O ano mal começou e já tivemos, no Espírito Santo, vários casos de violência contra crianças que chamaram a atenção: no último sábado (8), um bebê de 11 meses foi agredido com chutes pela própria mãe em Vila Velha. Três dias antes, um menino de três anos foi levado já morto para um Pronto Atendimento em Cariacica, com hematomas e sinais de estupro. A unidade de saúde é a mesma onde Davy Lucas Cândido Rodrigues Pedrosa, de quatro anos, foi deixado já sem vida pelo padrasto, após ser drogado e abusado sexualmente.
Esses são alguns dos muitos casos que estamparam as notícias policiais nos últimos meses. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), 24 casos de ocorrências de lesão corporal contra crianças de até 12 anos foram registrados no Espírito Santo, em janeiro deste ano.
Ao todo, em 2024, foram 366 registros — em um deles, inclusive, a criança morreu após as lesões corporais. Em 2023, o número foi maior: 435 casos no Estado. Confira, abaixo, alguns desses episódios.
Uma mulher de 28 anos foi presa em flagrante no último sábado (8) após agredir o filho de 11 meses com chutes, no bairro Ataíde, em Vila Velha. As agressões foram registradas em vídeo, feito pela própria mãe, que enviou as imagens ao ex-companheiro, com quem não aceitava o fim do relacionamento.
O vídeo mostra a criança sendo chutada e jogada no chão, quase batendo a cabeça. A Polícia Militar foi acionada após o pai receber o material e a criança, com hematomas, foi levada ao hospital. Na delegacia, a mãe foi autuada por tortura.
Um menino de três anos deu entrada já morto no Pronto Atendimento (PA) de Alto Lage, em Cariacica, no último dia 5. Segundo os médicos, a criança apresentava vários hematomas pelo corpo e sinais de violência sexual. Quem levou o garoto para lá foi o namorado do tio dele, que cuidava do pequeno. Ele e o companheiro foram presos e autuados em flagrante por homicídio e estupro de vulnerável.
Na casa onde o menino morava, os policiais encontraram um colchão no chão, um notebook e um tripé, o que levantou a suspeita de que o homem poderia estar gravando os supostos abusos. O tio da criança tinha a guarda do garoto após os pais dele, que são da Bahia, perderem o direito por terem envolvimento com o tráfico de drogas.
Fernando Nelson Neves Nascimento, de 37 anos, foi preso em Vitória no dia 1º de fevereiro deste ano suspeito de matar o próprio filho, Bernardo Souza Nascimento, de 6 anos. O corpo do menino foi encontrado no dia 30 de janeiro em um apartamento no bairro Jabaeté, em Vila Velha, onde Fernando morava.
O suspeito havia passado o dia com o filho e, no final da tarde, entrou em contato com outros filhos, ameaçando-os e confessando o crime, antes de desaparecer. A família suspeita que Bernardo tenha sido envenenado, pois não apresentava lesões, mas estava com espuma nos lábios e os braços e pernas cruzados em cima da cama.
Um menino de apenas 10 anos morreu, no dia 12 de dezembro de 2024, após dar entrada no hospital com uma vértebra da coluna quebrada. De acordo com familiares, Luiz Fernando de Souza Verli foi agredido na hora do recreio dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Eunice Pereira Silveira, em Novo Horizonte, Ibatiba, no Sul do Estado, três dias antes. Os parentes desconfiam que bullying tenha motivado a violência.
Davy Lucas Cândido Rodrigues Pedrosa, de quatro anos, foi deixado morto no Pronto Atendimento (PA) de Alto Lage, em Cariacica, no dia 17 de setembro de 2024. Exames revelaram que ele tinha derivado de cocaína no sangue, além de ter sido vítima de violência sexual. A mãe, Thais Cândido, e o padrasto, Fábio dos Santos Silva, foram presos e indiciados por homicídio, tentativa de homicídio, tráfico de drogas e outros crimes.
O padrasto havia levado o menino ao PA alegando convulsões, mas fugiu em seguida. Durante as investigações, a polícia descobriu que Thais estava envolvida no tráfico de drogas, assim como o companheiro, e que a criança sofreu agressões físicas antes da morte. A causa do óbito foi anemia aguda causada por laceração do fígado.
Uma bebê de três meses morreu no Hospital Infantil de Vitória após ser levada ao pronto-socorro com desnutrição, deformidade craniana, hematoma no olho e mordidas pelo corpo. O caso ocorreu no dia 19 de setembro de 2024, na Serra, e o pai da criança foi preso por maus-tratos, enquanto a mãe, uma adolescente, também foi responsabilizada.
A bebê foi inicialmente levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Castelândia, e, devido à gravidade do estado de saúde, foi transferida para Vitória. Durante o atendimento, a mãe deu versões contraditórias sobre as causas das agressões, mencionando o pai, ela mesma e até um primo de 8 anos.
Uma técnica em Enfermagem, de 31 anos, foi presa em Cariacica no dia 30 de julho de 2024 após ser investigada por torturar um bebê de dois meses. A mulher, que trabalhava na UTI pediátrica de um hospital e na residência da família, foi denunciada pela mãe da criança, que notou hematomas e ouviu choros estranhos à noite.
A investigação revelou que a técnica agredia o bebê com tapas, socos, tentava sufocá-lo e administrava medicamentos em doses excessivas. A casa onde a criança morava tinha câmeras de segurança, que flagraram as agressões, apesar de a mulher ficar de costas para os equipamentos durante os crimes.
Paloma Fernandes, de seis anos, foi espancada até a morte dentro de casa no bairro Novo Brasil, em Cariacica, em 18 de junho do ano passado. A mãe dela também ficou gravemente ferida e ficou internada no hospital. O suspeito do crime era o pai da menina e marido da mulher, Oseas Marciel Soares, de 48 anos.
A Justiça chegou a expedir um mandado de prisão temporária dois dias após o crime, mas Oseas foi encontrado morto no dia 21 de junho, numa área de mata do bairro onde morava. A mãe da menina ficou internada durante 22 dias e recebeu alta em julho. A recuperação dela foi considerada um verdadeiro milagre.
Uma bebê de um ano e quatro meses foi agredida pelo padrasto e ficou em coma por conta dos ferimentos, no dia 13 de junho de 2024, na Serra. Ela foi levada ao hospital com múltiplas fraturas na cabeça e outras lesões pelo corpo. O padrasto, que estava cuidando da menina enquanto a mãe trabalhava, alegou inicialmente que a criança se engasgou, mas depois mudou sua versão, dizendo que ela caiu de uma cama.
No entanto, exames médicos desmentiram essa história, pois a lesão na cabeça não condizia com uma queda. A investigação revelou que as agressões à criança eram frequentes, e a mãe foi indiciada por omissão, por não perceber as lesões. O padrasto foi preso e indiciado por tortura e tentativa de homicídio.
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