Faz mais de sete meses que a família da estudante Ramona Bergamini Toledo tem que conviver com a dor de ter perdido a jovem, que morreu atropelada aos 19 anos. Enquanto isso, o motorista Wilker Wailant autuado em flagrante por homicídio culposo qualificado, por dirigir embriagado está solto e ainda não foi acusado.
No início de março, ele até chegou a ter a prisão preventiva decretada. Entretanto, no dia 24 daquele mês, o Habeas Corpus feito pela defesa foi aceito liminarmente pela ministra Laurita Vaz, do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Relatora do caso, ela foi acompanhada pela Sexta Turma e a decisão se tornou definitiva em 19 de maio.
Desde então, pouca coisa evoluiu no andamento do processo junto ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), que ainda nem recebeu a denúncia do Ministério Público Estadual (MPES) contra o suspeito. O que, por sua vez, está dependendo de complementos do Inquérito Policial, por parte da Polícia Civil (PC).
De acordo com o TJES, o que existe na Justiça é somente uma comunicação de prisão em flagrante. Já o MPES explicou que um promotor de Justiça entendeu que o crime é doloso (intencional) e o remeteu ao Tribunal de Júri, no dia 22 de abril. Nessa data, o suspeito já estava solto e, por isso, "o caso não se encontrava entre os que deveriam ser analisados em regime de plantão extraordinário".
O Ministério Público Estadual, então, pediu que fossem realizados novos trabalhos de investigação "indispensáveis para a coleta de mais provas dos fatos".
A Polícia Civil informou que "as diligências complementares estão em andamento na Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito". Quando finalizadas, o inquérito será novamente devolvido ao MPES, que poderá oferecer a denúncia.
Conforme informado pela própria PC, o inquérito policial foi concluído em 13 de março nove dias depois do crime e indiciou Wilker Wailant por homicídio e tentativa de homicídio, ambos por dolo eventual. Vale lembrar que o motorista também atingiu o veículo de uma segunda vítima, que sobreviveu.
Ainda em maio, o juiz Douglas Demoner Figueiredo, da Quarta Vara Criminal de Vila Velha, atendeu ao pedido da defesa: que Wilker Wailant pudesse deixar a cidade da Grande Vitória para ir à casa dos pais, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, já que ele teria tido o contrato de trabalho rescindido.
Já no final de junho, o suspeito recebeu uma nova proposta de emprego, o que resultou em mais uma solicitação por parte do advogado. Após apresentar informações sobre a futura empresa e documentos, Wilker Wailant foi autorizado pela Justiça, no dia 3 de julho, a trabalhar fora do Espírito Santo.
Para a liberação, o juiz considerou a crise causada pela Covid-19 e possíveis indenizações. "Um dos efeitos da pandemia foi reduzir os empregos e a recolocação profissional (...) Ao retomar atividade lucrativa, o autuado poderá melhor suprir a pretensão dos herdeiros/dependentes da vítima, caso reconhecida sua responsabilidade", defendeu.
Ainda assim, os sentimentos que têm sido carregados pela família de Ramona Bergamini Toledo são apenas dois: dor e injustiça. "Sei que ele mudou de endereço e que está trabalhando. A Justiça parece que anda só para ele; mas para mim, não", desabafou a mãe da jovem, Kelly Bergamini.
Segundo ela, a sensação que fica é a do abuso. "É como se ele disesse: 'eu posso beber, eu posso matar, eu posso continuar a minha vida'. Enquanto isso, eu continuo nesse inferno em vida. Ele nunca assumiu o erro, nem emitiu uma nota ou tentou se justificar. Nunca nos deu qualquer apoio", reclamou.
Ainda muito abalada pela perda da filha, Kelly tem procurado ajuda médica e já fez uso de remédios para ajudar a lidar com a situação, de tanto sofrimento. "Só tem piorado com o tempo. Já me perdi na rua, tenho medo da noite. Fecho o olho e vem o acidente na cabeça, a ida ao IML, o velório. Não sei o que é dormir até hoje", revelou.
Por meio de nota, o advogado Ludgero Liberato, que defende Wilker Wailant, afirmou que o "cliente ficou muito abalado com o ocorrido e não manteve contato com a família de Ramona até o presente momento, pois, por orientação jurídica, entendeu-se adequado esperar toda a produção da prova, para evitar qualquer alegação de que o acusado tenha interesse em impedir o esclarecimentos dos fatos".
A defesa também confirmou que o cliente "após perder o emprego, buscou novas atividades no interior do Estado, mediante prévia autorização judicial". Sobre Wilker Wailant admitir ser culpado ou ter dirigido sob a influência de álcool, o advogado afirmou apenas que ele "dará sua versão dos fatos em juízo".
O acidente aconteceu na noite de 4 de março deste ano, na Avenida Carlos Lindenberg, na altura do bairro Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha. De acordo com o registrado pela Guarda Municipal de Trânsito, Wilker invadiu a contramão da via e atingiu a moto em que estava a jovem. A universitária voltava do trabalho e aguardava a abertura de um semáforo.
De acordo com pessoas que estiveram no local, a batida teria acontecido por volta das 23h30 da quarta-feira (4). Além da motocicleta em que Ramona estava, um carro popular e um ônibus do sistema Transcol também foram atingidos. Os ocupantes do coletivo não se feriram, mas a motorista do subcompacto chegou a ser socorrida para um hospital de Vila Velha.
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