Morto durante ação policial em Vitória, o jovem Weliton da Silva Dias, de 24 anos, estaria armado com uma submetralhadora e teria fugido ao avistar os policiais na noite do último sábado (2) – esta é a versão narrada no boletim de ocorrência feito na Primeira Delegacia Regional pelos policiais envolvidos no caso.
De acordo com o registro, o patrulhamento estava na Rua Apóstolo São Paulo, um "local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida", quando um indivíduo foi avistado portando "armamento em bandoleira" – espécie de correia que serve para transportar a arma no ombro ou a tiracolo.
Naquele momento, o suspeito teria ido em direção a um beco. No acompanhamento, um dos policiais – identificado como Sandro Frigini – "visualizou o indivíduo fazendo movimento que levava a crer que atiraria contra o militar", que, com o objetivo de se proteger, efetuou dois disparos.
Imagens feitas na Rua Quatro de Janeiro, popularmente conhecida como "Beco da Sorte", mostram essa parte da abordagem. No vídeo, o Weliton não parece oferecer qualquer tipo de resistência e está com as mãos levantadas, atrás da cabeça, quando recebe os dois tiros, ambos na região do peitoral.
"Como o indivíduo caiu no chão, foi possível se aproximar do agressor a fim de recolher o armamento que estava em posse dele." Nessa hora, o boletim de ocorrência diz que o policial "percebeu que a arma estava em bandoleira, sendo necessário cortá-la para retirar a arma do infrator".
Ou seja, o registro traz dois momentos em que o militar teria percebido que o suspeito estava armado e usando uma bandoleira: uma no início da abordagem e outra depois dos disparos. O socorro ao Weliton Dias da Silva também teria sido prestado por um "grupo de pessoas", levando-o ao Pronto Atendimento de São Pedro.
Também participou da ocorrência o soldado Victor Fagundes de Oliveira, que teria ido à viatura para solicitar apoio e socorro para o jovem de 24 anos. Durante esse trajeto, no entanto, "um grupo de traficantes da 'Gangue do Zé Pretinho'" foi em direção a ele, "colocando em risco a sua integridade física".
Como essas pessoas não teriam atendido ao pedido de afastamento feito pelo militar e uma delas ainda teria tentado segurar a arma do policial, "foi estritamente necessário o uso da arma de fogo a fim de cessar a injusta agressão". Um indivíduo acabou ferido com um tiro na perna.
A vítima desse disparo foi um barbeiro de 23 anos. Em entrevista à TV Gazeta, ele contou que tentou se aproximar do local em que Weliton foi ferido e que o policial tentou dar uma coronhada nele. "Eu tirei a mão dele, perguntei se ele estava doido e ele me deu um tiro. Ele mirou, foi na minha frente", afirmou.
Depois do disparo, o grupo de criminosos teria se dispersado, segundo o boletim. "Na região, é comum que grupos de pessoas ligadas ao tráfico de entorpecentes interfiram na ação policial, exatamente o que aconteceu na data de hoje (sábado), o que impossibilitou o socorro dos infratores por parte da Polícia Militar."
Ainda segundo consta no registro oficial da ocorrência, o jovem Weliton da Silva Dias "é conhecido pela guarnição e apontado por populares como sendo um dos chefes do tráfico de entorpecentes do local, com várias passagens no sistema prisional capixaba e com extensa ficha criminal".
Conforme divulgado anteriormente pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes mencionados estão: porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de drogas.
Já na parte final do boletim, é citado que "após a ocorrência, um grupo de criminosos da 'Gangue do Zé Pretinho' incendiou um ônibus do Sistema Transcol". Por outro lado, moradores do bairro São José afirmaram que o incêndio foi uma forma de protesto, pela forma como Weliton foi morto.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) informou que a empresa responsável está apurando o caso e que, segundo informações preliminares, o coletivo tinha acabado de sair da garagem, por volta das 20h, quando suspeitos ordenaram o motorista a descer e atearam fogo.
Secretário estadual de Segurança Pública, o coronel Márcio Celante afirmou que os policiais envolvidos na ocorrência foram preventivamente afastados das operações nas ruas e as armas usadas por eles, recolhidas. Um inquérito policial militar também foi instaurado e tem prazo de 60 dias para ser concluído.
Em entrevista à TV Gazeta na manhã desta segunda-feira (4), o secretário também adiantou que o cabo Sandro Frigini e o soldado Victor Fagundes de Oliveira devem ser ouvidos ainda nesta tarde, com o objetivo de obter mais detalhes sobre o que aconteceu e esclarecer dúvidas iniciais.
Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".
A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".
A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.
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