"Tiraram o meu chão, sinto como se tivesse sido apunhalada, Luísa era minha única filha", lamentou a mãe de Luísa Lopes, modelo e universitária morta em um acidente de trânsito na última sexta-feira (15). A professora Adriani Luísa da Silva, de 54 anos, acredita que a corretora de imóveis Adriana Felisberto, investigada por suspeita de ter atropelado a jovem, seja, de fato, a responsável pela tragédia. A defesa a motorista, no entanto, afirma que um outro veículo teria participado do acidente e arremessado a ciclista contra o carro dela. A versão não foi confirmada pela Polícia Civil.
Para a mãe da modelo, a sensação no momento é de impunidade. “Tenho sentimento de indignação com relação ao que está acontecendo, dessa mulher que aparece visivelmente embriagada em vídeos estar livre e impune. Para mim, ela assumiu a responsabilidade de matar alguém. Minha filha não está aqui mais, tantos sonhos que ela tinha. Ela era da luta, uma pessoa crítica, estudante, batalhadora, com sonhos de ir estudar fora do país. Tiraram o meu chão, sinto como se tivesse sido apunhalada, Luísa era minha única filha”, iniciou.
A professora também afirmou à reportagem de A Gazeta que espera que seja revista a decisão de deixar a principal suspeita solta. “Que seja feita justiça por ela e por outras famílias, mesmo em futuras situações. Assassinos precisam estar presos, em especial quando assumem um volante após beber. Beber e dirigir é como pegar uma arma e atirar para todo lado. A carona da motorista diz no vídeo que ela tinha consumido álcool, então ela poderia ter matado alguém e realmente matou. Foi logo a minha filha”, disse.
Segundo a mãe da jovem, as principais memórias que ela tem são do sorriso e da alegria que a filha espalhava por onde passava. Adriani contou que é separada do pai biológico da modelo, mas mantém com um bom relacionamento com o ex-marido, e disse que Luísa sempre foi a felicidade de ambos lares.
“Ela era polivalente, fazia muitas coisas. Era ativa em movimentos sociais, fazia freelance em lanchonete em dias alternados, tinha uma carreira de modelo e de passista, porque amava o samba e a dança. Era estudiosa, elogiada pelos professores, sonhava em fazer mestrado e doutorado. Sempre foi de correr atrás e estava juntando um dinheiro. Mas tudo isso foi interrompido”, lamentou a professora.
Emocionada durante a entrevista, Adriani garantiu que “coração partido é uma dor que só mãe sente”. Entre os últimos feitos de Luísa, ela destacou a conquista da faixa verde no Kickboxing, duas semanas antes do acidente. “Ela estava muito feliz, chegou a ficar emocionada e chorar. O mestre no esporte elogiou a disciplina dela. Além de tudo, minha filha era muito justa, por isso clamo por justiça. Sei que se fosse outra pessoa no lugar dela, ela estaria no movimento por justiça”, afirmou.
Por fim, a mãe da modelo e universitária ainda agradeceu pela rede de apoio que tem se formado e fortalecido, e convidou a sociedade para comparecer ao ato que será realizado nesta terça-feira (19), na avenida Dante Michelini, onde o acidente aconteceu.
“Vitória não está preparada para os ciclistas e isso precisa se transformar logo. Essa rede de apoio e solidariedade pode prevenir novas ocorrências, pressionando as autoridades públicas para se adequarem a essa situação e melhorem o trânsito para pedestres, ciclistas, para o próprio motorista e para entenderem que direção e álcool não combinam. Nada traz de volta minha filha”, concluiu.
À reportagem da TV Gazeta, o advogado Jamilson Monteiro, que faz a defesa da corretora de imóveis Adriana Felisberto, disse que as informações que existem até o momento são as mesmas colhidas na lavratura do flagrante. “Depoimento dos policiais militares e a percepção da perícia da Polícia Civil realizada naquele momento, mas ainda não foi confeccionado o laudo”, disse.
Jamilson Monteiro ressaltou ainda que não conversou com a cliente sobre os fatos, para preservá-la psicologicamente. “A defesa acredita que a situação dela nos vídeos veiculados na imprensa e nas mídias sociais também é o estado de choque, então ela não respondia claramente por seus atos, e deveria ter sido conduzida para o hospital para ser medicada”, afirmou o advogado.
Sobre a participação de um segundo carro, o advogado informou que a defesa vai buscar informações sobre o modelo, cor e placa do veículo com testemunhas.
Luísa Lopes, de 24 anos, atravessava na faixa de pedestres com a bicicleta quando foi atingida por um carro. A princípio, os relatos davam conta que o atropelamento havia sido causado pela corretora Adriana Felisberto, mas há, agora, informações que indicam a possibilidade de outro motorista ter atropelado a modelo e universitária. No impacto, ela teria tido o corpo arremessado contra o carro dirigido por Adriana.
Segundo militares que atenderam a ocorrência, a motorista tinha sinais claros de embriaguez, mas se negou a fazer o bafômetro. Ela foi detida e levada à delegacia, onde teve a prisão em flagrante decretada por embriaguez ao volante. Ao final da tarde deste sábado (16), a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) informou que ela havia sido encaminhada ao Centro Prisional Feminino de Cariacica.
Com o forte impacto do corpo de Luísa no carro de Adriana, a ciclista ainda foi arrastada por muitos metros. A bicicleta da modelo ficou destruída após o acidente. O veículo que a atingiu também foi danificado.
Policiais militares que atenderam a ocorrência acreditam que o veículo estava em alta velocidade quando atingiu a jovem. Uma segunda mulher, que seria irmã da motorista, também estava no carro, conforme apuração da TV Gazeta.
Elas informaram à Polícia Militar que voltavam de um bar. Adriana negou ter ingerido bebida alcoólica porque, segundo a mesma, usa medicamento para depressão. Entretanto, segundo os militares, havia claros sinais de embriaguez. Foi-lhe oferecido o teste do bafômetro, mas a corretora se recusou a fazer, e atribuiu a fala arrastada e embolada à medicação que faz uso.
Em nota enviada à reportagem de A Gazeta, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana (Semsu), de Vitória, informou que a Polícia Civil fez a solicitação das imagens de videomonitoramento do local na manhã desta segunda-feira (18) e o material foi separado para ser entregue e contribuir com a investigação. “A perícia já esteve na Central Integrada de Operações e Monitoramento para ter acesso a todas as imagens que colaborem com o trabalho de apuração”, informou.
A Polícia Civil destacou que o caso seguiu para investigação da Delegacia de Delitos de Trânsito (DDT), que realiza diligências para apurar todos os fatos atrelados ao acidente e, inclusive, na manhã desta segunda-feira (18), "solicitou o circuito de videomonitoramento da região para a Prefeitura Municipal de Vitória, com objetivo de identificar se houve a captura da imagem, ou não", destacou.
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