Sem demostrar qualquer receio por terem matado a jovem Ana Paula Braga, de 24 anos, em janeiro deste ano, nos Estados Unidos, dois capixabas enviaram áudios de WhatsApp para familiares, pedindo ajuda financeira para fugir da América do Norte e não serem julgados pela justiça de lá. Foram esses áudios, junto com vídeos gravados pelos assassinos, que ajudaram a polícia a desvendar o crime. O corpo da vítima ainda não foi localizado. Ouça os áudios abaixo.
Ana Paula era mineira e vivia em Los Angeles, na Califórnia, desde 2017. Ela havia acabado de comprar um carro e trabalhava como motorista de aplicativo. De família humilde, pretendia levar a mãe para morar com ela, em julho deste ano. Mas no início de janeiro uma conversa interrompeu para sempre os planos de Ana Paula. Ela aceitou hospedar por alguns dias dois amigos brasileiros que pretendiam mudar-se para Los Angeles.
Os hóspedes eram Thiago Philipe Souza Bragança, de 22 anos, e Wenderson Júnior Dalbem Silva, de 24 anos. Segundo as investigações da polícia de Los Angeles, no dia 30 de janeiro, câmeras de segurança registraram Ana Paula, Thiago e Júnior entrando na casa, pouco antes das 16 horas.
Às 18h24, os dois amigos saíram juntos da casa carregando um embrulho, que colocaram na mala do carro de Ana Paula. Em seguida, voltaram para o apartamento. Quatro minutos depois, eles foram embora com o carro da vítima e iniciaram a fuga.
Em uma longa viagem para fugir, os próprios assassinos gravaram áudios e vídeos, produzindo um farto material para o esclarecimento do crime que cometeram. Com medo de serem presos nos Estados Unidos, eles pediram ajuda a parentes no Brasil.
A dupla dirigiu até Desert Hot Spring. Segundo os assassinos, foi nesse local que eles jogaram o embrulho em uma lixeira. Para a polícia, era o corpo de Ana Paula. Nos áudio abaixo, eles chegam a falar da possibilidade de jogar o corpo em Phoenix.
"Eu realmente preciso de ajuda para sair daqui, mano. Nós estamos falando de pagar a minha vida toda na cadeia, irmão. Eu vou ter que sumir, entendeu? Eu vou jogar esta mulher lá em Phoenix", diz Thiago.
Em outro trecho, Thiago volta a pedir ajuda financeira para fugir e chega a falar que iria tentar uma forma para que, se o corpo fosse encontrado, fosse apenas após alguns dias.
"Tô na rodoviária. O resto do dinheiro que eu tinha eu comprei a passagem e preciso comprar outra passagem pro México, entendeu? Mas eu tô sem dinheiro nenhum, mano", afirmou Thiago.
Os dois cruzaram a fronteira e, no dia 4 de fevereiro, chegaram à Cidade do México. Com o dinheiro enviado por parentes, se hospedaram em um hotel. No local, fizeram vídeos comemorando. Dois dias depois, embarcaram em um voo para Vitória. Depois, foram pra uma cidade do interior do Estado. Fazendo ameaças, os amigos tentaram extorquir mais dinheiro de parentes para comprar drogas.
"Eles utilizavam de vídeos, áudios e fotografias do homicídio praticado contra Ana Paula para ameaçar os familiares aqui", contou o secretário de Estado da Segurança Pública, Roberto Sá, em entrevista ao Fantástico exibida no último domingo (01).
Os familiares denunciaram à Polícia Militar, que passou informações para agentes da Polícia Federal. Eles entraram em contato com a polícia americana, que encontrou marcas de sangue no apartamento de Ana Paula.
Depois que Thiago e Junior voltaram ao Brasil, a polícia do Espírito Santo também abriu um inquérito e começou a vigiá-los. Eles foram presos em Cariacica, quando saíam de uma casa. Em depoimento, os dois confessaram o crime. Thiago alegou que eles mataram Ana Paula porque foram ameaçados por ela.
"Um deles afirma que houve uma discussão pela locação de um amigo dela e outro diz que foi uma discussão passional, de relacionamento entre ele e ela. As duas versões são aparentemente contraditórias em relação à motivação do crime.", disse o secretário.
A família de Ana Paula deseja que os assassinos sejam julgados nos Estados Unidos, onde o crime aconteceu. Porém a constituição determina que apenas brasileiros naturalizados podem ser extraditados. Cidadãos que nasceram no Brasil não podem ser extraditados, mas podem ser julgados no Brasil pelo crime que cometeram fora.
"A polícia americana vai realizar investigação nos EUA. O processo e as provas vão ser transferidos para o Brasil, Polícia Federal vai juntar ao processo e eles vão ser denunciados para o Ministério Público. Essas provas vão valer e eles podem ser processados no final", explicou o especialista em Direito Penal Eduardo Milhomem.
Se condenados, os dois podem pegar até 30 anos de prisão. As autoridades americanas continuam procurando o corpo de Ana Paula.
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