A noite deste sábado (9) foi de medo para moradores do morro da Piedade. Os tiroteios começaram por volta das 20h30, quando cerca de 20 homens armados entraram na comunidade ameaçando moradores. A Polícia Militar foi até o local, chegou a trocar tiros com os bandidos e, durante a madrugada, os tiros chegaram a cessar. No entanto, assim que a PM deixou o local, novos disparos foram feitos e um homem foi morto.
Walace de Jesus Santana, de 26 anos, foi assassinado às 6h30 da manhã deste domingo (10), na rampa Guiomar Leite de Oliveira, próximo da sede do projeto social Raízes do Samba. Os bandidos invadiram a casa de sua mãe, onde ele estava, junto com a avó, de 93 anos, um irmão e a cunhada. Walace conseguiu escapar pela janela e correu pelos becos da comunidade, mas um outro grupo de bandidos estava à espera do rapaz.
Ele foi atingido com diversos tiros de muitas armas diferentes, entre elas os calibres 380, 9 milímetros e calibre 12. Em seguida, o grupo expulsou a avó, o irmão e a cunhada da vítima de casa e ateou fogo no imóvel. De acordo com familiares, que não quiseram se identificar, a vítima tinha envolvimento com o tráfico de drogas.
O Corpo de Bombeiros precisou ser acionado e, após a Polícia Militar retomar o controle da região, eles conseguiram apagar o incêndio. Os bombeiros tiveram dificuldade de chegar até o local, já que as vielas onde o crime aconteceu são estreitas e não permitem a passagem de carros.
Um dos quartos ficou completamente destruído. A avó, de 93 anos, ficou em estado de choque, segundo familiares. Ela foi levada para a casa de um conhecido. Walace deixa três filhos, um de sete anos, um de quatro e outro de seis meses. Diversas viaturas da polícia e até um helicóptero foi utilizado na busca por suspeitos na região. Até o fechamento da reportagem, ninguém havia sido preso.
MORADORES RELATAM SITUAÇÃO DE GUERRA
Os tiroteios já se tornaram comum na região. Segundo moradores, os traficantes da Piedade estão em guerra com criminosos do morro da Fonte Grande. Eles afirmam que do grupo de 20 pessoas que invadiu a comunidade na noite de sábado, nenhum deles morava no local. Há a suspeita de que traficantes de outras localidades e de facções rivais tenham coordenado o ataque.
A polícia veio e a gente parou de ouvir os tiros. Acredito que esse grupo tenha vindo pela mata, que cerca o morro. Eles se esconderam quando a polícia veio e assim que perceberam que eles saíram, voltaram a atacar. Aqui está um inferno, diz um morador, que prefere não se identificar.
Quem cresceu no local conta que a situação tem ficado cada dia mais complicada, por conta das constantes disputas pelo tráfico da região.
Já foi um lugar tranquilo para morar, mas hoje todo mundo está descendo e indo morar em outro bairro. Eles entram na casa não só de quem é traficante, mas de quem tem parentesco com eles. É muito difícil. A gente quer mais segurança, nossos filhos já crescem acostumados a ir para debaixo da cama quando ouvem tiros. Tivemos que mudar o quarto de lugar por medo de bala perdida, afirma uma mãe.
As pessoas que moram na Piedade e voltam do trabalho a noite também enfrentam dificuldades para entrar em casa. Quem também estuda neste horário revela que os bandidos andam armados na rua e ameaçam quem estiver passando, independente de atuar no tráfico ou não.
Eu estava vindo para casa a noite e vi um homem gritando para parar. Eu preferi não arriscar e voltei para o Centro. Fui dormir na casa da minha namorada. Quem trabalha a noite, só volta no dia seguinte. Eles atiram sem nem querer saber se é bandido ou trabalhador, conta.
FESTA JUNINA FOI DESMARCADA APÓS CRIME
Uma festa junina que estava programada para acontecer neste domingo, às 18h, na quadra da escola de samba da Piedade foi desmarcada por conta do homicídio. Segundo uma publicação nas redes sociais, a bateria da escola estava ansiosa para voltar aos trabalhos, mas o crime deixou todos de luto.
Um dos membros da bateria da Piedade e coordenador do Círculo Palmarino, uma organização de combate ao racismo, Lula Rocha afirma que a comunidade está abandonada e pede mais presença do Estado na região.
Desde a morte dos irmãos Ruan e Damião a gente percebe a intensificação deste conflito em Vitória e a Piedade é onde essa guerra está mais acirrada. Nenhuma medida por parte do Estado foi tomada, não dá para continuar aceitando que mais jovens negros sejam mortos. Falta investimento em programas sociais, já que até coisas de primeira necessidade não chegam lá, como vacinas e coleta de lixo. Também falta uma apuração mais adequada dos crimes que acontecem nestes territórios. Ninguém revelou quem matou Ruan e Damião. Se fosse na área nobre da cidade, com certeza esses autores já teriam sido identificados, analisa.
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