A chacina em Vila Valério em que quatro pessoas da mesma família foram mortas foi praticada por um grupo ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção do país, com sede em São Paulo. O crime aconteceu no Córrego Flor de Maio, em Vila Valério, no Noroeste do Espírito Santo, em 24 de fevereiro de 2022.
A informação foi passada pela delegada Gabriella Zaché dos Santos, titular da Delegacia de Policia (DP) de Jaguaré. Isso porque a equipe dela, com apoio da PM, prendeu um dos cabeças da "Tropa do Rato", grupo criminoso que atuava em Jaguaré e Vila Valério, na quinta-feira (23).
O suspeito preso é Magno de Souza Pinto, conhecido como "Guigui", que respondia diretamente a um chefão do tráfico que já está preso e dava as ordens diretamente da cadeia. Esse líder, que não teve o nome divulgado pela polícia (para não atrapalhar investigações que seguem em andamento), é integrante do PCC.
Ao longo de três anos, a Tropa do Rato cometeu pelo menos 18 homicídios em Jaguaré e Vila Valério. Dentre eles, a chacina que vitimou a família.
Segundo as investigações chefiadas pelo delegado Rafael Caliman, o alvo dos atiradores era Vinicius Silva Pinto, de 25 anos. O motivo é que ele estaria "incomodando" o grupo do tráfico de Jaguaré.
Vinicius estava na casa da namorada, a adolescente Karine Flegler, de 15 anos. Ela, a mãe Clauzira Flegler, 41, e o irmão Leandro Flegler, 22, também acabaram mortos. "Ele era o alvo. A família foi morta porque estava no lugar errado e na hora errada", reforçou o delegado Caliman.
Na manhã do dia 24 de fevereiro, vizinhos contaram que viram quando quatro homens chegaram em duas motos. Em seguida, disparos foram ouvidos. Os corpos da mãe e do filho ficaram caídos na plantação de pimenta, a cerca de 30 metros da casa. Eles teriam tentado fugir, mas não conseguiram. Os outros dois corpos, da filha e do namorado, estavam dentro da residência, no quarto.
Já na época do crime, a polícia informou acreditar que a chacina teria relação com o tráfico de drogas porque Vinicius, ainda segundo os investigadores, tinha envolvimento com este crime na região. Ele já teria sido preso em Minas Gerais. O jovem morava na casa da namorada havia cinco meses.
A família ainda se recuperava de outra tragédia. Três meses antes outro filho da Clauzira, Alan Junior Flegler, de 19 anos, foi assassinado em Jaguaré. Segundo a PC, o jovem também tinha envolvimento com o tráfico de drogas.
Dois suspeitos do crime foram mortos em confronto com a polícia e outros dois foram presos ao longo das investigações. O último capturado foi Izac da Silva Santos, no dia 29 de março de 2022. Ele estava escondido dentro de uma casa em uma região de mata e foi necessário montar um cerco para pegá-lo.
De dentro da cadeia, um integrante do PCC no Espírito Santo enviava mensagens para seus "imediatos" no Norte do Estado. Nos bilhetes, havia ordens para execuções e ataques. Assim se sustentava o esquema criminoso: em três anos foram 18 vítimas, só em Jaguaré e Vila Valério.
De acordo com a polícia, o integrante do grupo já está atrás das grades, mas não para de mandar. Por bilhetes, ele dita as ordens entregues a seus "frentes", responsáveis por executá-las. A reportagem insistiu na divulgação do nome, já que o preso está encarcerado sob mandado de prisão, mas a polícia não divulgou, alegando que poderia atrapalhar nas investigações, que seguem em andamento.
Magno de Souza Pinto, conhecido como "Guigui", era o "frente" em Jaguaré e Vila Valério. Ele foi preso nesta quinta (23), enquanto se escondia numa casa em Aracruz. Chefiando o grupo chamado "Tropa do Rato", ele era o homem de confiança do integrante do PCC preso.
No dia 1º de março deste ano, uma operação em Jaguaré acabou em troca de tiros entre o primo de Magno e policiais civis. Na ocasião, o primo, identificado como Jhon Myke da Silva Mariano, foi morto. Ele estava com arma, munição e drogas.
Desde a morte do primo de Magno, a Tropa do Rato planejava se vingar dos policiais civis envolvidos na ação. Prova disso foi um bilhete interceptado no presídio em que o chefão do grupo está preso, dando ordens para que os agentes fossem mortos.
Apesar de não citar especificamente os nomes dos policiais, a liderança do grupo ordenava que uma retaliação fosse feita.
Segundo a polícia, os crimes praticados pela Tropa do Rato, ligada ao PCC, eram sempre muito violentos. Bem armados, o grupo não tinha pena de gastar munição. Eles deixavam as vítimas cheias de perfurações, principalmente na cabeça.
"Os integrantes da Tropa do Rato praticavam crimes de homicídio contra pessoas do próprio grupo e de grupos rivais na cidade (Jaguaré). Além disso, cinco integrantes vieram a óbito em confronto contra a polícia na região. O grupo é altamente violento, armado, inclusive já apreendemos anteriormente a pessoa que vendia armas para o grupo. Eles sempre matavam as vítimas com a mesma característica: muitos tiros no rosto. Eram extremamente cruéis", pontuou a delegada Gabriella.
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