Após ser inicialmente atrelado à morte de um menino de sete anos em Cariacica, o marceneiro Hélio Felipe dos Anjos Martins viu a própria casa ser incendiada na última quinta-feira (14) e perdeu todo o enxoval da filha, que deve nascer já no próximo mês. O ato feito por moradores da região de Nova Esperança foi uma espécie de retaliação por um crime que ele nem sequer teria cometido.
Apesar de apontado pela família da criança como principal suspeito do assassinato, a Polícia Militar, a princípio, descartou a participação dele no crime e o trata como inocente. Em entrevista para A Gazeta, Hélio contou que, quando tudo aconteceu, ele estava a trabalho no interior do Espírito Santo, entre os municípios de Domingos Martins e Vargem Alta.
Segundo ele, a primeira reação foi ligar para a esposa — que está grávida de oito meses — e pedir para que ela saísse do local. "Nesse momento, recebi muitas mensagens no celular, falando que estavam entrando na residência e, logo em seguida, um vídeo da casa pegando fogo", disse.
Muito assustado e preocupado com a mulher, Hélio ainda não havia voltado ao imóvel até o início da tarde desta segunda-feira (18). "Hoje eu vou prestar depoimento à polícia e começar a resolver todas essas coisas, até porque ainda estou abalado e vendo o que vamos fazer", explicou.
Por enquanto, a família está ficando na casa da sogra do marceneiro. "Estou tentando ser o porto-seguro da minha esposa, que está com o psicológico muito abalado. Vamos deixar a poeira baixar para depois planejar. Perdi tudo que conquistei em todos esses anos de trabalho", desabafou.
Embora tenha relatado muito prejuízo devido ao furto de eletrodomésticos e outros pertences da residência, Hélio apontou o enxoval de boas-vindas da pequena Mariah como a principal perda da família. Isso porque, antes desta gravidez, a esposa dele sofreu um aborto espontâneo.
"Como ela ficou muito abalada na época, nesta gestação fizemos o possível e o impossível para fazer o melhor. Planejamos tudo para que fosse marcante e apagasse o trauma da passada. Tudo isso foi por água abaixo. Reconstruir tudo o que tínhamos planejado vai ser difícil", comentou.
Cientes do pesadelo que Hélio estava vivendo, amigos organizaram uma "vaquinha" para arrecadar doações para ajudá-lo. Uma das pessoas que se mobilizou é a técnica em enfermagem Victoria Gabriela Teixeira Medeiros Anselmo — uma amiga de infância dele que vive na região.
"Fizemos uma ação e divulgamos pelas redes sociais, porque ele foi acusado injustamente. A comunidade se revoltou, queimou a casa dele e da mãe, roubaram o que ele tinha. Até o enxoval para a bebê, que estava pronto. Ele já tinha fraldas, que também foram roubadas. Levaram tudo", contou.
Segundo ela, qualquer doação é bem-vinda: material de construção, eletrodomésticos, roupa para bebê, fraldas ou dinheiro. Quem quiser ajudar pode entrar em contato diretamente com a Victoria, pelo número (27) 99644-7569. "Se puder nos ajudar, agradecemos muito", disse.
O pequeno Ricardo Coelho, de apenas sete anos, morreu no final da tarde da última quinta-feira (14), após levar um tiro enquanto estava na casa onde morava, no bairro Nova Esperança, em Cariacica. Ele chegou a ser socorrido para um hospital no município, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.
De acordo com informações iniciais divulgadas pela Polícia Militar, o médico que socorreu o menino explicou que, pela análise das três perfurações, a criança teria colocado a mão na frente do rosto, antes de receber o disparo — que teria atravessado a mão, a região do olho e a nuca.
Em entrevista à TV Gazeta, o major Prado, da PM, destacou que o foco era encontrar a arma utilizada na ação e que a principal linha de investigação apontava para um acidente que teria acontecido na própria residência da família, sem qualquer tipo de envolvimento do vizinho (o marceneiro Hélio).
"A família nos trouxe, em um primeiro momento, um suspeito e trabalhamos em cima dessa linha. Houve até uma revolta por parte da comunidade com esse suspeito, mas, agora, a investigação ganhou um novo rumo: de um crime que aconteceu dentro de casa. Um tiro acidental", explicou.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica. Até a manhã desta segunda-feira (18), nenhum suspeito de cometer o crime foi detido e outros detalhes não foram divulgados para preservar a apuração.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta