Prestes a completar um mês da morte da menina Alice da Silva Almeida, de 3 anos, vítima de bala perdida no bairro Dom João Batista, em Vila Velha, no dia 9 de fevereiro, a mãe da criança contou como foram os poucos e intensos anos ao lado da filha. Muito emocionada, Amanda Guedes afirma que teve revelações e pressentimentos de que a criança morreria e que, por isso, vivia com medo. Dias antes de Alice morrer, inclusive, a menina contou para a mãe que viu um anjo em casa: "Isso me emocionou, porque nunca falei sobre anjos com ela", revela. Veja abaixo a entrevista com a mãe e vídeo de momentos da menina antes do crime que chocou os moradores do Espírito Santo.
Amanda conta que sempre foi uma mãe muito apegada à filha, a quem define como uma criança especial, diferente, carinhosa, que não dava trabalho e chamava a atenção de todos na rua. Afirmando que o amor que sentia pela menina era como algo "fora do normal", ela diz que sentia medo de Alice adoecer e, por isso, reforçava os cuidados.
"Eu sei que toda mãe tem um amor incondicional, mas o meu era fora do normal e chegava a doer. Para ter ideia, eu só a deixava com meia, com medo de gripe, e a menina chegava a suar. Sempre tive cuidado com tudo. Mas esse medo de perdê-la só veio um ano após o nascimento. E era tanto medo que eu chegava a achar que estava louca", lembra.
Frequentadora de uma igreja evangélica, Amanda diz que a primeira revelação de morte que teve foi por meio da filha de um pastor. Chorando muito, a moça disse que teve uma visão de que Deus levaria a Alice.
"Eu sempre fui muito temente a Deus e frequentadora da igreja. Quando a filha do pastor me falou isso, aos prantos, eu também chorei e repreendi. Mas depois disso outras pessoas foram tendo o mesmo pressentimento. O avô paterno e a madrinha dela tiveram o mesmo sonho: de que Alice morria afogada em uma piscina. Fiquei muito assustada e desde então passei a não gostar de deixar Alice ir em piscinas ou praias. Se fosse, tinha que ser comigo. Fiquei ainda mais preocupada, eu sentia, mas ainda assim achava que era coisa da minha cabeça, que estava louca", conta.
A quarta revelação de morte chegou por meio de uma missionária, pouco antes do Natal de 2019, que contou ter sonhado com Amanda ensanguentada e chorando muito. Ela não falou para ninguém, mas quando ouviu o sonho, só pensou em Alice.
O medo que Amanda tinha de perder a filha, devido aos diversos pressentimentos e revelações, fizeram com que em uma noite ela não conseguisse deixar a filha dormir.
"Éramos tão grudadas que dormíamos na mesma cama. O pai até passou a deitar no chão. Quando ela tinha dois anos e meio teve uma noite que estávamos deitadas e eu não consegui dormir com medo de ela morrer. Tentava deixá-la acordada, chamava pra brincar e ela dizia 'quero dormir, mamãe'. Senti medo de que ela não acordasse mais. Ajoelhei no chão e orei. Pedi para que Deus tirasse aquele medo do meu peito e pudéssemos dormir em paz."
Algumas semanas antes de morrer, Alice contou aos pais que teve um encontro com um anjo. Mesmo os pais nunca tendo falado de anjos com a criança, a menina contou detalhes da visão que teve.
Da revolta pela morte até o entendimento de que em tudo há um propósito, foi um caminho doloroso. Amanda conta que logo após o crime, por diversas vezes se perguntou o porquê de Deus ter permitido a morte da filha de forma tão violenta. Ela conta que foi o marido que deu força, pedindo para que ela parasse de murmurar e aceitasse a vontade de Deus, que em tudo tinha um propósito e que eles voltariam a ser felizes.
"Ele me fez entender que com revolta eu não chegaria nas respostas para minhas perguntas. Foi quando tive o meu momento com Deus. Sentei no quarto escuro e pedi parar tirar aquela raiva de mim, porque eu só queria morrer. Tive a resposta de que nossos filhos não são nossos. E que Deus não deixa de ser Deus por levar minha filha. A lição que tiro hoje é de que nada vale roupa, bens materiais, carro, casa, ou profissão se não temos as pessoas que amamos. Que o que importa é o amor. Eu idolatrava minha filha. E Deus fala que devemos amá-lo antes de qualquer pessoa. Deus me deu um anjo e se Ele não tivesse tirado ela de mim, eu não teria a visão do mundo que tenho hoje", diz.
Dois suspeitos da morte de Alice foram presos. A primeira prisão foi na manhã do dia 20 de fevereiro em uma operação da Polícia Civil com o apoio da Guarda Municipal, que visava desarticular o tráfico de drogas no bairro Dom João Batista. Na ocasião, o suspeito afirmou que estava com os autores dos tiros, mas que não foi o responsável direto pela morte.
O segundo suspeito foi detido na tarde do mesmo dia pela Polícia Militar, no bairro Jardim de Alah, em Cariacica. Ele foi encontrado graças a uma denúncia.
Alice da Silva Almeida, de 3 anos, foi assassinada no quintal de casa, no bairro Dom João Batista, em Vila Velha, vítima de bala perdida. Segundo informações, o alvo dos criminosos era um jovem de 17 anos que, ao tentar escapar, invadiu o quintal da casa da família de Alice. O adolescente também foi atingido na perseguição, mas foi socorrido e sobreviveu.
Alice era neta de um sargento da Polícia Militar e a morte gerou bastante comoção. O governador Renato Casagrande (PSB) chegou a se manifestar em nas redes sociais e garantiu que os responsáveis pelo crime não sairiam impunes.
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