Um biomédico de 39 anos foi indiciado pela Polícia Civil por crimes como lesão corporal gravíssima e estelionato após clientes atendidas na clínica dele, na Enseada do Suá, em Vitória, ficarem com rostos deformados em decorrência de problemas nos procedimentos estéticos realizados pelo profissional. O homem é administrador do estabelecimento e responsável pela realização das cirurgias plásticas. Ao menos sete pessoas já prestaram depoimento contra os serviços prestados por ele. O nome do biomédico não foi divulgado, mas A Gazeta apurou que trata-se de Ricardo Corteletti.
Segundo a Polícia Civil, uma das pacientes que depuseram contra o profissional chegou a pagar a quantia de R$ 20 mil para realizar dois procedimentos estéticos na clínica. Apesar do indiciamento, a corporação informou que ele não foi preso e a local segue funcionando normalmente, mas sem a participação dele.
A Polícia Civil disse que o biomédico estava com o registro suspenso desde o mês de maio. Em seis meses, até novembro, quando foi alvo de operação policial, ele realizou aproximadamente 600 atendimentos ou procedimentos. Entre as vítimas estão sete pacientes que relatam problemas nos serviços do estabelecimento. A corporação avalia que, com a divulgação das informações, podem aparecer novas denúncias.
O mandado de busca e apreensão contra o biomédico foi cumprido no dia 27 de novembro, mas as informações sobre o caso foram divulgadas somente em coletiva de imprensa nesta terça-feira (10). Além da Polícia Civil e do Conselho Regional de Biomedicina, houve integração com a Vigilância Sanitária de Vitória. Após o início da investigação, o profissional foi proibido de atuar e a clínica chegou a ter duas salas interditadas pela Vigilância Sanitária, mas teve o funcionamento total retomado após serem feitas adequações.
A Polícia Civil ressaltou que foram provocadas lesões de natureza grave em pacientes, ou seja, com dano irreversível. Conforme o titular do 3º Distrito Policial de Vitória, delegado Diego Bermond, o biomédico usava ferramentas, como a rede social, para exibir profissionalismo e atrair mais clientes.
A investigação começou depois que a primeira vítima procurou a Polícia Civil. A mulher relatou ter procurado a clínica para fazer dois procedimentos: lifting e blefaroplastia. Os dois procedimentos custaram juntos R$ 20 mil. Segundo Diego Bermond, a vítima ficou com o "rosto caído, nódulos e cicatrizes grosseiras e aparentes".
O lifting é um procedimento estético que tem como objetivo melhorar a aparência do rosto, reduzindo rugas, flacidez e outros sinais de envelhecimento
A blefaroplastia é um procedimento cirúrgico realizado nas pálpebras. O objetivo é remover excesso de pele, gordura ou músculo da região, melhorando a aparência ou corrigindo detalhes que afetam a visão.
Os procedimentos em questão foram realizados pelo biomédico, que não tinha habilitação para prestar os serviços. Por este motivo, após a apuração da Polícia Civil, o biomédico foi indiciado por lesão corporal gravíssima, exercício ilegal de medicina e por estelionato. Outra profissional também foi indiciada, mas a corporação não deu mais detalhes. A Polícia Civil não descarta que outros funcionários da clínica possam ter participação, o que pode ocasionar em novos indiciamentos.
Perguntado sobre a possibilidade de prisão, o delegado Diego Bermond considerou que a legislação brasileira não permite que o biomédico responda em regime fechado. “A princípio, não há aplicação da lei, considerando que ele não está comparecendo à clínica ou foragido. Ele não foi preso porque não temos elementos necessários para uma prisão preventiva", disse.
Segundo a Gerente da vigilância sanitária de Vitória, Viviani Barreto, há registros de atuação do profissional na clínica desde 2020. Depois que duas salas foram interditadas, a clínica fez adequações e voltou a funcionar totalmente. Viviani Barreto explica que o biomédico alvo da PC não pode realizar procedimentos estéticos.
A Polícia Civil promete continuar investigando o biomédico e deve continuar ouvindo vítimas que se queixem de serviços prestados pela clínica.
A TV Gazeta conversou com um advogado de duas vítimas que procuraram a delegacia após verificarem problemas nos procedimentos estéticos. Amarildo Santos afirmou que as clientes entraram em depressão em decorrência dos erros causados pelo biomédico.
"Uma das clientes passou pela UTI em duas situações, teve infecção e hematomas. Lesões corporais foram sofridas. Elas entraram em estado depressivo. Os procedimentos geraram problemas diversos", disse o advogado.
A reportagem de A Gazeta procurou a defesa do biomédico alvo de operação da Polícia Civil. Em nota assinada pela Juk Cattani Sociedade de Advogados, a defesa afirma que o biomédico trabalha "dentro dos limites" e que não há processo com trânsito em julgado contra ele.
Informamos que o profissional investigado sempre trabalhou dentro dos limites de sua profissão, tendo uma clínica multidisciplinar na qual outros profissionais atuam e realizam procedimentos de suas competências.
Não há nenhum processo transitado em julgado ou sequer com sentença que comprove atuação ilegal do profissional, que age com boa-fé e probidade, obedecendo ao código de ética de sua profissão.
Convém destacar, ainda, que foi arquivado recentemente processo relativo ao exercício profissional por não haver nenhuma prova de qualquer atuação ilegal.
Juk Cattani Sociedade de Advogados
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