Celina fez os cabelos, as unhas e escolheu a melhor roupa para o primeiro dia de emprego em um supermercado de Vila Velha. Nervosa e animada, mandou mensagem para a família contando cada detalhe da nova conquista: estava empregada, com carteira assinada pela primeira vez e começaria a trabalhar nesta segunda-feira (15). Mas o primeiro dia de trabalho tão esperado não aconteceu. Neste dia, Celina foi enterrada, aos 25 anos, após ser espancada até a morte pelo marido dentro de casa.
O crime, que chocou pela crueldade, aconteceu na noite da última sexta-feira (12), em Rio Marinho, Cariacica, dentro da casa em que Celina Conceição Braz, 25, dividia com o marido, o pedreiro Rodrigo Costa da Silva, de 32 anos. Na ocasião, a Polícia Civil informou que a vítima foi morta pelo marido durante um espancamento. Ele foi localizado pelo dono do imóvel na manhã de sábado (13), ao lado do corpo, e foi preso ao tentar se esconder no quintal de uma vizinha.
Ainda muito abalada, Quetzia Eloá Braz, irmã da vítima, contou que não sabe de muitos detalhes do início da relação de Celina e Rodrigo porque o casal morava na Bahia e ela já estava em Vitória quando tudo começou. Os dois estavam juntos há cerca de dois anos, entre idas e vindas.
Mas de acordo com Quetzia, quando visitou o estado baiano e conheceu Rodrigo, percebeu que as pessoas não gostavam do rapaz na região, porém, não contavam os motivos. Foi quando Celina disse à irmã que todo mundo tem o direito de mudar e que o pedreiro merecia mais uma chance.
Quetzia conta que nos cinco meses que a irmã esteva com o marido no Espírito Santo, presenciou apenas uma briga. Depois, tentou aconselhar. No entanto, ela acredita que por violência psicológica, dependência financeira e medo, Celina nunca contou aos familiares o que sofria com o marido.
Preocupada, Quetzia falou para Celina que não queria mais falar com Rodrigo. Depois disso, a vítima foi ficando mais distante da irmã e nunca mais contou sobre possíveis agressões e brigas para nenhum familiar.
"Ela sempre dizia que estava tudo bem quando eu ia falar alguma coisa dele. Acho que por medo, por sofrer ameaças, por não ter emprego, pelas coisas que ele falava... E ela acreditava mesmo que ele ia mudar. Dizia que o sonho dele era ter uma família. Quando eu disse a ela que não queria mais falar com ele, ela se afastou de mim. Ela escondia tudo de mim. Escondia da mãe dela. Mas depois eu soube pelos vizinhos que eram brigas constantes", lembra.
Natural de Ilhéus, na Bahia, e mãe durante a adolescência, Celina precisou começar a trabalhar cedo para tentar dar o melhor para a filha, hoje com 11 anos. Com o sonho de pagar uma escola particular para a menina, que mora com a bisavó no estado baiano, a jovem veio para o Espírito Santo há cinco meses em busca de um emprego.
"Em Ilhéus, emprego é muito difícil. Ela já tentou outras vezes emprego no Espírito Santo. Não tinha medo de trabalhar, aceitava tudo, entregava panfleto, trabalhou em restaurante... Já fez de tudo por um único sonho: queria trabalhar para ajudar nossa vó a criar a filha dela, queria pagar uma escola particular para a menina e levá-las para Vitória também. Ela sonhava em ser feliz, ter um lar, cuidar da filha e da vó, ela tinha um coração imenso", diz.
Apesar de trabalhar desde cedo, Celina só conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada há poucos dias. Animada e nervosa, ela contou a novidade em mensagens no grupo da família no dia da entrevista e enviou uma foto com a roupa que escolheu, na última segunda-feira (08): "Tá feio? Fala, gente. Será que de tênis fica melhor? É um treme treme que dá ódio em mim mesma. Tá me dando dor de barriga. Tá quase na hora. Cheguei agora".
No fim do mesmo dia, comemorou enviando a mensagem: "Passei".
"Ela estava muito nervosa e ficou super feliz em passar. Abriu conta no nome dela, fez os exames e ia trabalhar na área dos frios de um supermercado. Quando ela viu que ia ganhar um salário mínimo ficou toda boba, perguntando: 'É sério que eu vou ganhar mais de mil reais? Mentira!' Ela fez uma lista do que ia fazer com o primeiro salário, disse que ia enviar dinheiro para a filha e que ia me dar um presente, porque fui eu que consegui o emprego. Fez cabelo, unha e estava animada. Ela era tão sorridente e iluminada", lembra a irmã.
Apesar da família de Celina não ter informações sobre as violências, Quetzia afirma que após a morte vizinhos contaram que as agressões eram constantes. No dia da morte, inclusive, moradores da região afirmaram que Celina gritou por cerca de duas horas.
Após o crime, Quetzia encontrou com Rodrigo na delegacia. Ela conta que o rapaz pediu perdão para ela e para a mãe de Celina pelo crime que cometeu.
"Mas não perdoamos. Ele foi frio. Depois de matar minha irmã ainda saiu e pediu um cigarro para um vizinho. Passou a noite ao lado do corpo. Ele não tinha nada e minha irmã estava sempre ao lado dele. Até aquele fogão que ficou todo sujo de sangue foi minha família que deu, poucas semanas antes. Agora eu só quero justiça. Não consigo dormir, comer e parece que não vou suportar tanta dor. Mas eu vou lutar até o fim para por justiça, para alertar outras mulheres e para alertar outros vizinhos que escutam agressões. Espero poder ajudar outras vítimas", lamentou.
O corpo de Celina foi enterrado nesta segunda-feira (15), em Ilhéus, na Bahia. O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).
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