ao local com outros familiares para conversar com o irmão, que estava morando no local e que eles estão no processo de separação de bens pela morte do pai.

"Estão em litígio devido à herança do pai. O pai faleceu e deixou um patrimônio. Ela é filha do segundo casamento e a inventariante. O sítio em questão é um dos bens que estava no inventário. Ela foi lá para conversar com ele, com a mãe dela, o tio e a namorada dela. Quando chegaram, ele e a esposa já os receberam com um facão. Houve uma discussão prévia e ele entrou em casa e pegou a arma e deu dois disparos contra a irmã, que mataram ela", contou o advogado Luiz Maciel.

Fernanda da Silva Pereira, 23, morreu durante uma briga de família em Guarapari
Fernanda da Silva Pereira, 23, morreu durante uma briga de família em Guarapari. (Reprodução)

A namorada da vítima, que não quis ser identificada, contou os momentos de tensão que viveu quando elas chegaram no sítio.

"A gente foi lá para dar uma olhada, até porque ela era a inventariante do processo que está correndo e ela queria saber a situação do sítio, se tava bem cuidado. A gente foi lá na paz, sem querer confusão, sem querer tumulto, sem querer briga com ninguém. Quando a gente chegou, ela falou que queria um lugar mais afastado para tentar contato, tentar fazer uma ligação. E quando a gente voltou a gente já ouviu a gritaria e confusão e então o irmão dela estava com um facão na mão", relatou a autônoma de 24 anos, companheira da vítima.

A companheira de Fernanda disse que o irmão da vítima foi para dentro de casa para pegar uma arma e começou a atirar. Ela contou que pediu várias vezes para que o homem parasse de atirar, mas que ele não parou.

"Ele foi pra dentro de casa e pegou a arma, foi muito rápido e já voltou. Como ela [Fernanda] tava de frente pra porta ela tomou o primeiro disparo na barriga e ele também acertou o tio dela várias vezes. Aí eu me ajoelhei na frente dele e pedi pra que ele não atirasse mais. E a todo tempo ele gritando, mandando a gente sair" , disse a namorada da vítima.

O homem atingido, tio da vítima, foi levado para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória, em estado grave e não tem previsão de alta.

A namorada da jovem disse que ela foi ameaçada pela mulher do irmão de Fernanda com um facão e que ela teve que fugir pelo mato para pedir ajuda, com medo de serem mortas pelo irmão da vítima.

"Eu peguei ela, com a ajuda da mãe. A gente pegou ela no colo, desceu uma escada, desceu uma ladeira, encostou ela no carro, e ela perdendo muito sangue. Eu tirei a minha blusa e coloquei na barriga dela para tentar estancar o sangue. Eu levantei com as mãos para o alto, eu pedi pelo amor de Deus para que ele parasse, a gente só queria a chave do carro. Quando eu saí de perto dela, ele deu outro disparo que acertou o braço dela, e então a gente entrou na casa, tentando procurar a chave e a esposa dele já veio com um facão para cima da gente. Eu levantei as mãos, eu não tinha nada, eu estava seminua, suja de sangue, descalça, não tinha condição de ferir ninguém, eu só queria sair dali [...] A mãe dela falou que a gente tinha que sair dali, a gente não poderia passar em frente à casa porque ele iria matar a gente também. A gente teve que fugir pelo mato, teve que andar um pedaço bem grande até chegar num bar e lá o pessoal ajudou" contou a namorada de Fernanda.

Segundo familiares, o sítio em que o crime aconteceu é herança do pai, que morreu em 2020. Ainda de acordo com a família, o irmão mais velho foi morar no local há alguns meses. A família também diz que Fernanda já tinha sido ameaçada pelo irmão.

"A Fernanda já registrou vários boletins de ocorrência contra o irmão. Tinha uma briga por herança. Até então, devia ter uns 3, 4 meses que ele tava morando no sítio. A Fernanda cresceu naquele lugar, o pai dela morou ali e ela amava aquele lugar porque ela tinha lembranças. Ela tava sempre indo lá, tava sempre pagando pessoas para manter o sítio limpo, a piscina limpa, ela cuidava do sítio, uma coisa que os irmãos não faziam" afirmou a companheira da vítima.

A namorada contou como ela e a mãe da vítima ficaram sabendo da morte de Fernanda. "Eles iriam levar eu e a mãe da Fernanda para o DPJ (Delegacia Regional), só que no meio do caminho a gente ouviu pelo rádio da polícia que ela tinha ido a óbito. A mãe dela passou mal, desmaiou, eu achei que ela tivesse morrido, eu também tava passando mal, mas eu tinha que ser muito forte, eu não pude chorar, eu não pude fazer nada e a gente chegou na Upa de Viana sede e a Fernanda tava lá, já sem vida", relatou a companheira.

A Polícia Civil informou que o caso será investigado pela Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Guarapari. Os nomes dos demais envolvidos na ocorrência e o estado de saúde do homem ferido a tiros não foram divulgados. O corpo da mulher foi encaminhado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória.

A companheira disse que Fernanda queria ser advogada e desabafou sobre a morte da jovem. "Ele continua solto e a gente quer justiça porque ele interrompeu a vida de uma menina de 23 anos que tinha sonhos, ela tava no quarto período da faculdade de direito e o sonho dela era ser uma advogada. O amor da minha vida foi embora, senhor. Eu tinha tantos planos com ela, isso não é justo. O que eu vou fazer sem ela, eu não consigo ficar um dia sem ela. Ele matou o amor da vida de alguém, matou a filha de alguém, a Fernanda tinha família e ele infelizmente interrompeu tudo isso", desabafou a jovem de 24 anos.

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